Demonstrando preocupação com a pandemia de Covid-19 e, ao mesmo tempo, buscando ser otimista, o prefeito de Curitiba, Rafael Greca, está participando diariamente de transmissões em vídeo para divulgar o número de casos na cidade e para apresentar medidas que tentam minimizar os impactos sociais decorrentes do novo coronavírus. As medidas mais recentes incluem a contratação de 50 médicos e 10 enfermeiros até 9 de abril, um serviço de videoconsulta, que é liberado após o paciente passar por uma triagem telefônica, e um teleatendimento com ajuda psicológica. Na quinta-feira (26), antes de fazer esses anúncios, ele conversou por telefone com a Gazeta do Povo. Um dos temas foi o aniversário de Curitiba – no domingo, 29, a cidade celebra seus 327 anos. Confira a entrevista:
Neste ano o aniversário de Curitiba acontece em meio a muitas preocupações e pesar em relação ao novo coronavírus, em contraste com as grandes celebrações que marcavam a data. Como a prefeitura está encarando este momento?
Tínhamos preparado um amplo programa de comemoração nas dez ruas da Cidadania, com uma temporada de concertos de música clássica e popular em lugares distintos da cidade. Havia apresentações diversas. Já tínhamos preparado a encenação para o Passeio Público, em que os imigrantes chegariam de barco enquanto os índios e portugueses estariam a postos na ilha do lago. Mas quis Deus que o aniversário de Curitiba deste ano fosse no coração dos curitibanos. Vamos marcar uma única celebração, ao meio-dia de domingo, 29 de março, todas as igrejas que possuem torre vão repicar festivamente os sinos por 10 a 15 minutos. O arcebispo Dom Peruzzo e os pastores das principais denominações religiosas vão prescrever aos seus fiéis uma oração do Pai Nosso, que é comum a todos os cristãos, para que Deus contemple a cidade com um tempo de cura. Também convidei os curitibanos a abrir janelas de suas casas, cantarem o hino da cidade comigo e me mandarem vídeos pela internet para compormos uma festa de aniversário virtual.
Como está sendo a interlocução com a sociedade? Como as empresas estão ajudando?
Estamos tendo o melhor relacionamento possível. Acabo de vir do FabLab do Cajuru, onde as startups Maha e Prin2D, trabalho de três piás e um consultor contra infecções, um cirurgião dentista, montaram com todo o equipamento de prototipagem da prefeitura que tirei dos Faróis do Saber e Liceus uma fábrica de máscara escudo, produção que vai de 200 a 300 máscaras por dia. Os insumos são doados pela iniciativa privada. O tempo dessas pessoas é gratuito para os cofres públicos. A empresa Peróxidos do Brasil doou uma batelada, que significa uma grande quantidade de peróxido de hidrogênio, são 27 mil litros, com o qual estamos fazendo assepsia urbana. Outra empresa, que vende hipoclorito de sódio, a Hidramax, doou 14 mil mitros. Estaremos lavando todas as superfícies de metal de todos os lugares onde haja possibilidade de contágio. Temos também o Boticário, que deixou de fazer perfumes e fez 5 mil litros de álcool gel.
E como está a articulação com outras frentes, sejam cidadãos ou outras instituições?
As igrejas todas colaboraram, sem imposição aderiram à suspensão do culto, todas da arquidiocese, a Luterana, e as centenas de templos da Assembleia de Deus. O desembargador Adalberto Xisto Pereira doou valores de até R$ 50 milhões [recursos arrecadados com o cumprimento da pena de prestação pecuniária] ao Fundo Estadual de Saúde, um exemplo para outras instâncias. Criamos uma Central do Voluntariado, com uma rede grande de pessoas, isso é muito louvável. Aposentados da prefeitura que voltaram a trabalhar, para falar com pessoas ao telefone. Vamos abrir no Parque Barigui uma central, que darei o nome de TelePaz. As organizações que já atuam com isso, como Mãos Sem Fronteiras, voluntários de valorização da vida, aqueles ligados ao Congresso da Felicidade. Pastores, espíritas, padres, várias pessoas estarão usando uma central com 30 linhas telefônicas para um número que vamos anunciar para dar conforto para as pessoas. Só quem não ajuda é um cretino que vou processar. Uma pessoa dizendo que Curitiba já teve milhares de mortos pela Covid-19. Ele será interpelado judicialmente, porque fake news é crime. Não se trata de censurar, se trata de chamar de cretino um cretino.
Em nível nacional, há economistas defendendo a adoção de um regime econômico de guerra, em que fábricas são convocadas para produzir insumos importantes para o governo combater o inimigo, no caso agora, o vírus. Em nível municipal, o que pode ser feito nesse sentido?
O decreto de situação de emergência e outros que assinei me possibilitam requisitar estoques, insumos e até entrar dentro das empresas. Mas procuro fazer tudo pela parceria, pela consciência dos empresários, pelo voluntariado social. Os decretos recomendam algumas ações, sem medidas compulsórias, pois entendo que a verdadeira prevenção começa na consciência e coração de cada empresário.
O sr. descartou a ideia de construir um hospital de campanha em estádio, medida apoiada pelas instituições de saúde do Paraná. Mas há um plano B caso o número de casos cresça de forma alarmante e sejam necessários mais leitos?
O plano de contingência avaliado pela Organização Mundial de Saúde, que tem como sua segunda executiva a Mariângela Batista Galvão Simão, que foi funcionária minha quando fui prefeito da outra vez, é plenamente satisfatório. Sempre que possível, converso com o ministro Luiz Henrique Mandetta [Saúde], que diz que não nos faltará nada. O SUS é meritório, extraordinário, e nosso ministro é formidável. É muito triste ver o noticiário dos Estados Unidos, mas é até bom para imaginar a cara de uma parcela da elite que vivia falando mal do Brasil e dizendo que ia se mudar para Miami. Os nossos profissionais de saúde são formidáveis. Estou admitindo 50 médicos e 10 enfermeiras sênior para o SUS curitibano, e anunciarei mais coisas.
Neste isolamento, o sr. está tendo a oportunidade de ouvir relatos de como os curitibanos estão enfrentando o isolamento? As dificuldades que as famílias encontram e o medo de que os índices de criminalidade aumentem, com ruas vazias e população carente sem acesso a alimentos?
Acompanho tudo que está acontecendo. Sou um internauta que não para. Tenho ido dormir às 2h, acordo às 6h, porque são muitas as preocupações. Temos mil leitos de UTI e 6 mil leitos hospitalares. Estamos abrindo centros de atendimento para pacientes de Covid-19 em estruturas hospitalares já existentes. Isso é muito mais inteligente do que fazer estádio de campanha que é bonito para ver na televisão, mas complexo de executar. A criminalidade não está prosperando, a polícia está na rua, os moradores de rua vão ser recolhidos para albergues. Se precisar vão ser isolados e uma boa parte voltará para suas casas. Na semana que passou deixaram Curitiba cerca de 500 pessoas com passagens custeadas pela FAS [Fundação de Ação Social]. Em breve as bruxas do Bosque Alemão vão estar em vídeos contando histórias, teremos muitas atividades para crianças, há vídeos de ginástica da prefeitura no YouTube. Vamos tentar viver dentro das condições que temos. Para quem se mostra muito aflito, recomendo que faça uma oração, que é um caminho muito bom quando nos empurram para além do que nossa força parece aguentar.
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