O arsenal de armas da Companhia de Choque do 5º Batalhão da Polícia Militar em Londrina está sendo reforçado com 20 submetralhadoras calibre 9mm, sem que o poder público tenha gasto um centavo. A conta foi paga pelo Grupo Araucária, uma "ação entre amigos" de empresários paranaenses iniciada no final de 2020. Outras necessidades também estão na mira desses anjos da segurança pública: simultaneamente à compra das submetralhadoras, foram doadas duas cadeiras de rodas para o posto central de atendimento do Instituto de Identificação do Paraná, em Curitiba.
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Marlon Bientinezi, um dos “sete malucos” – como ele mesmo define as pessoas que fundaram o Grupo Araucária – à frente do projeto, explicou à Gazeta do Povo como surgiu a ideia. Segundo ele, iniciativas deste tipo são comuns em outros países, e até mesmo em outros estados do Brasil.
“Somos um grupo de sete malucos, dois coronéis e uma tenente do Exército Brasileiro, um médico do Siate e três empresários. Todos são atiradores, e nesse contexto acabamos treinando bastante com o pessoal da polícia. Houve uma solicitação de amigos sobre a necessidade de carregadores para fuzil. Isso em 2020. Em função do bom relacionamento que um desses coronéis tem com uma fabricante de armas foi feita a solicitação desses equipamentos”, explicou.
A experiência deu certo e o grupo resolveu se organizar formalmente, com direito a CNPJ e auditoria constante nas contas. Uma vez feito o contato por parte das forças de segurança é criado um projeto específico para aquela finalidade. “Se não fosse assim, poderia ocorrer de alguém do interior do estado fazer uma doação querendo melhorias para a segurança da sua própria região e esse dinheiro acabar sendo usado em alguma compra direcionada para Curitiba. Por isso fazemos esses projetos direcionados, tudo de forma transparente. A conta começa zerada e termina zerada, com todo o dinheiro investido naquilo que os doadores escolheram”, garante Bientinezi.
Fuzis doados foram para ação imediata pelo grupo Tigre
Um dos beneficiados pelo projeto foi o Grupo Tigre da Polícia Civil do Paraná, que recebeu seis fuzis T4 no início de maio. De acordo com o delegado coordenador do grupo, Cristiano Quintas, a demanda era tão urgente que o armamento já foi colocado em uso assim que chegou à unidade.
“O Tigre precisava de armas de grosso calibre por conta das demandas que vêm ocorrendo no Paraná. São situações em que bandidos chegam em grandes grupos e dominam as pequenas cidades, chamadas de ‘novo cangaço’. Nós atuamos em todo o estado e temos operações na região de fronteira com o Paraguai, estamos com a Operação Hórus já há mais de um ano e meio, e em todas essas atividades há a demanda por armamentos mais pesados, como os fuzis. As armas já chegaram todas adaptadas para o nosso serviço. Vieram todas brasonadas conforme o nosso pedido, identificadas como sendo de uso da Polícia Civil do Paraná, e assim que chegaram já foram colocadas em serviço. Tem fuzis empregados pelos nossos operacionais lá na fronteira e outros ajudando nas nossas diligências em Curitiba e todo o Estado”, comentou.
Como funciona?
A partir do momento em que é definido o órgão ou entidade que vai receber a doação, o grupo inicia a arrecadação de recursos. Quanto a meta estipulada é atingida, formaliza-se um contrato de doação entre o grupo e a entidade. “O grupo faz um contrato de doação para a [Secretaria Estadual de] Segurança Pública, tudo devidamente assinado por todos, doadores e donatários. Na sequência, esse contrato é encaminhado para a empresa fornecedora dos equipamentos para saber que houve essa contratação e essa doação, e é aí que a compra é efetivada. Se forem armas, o fabricante, de posse desse contrato, já vai saber que o destinatário é integrante das forças de segurança pública. Isso é importante porque as armas que são usadas pela polícia têm que ter algumas padronizações, como o número de registro e o brasão da corporação estampados na arma”, explicou o delegado Cristiano Quintas.
Desse momento em diante começa um outro processo – interno – para os devidos registros dos equipamentos junto ao patrimônio do estado. “Nós entramos em contato com a Divisão de Infraestrutura (DIE) da Polícia Civil e fazemos a comunicação oficial da doação, que vamos receber tantas armas quanto constarem no contrato. Além da DIE nós também damos entrada dos papéis junto à Delegacia de Explosivos, Armas e Munições (DEAM). A DEAM providencia o registro dessas armas junto ao Exército Brasileiro, e isso é necessário porque é uma doação feita à uma instituição de segurança pública. É um procedimento bastante burocrático, mas é necessário. É feito nessas três vias, o contrato de doação, o registro e regularização no Exército junto à DEAM e a inserção no patrimônio do estado por meio da DIE”, detalhou Quintas.
À fornecedora cabe executar o contrato de acordo com as padronizações e exigências de cada donatário. Assim que o pedido fica pronto, as armas são enviadas e passam por um rigoroso processo de inspeção. “Quando tudo estiver conferido, damos um retorno ao fabricante informando sobre a conformidade do contrato”, disse o delegado. Com a conclusão dos outros trâmites internos, as armas ou outros equipamentos recebidos em doação já passam oficialmente a fazer parte do patrimônio do estado e podem ser utilizadas.
Segundo Bientinezi, tanto as forças de segurança quanto aqueles interessados em doar dinheiro para o Grupo Araucária podem fazer contato pelas redes sociais. Desde o processo de doação até a entrega dos equipamentos, explica o empresário, é feita uma auditoria como forma de garantir a transparência da compra.
“O processo de compra do Estado é complexo. Da maneira como nós compramos não há todo esse processo licitatório. Tudo é feito de forma muito mais rápida, mas também tudo dentro da lei. É uma força-tarefa de pessoas de bem se organizando para dar celeridade a esse processo”, detalhou o empresário, garantindo que o estatuto do grupo veda qualquer vinculação político-partidária de seus membros.
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