O Brasil tem seguido numa escalada para a consolidação do cooperativismo. O movimento tem o ano de 1995, com a consolidação do Plano Real, como ponto de impulso decisivo para resultados que foram sendo construídos e que agora resultam em faturamento de R$ 600 bilhões ao ano. Em cinco anos, a previsão é que as cooperativas brasileiras alcancem o primeiro trilhão, no período de 12 meses.
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O raio-x do setor, evidenciado no World Cooperative Monitor (WCM) (na tradução literal, Monitor Cooperativo Mundial), mostra o Brasil como o segundo país das Américas com as nove maiores cooperativas do planeta em faturamento. Estados Unidos tem 22.
Em faturamento do PIB per capita, o Brasil tem 22 cooperativas listadas, atrás dos Estados Unidos, com 38. No contexto global, o Brasil aparece como o quarto país no ranking, empatado com o Japão. A primeira é a França, com 42 sociedades cooperativas entre as top 300.
O sistema cooperativista nacional vem ocupando espaços relevantes na prestação de serviços, no atendimento à saúde, no cultivo, no processamento, na industrialização e no ramo crédito. O gigante Sistema Unimed, que nasceu em 1967 no município de Santos (SP), aparece na liderança mundial da categoria saúde, educação e trabalho social.
O protagonismo do agro está diretamente atrelado aos resultados do Paraná, onde o segmento, bastante consolidado, responde por quase um terço do faturamento de todas as cooperativas brasileiras.
Paraná tem 11 cooperativas entre as maiores do mundo
Ligadas ao agronegócio, são 11 as empresas paranaenses que se tornaram referência mundial, por uma série de motivos: seja por faturamento, pelo número de cooperados ou pela movimentação em comparação à renda per capita.
A gigante Coamo aparece em sétimo lugar entre as mais bem colocadas no setor agricultura em faturamento per capita. Já a C.Vale está listada como 183º no indicador maiores organizações cooperativas e mutualistas do mundo em termos de faturamento (receita total) expresso em dólares. A cooperativa também ocupa o 41º lugar mundial quando o assunto é o faturamento per capita.
A Cooperativa Lar está na posição 199ª das maiores organizações cooperativas e mutualistas do mundo em faturamento. A Cocamar está na 73ª em faturamento per capita, a Copacol aparece em 83ª colocação no mesmo ranking e a Agrária na posição de número 108, seguida por Integrada em 114, Castrolanda em 115, Frimesa em 119, Frísia em 139 e Coopavel em 147.
Gigantes em consolidação
Pela relação, é possível analisar que o cooperativismo paranaense "vai muito bem, obrigado", conforme avalia o gerente de Desenvolvimento Técnico do Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná), Flavio Turra. No ano passado, o cooperativismo paranaense faturou R$ 186 bilhões, sendo que 85% deste volume vieram do agro, seguido em 10% pelo ramo crédito, 4% em saúde e 1% nas cooperativas diversas, de outras áreas.
O planejamento estratégico da Ocepar tinha por meta atingir R$ 200 bilhões em faturamento, que deve ser concretizada neste ano, considerando um crescimento médio anual na casa dos 20%. “Já estamos com o nosso novo planejamento estratégico sendo debatido e, até o fim do ano, será finalizado. Não sabemos ainda se a nossa nova meta será de R$ 300 bi, de R$ 400 bi, mas o objetivo é dobrar o faturamento a cada quatro ou cinco anos”, prospecta Turra.
Apesar de as perspectivas de movimentação econômica, neste ano, estarem um pouco abaixo do esperado, em decorrência da queda nos preços das commodities e da valorização do real frente ao dólar - que interfere nas exportações, os resultados devem ser comemorados.
Com inspiração em modelos europeus nos segmentos do agro e para o crédito, o avanço e conquista de espaço, tanto no mercado interno quanto externo, exigem investimentos que, neste ano, chegam a R$ 6,5 bilhões para ampliações ou construção de novas plantas, reestruturação e modernização das existentes ou, ainda, projetos de infraestrutura. Porém, a maioria está com o pé no freio, por conta dos juros elevados na contratação do crédito. Esse é um dos principais motivos pelos quais o período é de cautela e a recomendação tem sido de aguardar para decisão de novos e grandes projetos.
“Quem está fazendo é porque estava programado e não tinha como adiar, mas a contratação do crédito nesses juros não é viável e então, hoje, um dos nossos principais entraves para estimular ainda mais o crescimento está neste campo”, considerou Turra.
A cada quatro paranaenses, um está ligado às cooperativas
Proporcionalmente, o Paraná figura como um dos estados com números mais expressivos de cooperados no país. Um em cada quatro moradores das 399 cidades paranaenses está ligado a um sistema associativista. Dados do Sistema Ocepar apontam para 3,1 milhões de pessoas inseridas em cooperativas (a população total do estado é de 11,4 milhões, segundo o censo do IBGE de 2022).
Grande parte desses cooperados, 2,8 milhões, está ligada às cooperativas de crédito. “Comecei no cooperativismo no setor de laticínios, nos anos 2000, porque não tinha como vender o leite nem produzir queijo com a nossa produção. Depois cooperei para a entrega do milho e da soja; mais tarde veio a cooperativa de crédito. É um caminho sem volta e de prosperidade”, avalia a produtora Janete Martins, que tem um sítio no município de Palotina, no oeste do Paraná.
Para o economista especialista em análise de mercado Rui São Pedro, é inconcebível pensar no desenvolvimento econômico e social do Paraná sem as cooperativas. “Se levarmos isso para as regiões do estado, como pensaríamos no oeste sem as cooperativas gigantes do agro? Elas fazem as cidades mais ricas e a economia nestes locais giram em torno delas”, destaca.
Para o economista, essa regra vale tanto para municípios menores, como Palotina (município com 32 mil habitantes, onde está a sede da C.Vale) e Cafelândia (18,5 mil habitantes e que abriga a Copacol), quanto para Cascavel, que é o quinto maior município do Paraná, com 348 mil habitantes e onde está a Coopavel.
Falta de profissionais e juros elevados são desafios para cooperativas manterem crescimento
A região oeste do Paraná, próxima à fronteira com o Paraguai, concentra cinco das dez maiores cooperativas agrícolas do Brasil, segundo a Organização das Cooperativas do Brasil (OCB). Entre elas está a Frimesa, com sede no município de Medianeira. O maior player do mercado suíno do Paraná e o quinto maior do Brasil, que no ano passado faturou R$ 5,5 bilhões, tem investido pesado na ampliação de suas capacidades.
O CEO da Frimesa, Elias Zydek lembra que a nova planta construída em Assis Chateaubriand, já em operação, vai abater 1,5 mil suínos por dia, quando operar com capacidade plena. A projeção para isso é para dois ou três anos, consolidando a estrutura como o maior frigorífico do segmento da América Latina.
“Vivemos um entrave para nossa plena expansão, que é a falta de profissionais. Não temos quem contratar. Até o fim do ano preciso de mil novos colaboradores só para essa indústria. Temos 500 postos de trabalho abertos que não conseguimos preencher. Esse é um dos principais fatores de preocupação e que travam o avanço, ao lado de juros elevados que desestimulam os investimentos”, alerta.
Assim como Zydek, as demais cooperativas do agro enfrentam o mesmo percalço no Paraná. De contraponto, para Flávio Turra, do Sistema Ocepar, existe um lado positivo a ser observado. “Se considerarmos o contexto regional, isso significa que essas regiões vivem uma condição de quase pleno emprego por conta de tantas oportunidades. Por outro lado, existem as indústrias que sofrem com a falta destes profissionais e os desafios de onde encontrá-los”, destaca.
Capacidade de estocagem de grãos fica próxima do limite
O Paraná é o segundo maior produtor nacional de grãos, com estimativa de produção, no ciclo 2022/2023, de pouco mais de 47 milhões de toneladas. O cálculo é do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento. O Brasil deverá ter uma safra de 317,6 milhões de toneladas.
No estado, há capacidade estática de armazenamento para 32 milhões de toneladas de grãos. Flávio Turra lembra que 17 milhões são de silos e armazéns instalados em ou por cooperativas. Mais de 7 milhões deles somente da gigante Coamo, com sede em Campo Mourão. “Mesmo assim, em alguns momentos, a capacidade de estocagem quase não dá conta de receber tantos grãos. Precisamos de silos improvisados, como vimos neste ano, quando cerca de 500 mil toneladas foram guardadas em armazéns-bolsa ou mesmo em piscinas improvisadas”, pontua o diretor comercial da cooperativa, Rogério Trannin.
Para Turra, esses são pontos de atenção nos planos de expansão das cooperativas: a falta de recursos para construção de armazéns e ampliação da capacidade de estocagem. Isso porque as cooperativas do estado são responsáveis pelo recebimento de 65% dos grãos produzidos no Paraná. Quando o assunto é a agregação de valor, elas também são referência, porque respondem por cerca de 45% da produção de proteína animal paranaense e exportam para mais de 150 países.
“São grandes e importantes empresas regionais, inseridas em comunidades, gerando emprego, renda, e alimentando o mundo. Há algumas décadas, não poderíamos imaginar a força do cooperativismo que existe hoje no Paraná e que se tornou uma referência para o mundo. Afinal, olha quantas das nossas cooperativas estão entre as maiores do planeta. Isso é um orgulho e resultado de muito trabalho, de empenho e dedicação”, considera Flavio Turra.
Para o gerente do Sistema Ocepar, as cooperativas ganharam a proporção atual porque representam pequenos e médios produtores, como a Janete Martins que, sozinhos, não teriam condições de negociar seus produtos com o mercado, de fazer a industrialização nem de chegar a consumidores mundo afora. “As cooperativas uniram pessoas e se transformaram no que são graças a essas pessoas. A economia do Paraná só é o que é graças às cooperativas. O reconhecimento é observado quando os ótimos desempenhos são vistos em um contexto global”, completa.
WCM analisa o desempenho econômico das cooperativas mundo afora
O World Cooperative Monitor analisa e divulga informações sobre o desempenho econômico das cooperativas em todo o mundo. O relatório é produzido anualmente pela Aliança Cooperativa Internacional (ACI), em parceria com outras organizações.
O levantamento destaca as principais cooperativas e organizações mutualistas com base na receita total, revelando tamanho e importância dessas entidades no cenário econômico global. Segundo os organizadores do levantamento, o faturamento é um indicador relevante para avaliar o desempenho econômico das cooperativas, pois reflete a magnitude das operações comerciais conduzidas, oferecendo insights sobre a dimensão e o alcance no contexto internacional, com uma visão geral do impacto econômico que elas têm em suas respectivas áreas de atuação.
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