As medidas de enfrentamento à pandemia de Covid-19, que trouxeram consequências econômicas graves para diversos setores da indústria, comércio e serviços também prejudicaram, financeiramente, os hospitais. Apesar de estar em amplo funcionamento e de ser o mais essencial dos serviços em tempos de pandemia, as instituições de saúde também tiveram significativa queda de ocupação e, por consequência, de faturamento, por conta de medidas como o cancelamento de consultas e procedimentos eletivos (casos sem urgência) e a resistência dos cidadãos em procurar um hospital neste momento, por medo do contágio por coronavírus. O Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná estima uma queda de 50% na ocupação dos hospitais do Estado e uma redução de arrecadação nas mesmas proporções.
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“Apenas metade dos 28 mil leitos que dispomos no Paraná estão ocupados hoje, causando prejuízo e dívidas para as instituições. O atendimento clínico também sofreu alteração. Mais de 60% dos atendimentos foram cancelados em abril”, cita o presidente do sindicato, Flaviano Feu Ventorim. “Os hospitais investiram para se preparar para atender Covid-19, investiram na aquisição de instrumentos, de materiais de higiene, de equipamentos de proteção individual. E o preço de tudo isso disparou com o aumento da procura. Então, todos os hospitais tiveram um considerável aumento de gastos e vêm sofrendo com uma forte queda na arrecadação”, acrescenta, citando que a procura por hospitais hoje, seja para atendimentos de casos de coronavírus ou não, está concentrada em intervenções clínicas, cuja tabela de remuneração é mais baixa.
Ventorim cita que os hospitais filantrópicos ainda conseguem compensar um pouco da queda de faturamento com campanhas de arrecadação, tanto de recursos financeiros como de materiais hospitalares, mas os hospitais não filantrópicos e que não atendem ao Sistema Único de Saúde (SUS), estão vivendo uma crise inédita. “Hospitais filantrópicos estão acostumados a viver em crise permanente, os demais não. Além disso, no SUS, conseguimos a lei federal que garantiu a remuneração dos procedimentos com base na média dos meses anteriores e não com o que for executado durante a pandemia. O problema está no atendimento de convênio, que não adotou essa prática e está praticamente estagnado”, diz o presidente do sindicato, que ainda pede ao poder público isenção do Imposto sobre Serviço (ISS) e isenção das taxas de água e luz para diminuir o prejuízo. “Hospitais não podem entrar nos programas federais de suspensão de contrato ou de redução de jornada. Precisamos de assistência 24 horas por dia. A folha de pagamento representa 45% do nosso custo fixo. A única medida seria o fechamento de alas, com a redução dos quadros em até 30%”, conclui.
Pequeno Príncipe
A suspensão de procedimentos eletivos e a redução de pacientes de convênios já fez o Hospital Pequeno Príncipe rever seu plano financeiro para o ano e aumentar a previsão de prejuízo entre R$ 15 milhões e R$ 20 milhões. “Já operamos com R$ 30 milhões de prejuízo por ano, que são compensados com campanhas de arrecadação (principalmente as de renúncia fiscal) e ações do nosso instituto. Para esse ano, a projeção já é de R$ 45 milhões a R$ 50 milhões”, reconhece o diretor executivo do Complexo Pequeno Príncipe, José Álvaro Carneiro. “Nosso perfil de atendimento é de 60% SUS e 40% convênio, mas 66% da nossa arrecadação vêm desses atendimentos de convênio. E foi aí que sofremos. A receita do SUS está se mantendo, mas dos R$ 11,5 milhões esperados de convênios em abril, recebemos R$ 5 milhões. Para maio, a tendência é de uma diminuição ainda maior. A reação pode começar em junho, com as famílias voltando a procurar o hospital para situações que não podem esperar mais que dois meses, os casos de urgência relativa”, revela.
Lembrando que o hospital tem um perfil cirúrgico, o diretor cita que todas as estruturas foram mantidas funcionando integralmente para poder atender a qualquer situação que viesse a ocorrer. “Criamos protocolo de cirurgias seguras durante a pandemia. Estamos num esforço gigantesco para não ter que demitir nenhum colaborador. Se eu tiver que perder funcionário agora, estarei sufocado no futuro. Nossa mão de obra é extremamente qualificada e somos dependentes dela. Tudo que a gente treinou e já fez com esse pessoal, seria perdido, para ter que, no futuro, preparar um funcionário novo”, comenta. “Assim, nossas equipes de captação estão enlouquecidas, buscando toda e qualquer forma de apoio dos nossos doadores fieis e de novos doadores”.
Santa Casa busca R$ 1,5 milhão em doações
Quem também apostou na solidariedade como principal ferramenta para enfrentar a crise financeira causada pela pandemia foi a Santa Casa de Curitiba. O Hospital lançou, em abril, uma campanha para arrecadar R$ 1,5 milhão para a aquisição de equipamentos hospitalares e de proteção aos trabalhadores da saúde, materiais médicos, insumos, além de custear despesas extras com quadro de profissionais. Na última atualização do painel de doações, em 21 de maio, já havia sido arrecado R$ 956 mil.
“A Santa Casa tem hoje 38 leitos de UTI dos quais a maioria são destinados a pacientes cirúrgicos. Nosso objetivo é a abertura de mais dez. Estamos correndo contra o tempo para equipar mais leitos, não só para suportar pacientes contaminados pelo novo coronavírus, mas principalmente para acolher pacientes de outras especialidades que poderão vir transferidos de outros hospitais, UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) e por meio do Siate. Afinal, o corona é mais uma moléstia, mas continuaremos atendendo nefrologia, cardiologia, transplantes, entre outras 20 especialidades”, comenta o diretor clínico do Hospital, Eduardo Bistratini Otoni.
Além da Santa Casa e do Hospital Pequeno Príncipe, dezenas de outros hospitais paranaenses estão com campanhas de arrecadação em andamento. Veja como ajudar.
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