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"O comercial e a ideologia movem isso tudo", alerta médico sobre o debate científico
“O comercial e a ideologia movem isso tudo”, alerta médico sobre o debate científico| Foto: Divulgação/CCM Group

A aprovação de leis para fornecimento público de medicamentos à base de canabidiol (CBD) e tetrahidrocanabidiol (THC), as decisões judiciais favoráveis aos pacientes e o forte “lobby” comercial para uso das substâncias derivadas da maconha formam um cenário que contradiz as evidências científicas sobre o uso medicinal da cannabis, com comprovação em casos restritos. Apesar do alto custo, o canabidiol se tornou uma “moda” farmacêutica utilizada até em quadros de ansiedade, sendo que outras substâncias possuem mais eficácia e comprovação científica nos tratamentos.

Na avaliação do coordenador do Setor de Distúrbios do Movimento e Neurologia Comportamental do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) de Ribeirão Preto, o médico Vitor Tumas, o debate sobre o uso dos derivados da cannabis nos tratamentos é influenciado por dois fatores, além das questões científicas e de saúde.

De acordo com ele, a indústria farmacêutica “joga pesado” na propaganda para uso dos medicamentos, que foram liberados no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e ainda recebem o “reforço” político de correntes ideológicas que levantam a bandeira da descriminalização das drogas.

"Assim, o argumento é que a droga não seria algo ruim. Ou seja, (o debate) tem relação com a política ideológica. Então, o comercial e a ideologia movem isso tudo".

De acordo com ele, quem quer liberar a droga não olha nada de evidências e diz que a maconha melhora a vida das pessoas. "Do outro lado, quem é totalmente contra a usar qualquer coisa da cannabis porque é uma droga proibida. Isso também não faz nenhum sentido”, avalia o pesquisador, que foi moderador da mesa redonda “Cannabis medicinal: uma visão internacional sobre seu papel no tratamento de distúrbios neurológicos e psiquiátricos”, durante o Congresso Brasileiro “Brain, Behavior and Emotions”, realizado em Florianópolis (SC) no mês de junho.

Tumas também esclarece que o uso recreativo da maconha não tem nenhuma relação com o debate científico sobre o uso medicinal da cannabis e precisa ser separado das discussões para não ser um “argumento na tentativa de tirar a mística que é uma substância perigosa”.

Ele ressalta que as evidências científicas apontam a eficácia do canabidiol no tratamento de epilepsia, o uso de extratos da cannabis para dores e náuseas, especialmente em pacientes com câncer terminal, além de pequena melhora em quadros de rigidez e dor por esclerose múltipla com espasticidade na combinação de THC e CBD. “No caso da epilepsia, apenas para algumas formas infantis muito específicas. Não é para qualquer tipo de epilepsia. Mesmo assim, é introduzida como uma droga a mais e não, exclusivamente”, acrescentou.

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