Assim como em nível nacional, a indústria paranaense está praticamente parada por conta da epidemia do coronavírus, desde o setor automotivo aos produtos manufaturados, passando pelo metalmecânico e pelos segmentos moveleiro e madeireiro, que dependem da exportação.
"A situação é de expectativa angustiante. A indústria precisa do comércio para dar vazão à produção", diz o presidente da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), Carlos Valter Martins Pedro. "Agora temos duas preocupações: a preservação do negócio para a preservação do emprego. Preservando isso nos próximos 90 dias, temos a expectativa de que o mercado comece a agir e a economia a se recuperar, lenta e gradualmente", avalia.
O empresário torce para que, em até duas semanas, as fábricas voltem a funcionar, pelo menos parcialmente e garantindo a segurança dos trabalhadores. "A indústria do Paraná é forte, é diversificada, tem uma boa tecnificação. Temos uma situação de produção com custos bastantes bons e isso é uma coisa que queremos preservar", afirma Martins Pedro.
O agronegócio resiste
Um dos poucos setores que resiste, pelo menos por enquanto, aos danos econômicos do coronavírus é o agronegócio. Com as feiras municipais fechadas ou funcionando de forma reduzida, a exceção é para os produtores de hortifruti. O setor lácteo também passa por algumas dificuldades, de acordo com Flávio Turra, gerente técnico e econômico da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar).
"A situação é muito próxima da normalidade no geral, sobretudo nas grandes produções do estado, como grãos e proteína animal. Se prolongar muito [o isolamento] podemos ter algum problema: muita gente sem receber leva à redução do consumo e do preço no mercado interno", avalia o especialista. "O que a gente está imaginando é que tenha volta seletiva e gradual ao trabalho e ao comércio em dois meses", afirma.
Segundo José Luiz Tejon Megido, professor da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), o campo não parou, mas o setor assistirá em 2020 a uma diminuição dos negócios no "pós-porteira" das fazendas. "Estamos colhendo a maior safra de grãos da história. Somos os maiores produtores do mundo de laranja e inicia agora a colheita do café. Temos também a cana de açúcar. O campo, ‘o antes da porteira’, seguirá firme em sua produção", avalia.
O especialista prevê um crescimento do cooperativismo e de investimentos em apoio aos produtores rurais. "Vamos ver um fortalecimento da ciência e tecnologia, do antes da porteira, com suporte e apoio aos micros e pequenos produtores mundiais. A retomada do pós-porteira deve ocorrer em 2021", estima.
Safra e exportação de frango em alta
O Paraná tem a expectativa de colher em 2020 a segunda maior safra de grãos (soja e milho) de sua história, além de estar acompanhando a voracidade do mercado chinês impulsionar as exportações de frango. Até mesmo a carne suína, quase toda consumida no Brasil, tem se saído muito bem.
O baixo impacto da crise sanitária e econômica no campo, pelo menos até o momento, tem explicação em uma série de fatores. O dólar alto torna o mercado brasileiro muito atrativo aos compradores estrangeiros. Não apenas: a peste suína africana – uma doença agressiva e que tem acometido animais na China, África e Europa – estendeu o tapete para que a carne brasileira ganhasse mercado em todos estes locais. Melhor para os paranaenses, que produzem aves e suínos e viram o consumo mundial destes itens aumentar.
Nos números da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), os embarques de carne de frango somaram 1,02 milhão de toneladas de janeiro a março (alta de 8,8% em relação ao ano passado). O Paraná é o maior produtor do mundo. Quanto aos suínos, outra categoria em que o estado se destaca, a alta nas exportações foi de 8,8% (208 mil toneladas). Nas estimativas do CarneTec Brasil, que é um portal especializado em proteínas, somente em março, mês em que a pandemia se intensificou no mundo, as exportações de frango subiram 2,1% e as de carne de porco, 31,5%. Embora os custos de produção tenham se elevado, foram em porcentuais bem menores, na casa de 1%.
Da mesma forma, a expectativa é de uma produção histórica de grãos. O Paraná deve retirar do campo 20 milhões de toneladas de soja – um recorde. Se somada à estimativa de produção do inverno, com milho safrinha, o total de grãos deve bater 41,2 milhões de toneladas, nas contas do Departamento de Economia Rural (Deral), um braço da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab). É o segundo maior registro da história.
Problemas no longo prazo
Mas se o ano corrente sequer sente a marola de um cenário turbulento, a projeção para 2021 é cheia de incertezas e com um tom, por vezes, pessimista para algumas culturas.
O cenário mais preocupante é justamente o da soja. Se a atual safra já está majoritariamente comercializada, a colheita de 2021 deve enfrentar um mercado extremamente competitivo – muito mais do que tem sido 2020. Após acordo comercial com a China, os Estados Unidos projetam estender sua área plantada em até 25%. Muito afetado pelo coronavírus, é provável que o país norte-americano intensifique sua parcela de soja enviada aos asiáticos já neste segundo semestre para segurar a conta dos produtores locais.
“O problema é que a China é também nosso maior mercado. Se ela comprar mais soja norte-americana no fim de 2020, quando termina a safra deles, sobra pouco espaço para a brasileira, a ser colhida no primeiro semestre de 2021”, avalia o analista de mercados Adílson de Biasi.
Preocupa ainda a produtividade nas lavouras brasileiras na próxima safra. Muitos agricultores correm o risco de ficar sem adubos e fertilizantes, segundo avaliação recente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep). Isso porque praticamente todos esses produtos são importados – no Brasil, a Petrobras, que atuava na área, tem feito desinvestimentos no setor. A produção pode ser assegurada caso os estoques deem conta. Em 2019, aproveitando preços baixos no mercado internacional, muitos produtores formaram estoque. Foram 28,1 milhões de toneladas em 2019 somente de adubos.
Joga a favor da soja brasileira, no entanto, os preços. Com o dólar alto, o mercado brasileiro pode se destacar neste cenário mais competitivo.
Para os suínos, o medo é de que o consumo caia por conta de uma iminente retração da economia. Como 80% da produção brasileira fica no país, isso afetaria diretamente a indústria. Por outro lado, China e Europa tendem a continuar comprando do país, já que casos de peste suína africana continuam a afetar rebanhos internacionais.
O fato é que, ainda que sofra queda, o consumo dos suínos deve ocupar parte do mercado dos bovinos, que tiveram alta de preço no último ano. Essa mudança de perfil foi boa também para as aves, essa, sim, uma produção que deve continuar bem pouco afetada pelas crises.
A maioria esmagadora dos frangos consumidos no mundo é paranaense. Essa penetração nos mercados internacionais deve continuar alta, na visão dos analistas. Além do mercado chinês (novamente ele), as aves paranaenses devem ganhar espaço no ótimo mercado europeu, que paga mais pelo alimento. Para isso, no entanto, o produtor vai precisar arcar com os custos do milho e farelo de soja, que estão altos, e são fundamentais para as granjas, na avaliação da consultoria de agronegócio Cogo – a empresa divulgou relatório nesta semana.
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