Enquanto nas grandes cidades do Paraná o setor de serviços é o principal gerador de empregos, nos pequenos municípios são as indústrias que garantem a maior parte das vagas para a população. Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego, mostram que em 151 dos 399 municípios paranaenses, a indústria tem um peso grande na contratação dos moradores.
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Nesses municípios, o emprego formal gerado pelas indústrias representa de 31% até 85% do total. Em 44 pequenos municípios do Paraná, mais da metade das pessoas formalmente empregadas trabalha no setor industrial. Em 23 deles, esse percentual é ainda maior, chegando a 60%. Os dados referem-se ao ano de 2022.
O município com o percentual mais expressivo de trabalhadores na indústria, de acordo com o Caged, é Matelândia, no oeste do estado. De todos os trabalhadores com carteira assinada na cidade, 85% são empregados do setor industrial. Em Indianópolis (noroeste), são 84%. Em Jussara (norte), 81%.
Nos municípios de Jaguapitã (norte), Ivaté, Tapejara, São Tomé e Cidade Gaúcha (todos no noroeste), o setor industrial emprega mais de 70% da população. São todos municípios de pequeno porte, com menos de 20 mil habitantes.
“Quando olhamos para o interior do Paraná, percebemos que a indústria tem um peso muito grande na geração de empregos”, diz o economista da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep) Evânio Felippe. O principal setor na contratação de trabalhadores é o de alimentos. "É o que mais demanda mão de obra e o que mais contrata", diz Felippe. Ele destaca ainda o poder de fomentar toda a atividade econômica em cadeia que a indústria tem, promovendo o desenvolvimento econômico.
Importando mão de obra para a indústria
A vice-prefeita de Matelândia, Rozani Marcolin Bolzon, conta que o município é outro depois da chegada das indústrias. “O início da industrialização se deu em 1994, com a intenção da Cooperativa Lar em implantar um abatedouro de frangos. O município incentivou com a área, a terraplanagem e incentivos fiscais”, lembra. A cooperativa emprega cerca de 20 mil pessoas - e muitas vêm de outros municípios e regiões.
Segundo Rozani, desde 2009 Matelândia mantém o Programa de Desenvolvimento Industrial, que atraiu várias empresas e faz com que o município esteja em pleno emprego. “Temos vagas de emprego abertas, vem gente de fora trabalhar aqui, do Pará, do Maranhão”, conta. A vice-prefeita observa, no entanto, que com a atração de mais pessoas para o município há uma pressão grande por escolas e serviços de saúde e reforça que os municípios têm que estar preparados com toda essa infraestrutura quando decidem implantar programas de atração de indústrias.
Pleno emprego e falta de mão de obra para a indústria
O presidente da Associação dos Municípios do Oeste do Paraná (Amop), Elio Marciniak, que é prefeito de Santa Tereza do Oeste, confirma que a região, que tem 57 municípios, está em pleno emprego. Segundo ele, as agroindústrias, especialmente do setor cooperativista, são as grandes responsáveis pela oferta de trabalho. “Algumas das maiores cooperativas do Brasil, estão na nossa região”, conta, referindo-se a C.Vale, Lar, Copacol, Frimesa e Coopavel, entre outras.
Marciniak destaca que as cooperativas atuam especialmente na produção de alimentos. "E são as indústrias alimentícias as que mais demandam mão de obra", observa. Investir na qualificação da população e oferecer incentivos devem fazer parte das estratégias dos municípios que querem atrair indústrias, segundo ele. “A minha indicação para os municípios: adquiram terras e forneçam em comodato para as empresas, ofereçam isenção fiscal por cinco anos. É uma forma de garantir emprego para a população e investir no amanhã porque depois esse retorno vem na forma de impostos”, destaca.
Do Norte do Brasil para o Oeste do Paraná
Lucas da Silva Souza, 22 anos, é de Augusto Correia, município do Pará, região Norte do Brasil. Há três anos, sem perspectiva de emprego em sua região, veio para o Paraná para trabalhar no setor de cortes, no abatedouro de suínos da Cooperativa Frimesa, em Medianeira, no oeste do estado.
“Onde eu morava, a falta de emprego é muito grande. Trabalhar com carteira assinada seria quase impossível”, diz Souza, que tem o ensino médio completo. Ele conta que lá praticamente não tem indústrias e os trabalhos são na pesca e na agricultura, mas são raros e informais, além de se ganhar muito pouco.
O rapaz chegou à cidade de Medianeira porque um primo dele, também da Região Norte do Brasil, tinha vindo antes para a mesma cidade e havia conseguido emprego. Lucas conta que chegou em outubro de 2019 e no mês seguinte já estava trabalhando na Frimesa. “Aqui na região tem falta de gente pra trabalhar. Quem vem pra cá, consegue emprego e na cooperativa é muito bom. A gente tem bastante oportunidade de crescer”, avalia.
Em outra indústria da região, na cooperativa Copacol, também do setor de alimentos, trabalha Augusto Cipriano, 61 anos. A unidade industrial fica no pequeno município de Cafelândia e ele mora em Nova Aurora, distante 17 quilômetros. “Se não fosse essa indústria aqui, o desemprego na região seria muito grande”, acredita. Cipriano diz que não se importa de viajar todos os dias para ir e voltar ao trabalho. “A empresa fornece transporte. Venho com prazer. Isso aqui é uma família”, destaca o funcionário que está há 22 anos na indústria.
Também na Copacol trabalha Maria Das Graças Dalle Crode, de 46 anos, há 15 no emprego. “Eu achava que não ia ter chance de trabalhar aqui porque sempre fui dona de casa e tenho pouco estudo, mas tinha muita vontade. Consegui. Sou auxiliar de produção e com esse trabalho já comprei minha casa e meu carro”, orgulha-se.
Trabalhadores vêm de 55 municípios diferentes
O supervisor de Gestão de Pessoas da Copacol, Júlio Cézar de Melo, conta que desde 2011 a cooperativa mantém uma parceria com agências de trabalhadores de 55 municípios da região, num raio de cerca de 80 quilômetros. Nessas localidades, a cooperativa busca pessoas para trabalhar nas quatro unidades industriais localizadas nas cidades de Cafelândia, Ubiratã, Nova Aurora e Toledo.
“A maioria são pessoas sem experiência na indústria. Elas chegam aqui e aprendem, são treinadas. A cooperativa providencia o transporte e o percurso de suas casas até o trabalho é de cerca de uma hora, nada muito diferente do que o tempo de deslocamento dos trabalhadores que moram em grandes cidades”, compara.
O diretor executivo da Frimesa, Elias Zydek, conta que também busca fora boa parte do pessoal para trabalhar nas unidades industriais da cooperativa. “Contratamos trabalhadores aqui da região, mas também do Norte e Nordeste do país”, informa. Segundo ele, alguns são de outros países. “Na unidade de Medianeira, cerca de 10% são de fora, do Haiti, Venezuela, Paraguai e Argentina. São pessoas que migraram para a região há cerca de cinco anos e hoje trabalham aqui”.
Para a nova unidade da Frimesa, que entra em produção em março, em Assis Chateaubriand, e que será o maior frigorífico de carne suína da América Latina, os trabalhadores estão vindo de pelos menos cinco municípios da região, segundo Zydek. Até o final de 2023, este frigorífico projeta contar com 3,5 mil empregados. “Por enquanto, temos cerca de 500 trabalhando na higienização e manutenção de máquinas e equipamentos. Vamos ampliando gradativamente", informa.
No norte do Paraná, indústria também aquece o mercado
Em outra região, no norte do Paraná, o município de Mandaguari é outro bom exemplo da importância das indústrias na geração de empregos. O setor industrial emprega 64% da população formalmente contratada. “Temos o Capacita Mandaguari, em parceria com entidades do Sistema S, que prepara as pessoas para o trabalho”, conta a prefeita Ivonéia Furtado.
O município sedia uma grande indústria, o frigorífico da Cooperativa Central Aurora de Alimentos, um dos maiores empregadores da região. Para viabilizar mais um turno de trabalho e gerar ainda mais emprego, a prefeitura forneceu uma médica veterinária para o serviço de inspeção do abate.
Outra grande empregadora do município é a Indústria Romagnole, do setor eletrônico, evidencia a prefeita. “É uma empresa tradicional que gera muitos empregos aqui”, observa. A prefeita destaca que a desburocratização é uma das principais ações que um município deve promover para atrair investimentos. “Tenho relatos de empresas que desistiram de outras cidades e vieram para cá devido à agilidade, simplificação dos processos e todo o suporte que oferecemos”, pontua.
Município-sede fornece só 50% da mão de obra para a indústria
O gerente corporativo de gestão de pessoas da Cooperativa Aurora, Nelson Paulo Rossi, conta que nos últimos cinco anos o quadro de colaboradores foi ampliado em 25%, chegando aos atuais 2,7 mil funcionários. “O reforço no quadro foi para atender principalmente a ampliação de produção e as mudanças no mix de produtos para atender mercados mais exigentes”, explica.
Os investimentos na ampliação não param por aí. Segundo Rossi, para os próximos cinco a oito anos há projeto para aumentar mais a produção, o que vai exigir a ampliação da indústria e o quadro de colaboradores em mais de 50%. O gerente diz que há dificuldade na contratação de trabalhadores porque o município que sedia a unidade industrial atende menos de 50% da necessidade de mão de obra. O restante tem que ser buscado em cidades vizinhas, num raio médio de 40 a 50 quilômetros. A própria cooperativa investe na qualificação e treinamento do pessoal.
Para Rossi, em relação ao suprimento de trabalhadores para a indústria, “o poder público pode contribuir (e dentro das suas limitações vem contribuindo) oferecendo a infraestrutura necessária (moradia, assistência à saúde, educação, transporte) para que estes trabalhadores possam morar o mais próximo dos seus locais de trabalho”.
A importância das cooperativas
Em várias das pequenas cidades onde o emprego industrial é forte, isso se deve à atuação das cooperativas. O Sistema Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná) cita como exemplo as cooperativas Lar e Frimesa (em Matelândia), a Copacol (em Cafelândia), a Coopcana (São Carlos do Ivaí), Aurora e Cocari (em Mandaguari) e Coasul (em São João).
“Há cerca de 25 anos, as cooperativas se estruturaram e deixaram de apenas fornecer insumos e receber e comercializar a produção dos cooperados. Passaram a investir na industrialização, gerando empregos”, conta Robson Mafioletti, superintende da Ocepar.
Segundo ele, o grande destaque é na produção de proteína animal, com indústria de frangos, suínos, peixes e leite. “São setores que demandam muita mão de obra”, destaca. Mafioletti diz que o setor cooperativista gera 140 mil empregos no Paraná e mais da metade disso está ligado ao setor de carnes.
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