Um estudo da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) mostra o Brasil - assim como o Paraná - mais dependente de commodities. Em dez anos, a participação de produtos básicos nas exportações nacionais subiu de 56,5% para 66,6%, revela o relatório a ser divulgado em setembro.
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E o cenário no Paraná segue o mesmo tom. Dados do Ministério da Economia, tabulados pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), indicam que em 2020 os produtos básicos responderam por 56% das exportações paranaenses. Em 2010, essa participação era de 43% - uma diferença de 13 pontos porcentuais.
Técnicos e lideranças do setor produtivo do estado atribuem essa situação a dois fatores: a grande demanda mundial pelas commodities, especialmente a China importando soja em grão; e o elevado Custo Brasil (tributos e custos logísticos), que tira a competitividade dos produtos manufaturados brasileiros no mercado externo. “Não há dúvida de que o Custo Brasil afeta sobremaneira as exportações nacionais de manufaturados, incluindo as vendas ao exterior de bens industrializados paranaenses”, destaca Júlio Takeshi, diretor do Centro de Pesquisa do Ipardes.
Por outro lado, ele diz que o crescimento do peso relativo dos produtos básicos na pauta de exportações do Paraná reflete a vocação regional em atividades do agronegócio.
"Mesmo investindo na industrialização, nós exportamos o que o mercado quer comprar”, diz Robson Mafioletti, superintendente da Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar). “A China, nosso principal mercado, só compra produtos básicos”, diz. Segundo Mafioletti, 80% da soja paranaense vão para o mercado chinês e o país asiático não quer nem o farelo de soja, apenas o grão para processar em suas indústrias. "Os chineses têm uma política de industrialização muito forte voltada à geração de empregos", observa.
Exportação paranaense de soja em grão dobra em dez anos
De acordo com informações da Federação da Agricultura do Paraná (Faep), as exportações de soja em grão, principal produto básico exportado pelo Paraná, praticamente dobraram em dez anos. O volume exportado saltou de 6,98 milhões de toneladas em 2010 para 13,40 milhões de toneladas em 2020. Em termos de valor, o aumento foi de 94,7%, saindo de US$ 3,37 bilhões em 2010 para US$ 4,6 bilhões em 2020.
“Diferente de outros países, temos condições climáticas favoráveis, que permitem até três safras por ano. Por isso, o agronegócio é tão relevante no Brasil e no Paraná”, destaca Luiz Eliezer Ferreira, economista da Faep. Além disso, segundo ele, há muito investimento em pesquisa e desenvolvimento que contribuem para melhorar a produtividade nesse setor.
Precisamos exportar produtos com mais valor agregado, defende presidente da Fiep
“O Brasil é exportador de commodities. Sorte a nossa que estes produtos estão com bom preço, mas não é garantia de nada”, diz Carlos Valter Martins Pedro, presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep). Ele observa que os dez principais produtos da pauta de exportação brasileira são commodities. “Isso não é bom”, pontua.
Segundo Carlos Valter, no setor industrial tem o frango, com o Paraná liderando a produção e a exportação nacional. “Mas a agregação de valor nesse produto ainda é baixa, é preciso mais, poderíamos ter outros setores e outros produtos com maior valor agregado”, observa.
As exportações de carne de frango do Paraná avançaram 39% entre 2010 e 2020, alcançando US$ 2,35 bilhões. Em volume, a alta foi de 65,7% no mesmo período, alcançando 1,65 milhão de toneladas.
Para o presidente da Fiep, o grande vilão do setor industrial brasileiro é - de novo ele - o Custo Brasil. Ele cita dados de um estudo da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que mostram que boa parte da carga tributária brasileira pesa sobre a indústria. De acordo com o estudo, apesar de ser responsável por 11% do PIB, a indústria de transformação responde por 25% da arrecadação de tributos federais. Somando-se outros impostos, a carga tributária do setor chega a 46,2%, que é o percentual de seu faturamento destinado ao pagamento de tributos.
O mesmo estudo mostra que o setor do comércio e serviços, responsável por 74% do PIB, tem carga tributária de 22,1%. Já a agropecuária, que responde por 5% do PIB, tem carga tributária de apenas 1,9%. “É por causa dessa carga tributária elevada que o Brasil exporta minério de ferro, soja e milho, que são produtos básicos. Se agregarmos valor a esses produtos, eles ficam muito caros e sem condições de competir”, explica.
“O Brasil extrai o minério, coloca no trem e o trem leva para o navio. Não transformamos em aço. Exportamos para a China e para o Japão e depois compramos deles as máquinas que eles produziram a partir da nossa matéria-prima”, destaca.
Segundo o presidente da Fiep, a mesma situação impacta o agronegócio. “Tem navios boiadeiros no porto de Santos levando nosso gado para ser abatido no exterior. Estamos exportando empregos”, critica. Carlos Valter diz que a situação prejudica também o consumidor brasileiro que, se não fosse essa situação, poderia ter acesso a uma gama de produtos nacionais de qualidade e com menor preço.
O representante do setor industrial informa que a Fiep lidera uma mobilização para reunir o setor produtivo do estado em torno de um projeto que tem o objetivo de reduzir o chamado Custo Brasil, o que passa necessariamente pela reforma tributária. A entidade participa também do Movimento Brasil Competitivo, uma organização mantida por empresas e entidades de diversos setores da economia, que tem o propósito de melhorar o ambiente de negócios nacional e local.
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