Floresta de pinus garante matéria-prima para setores importantes da indústria do Paraná.| Foto: Leandro Coelho/Ibema.
Ouça este conteúdo

De vilão a mocinho. O pinus, espécie florestal que chegou ao Brasil nos anos 70 vinda dos Estados Unidos, para ser processada pela indústria madeireira e de papel e celulose, já teve fama de degradar o solo e ser um inimigo do meio ambiente. Pesquisas científicas realizadas ao longo de décadas e experiências de cultivo provaram o contrário. Além disso, a espécie sustenta, com matéria-prima, alguns dos setores mais importantes da economia paranaense, contribui com a geração de emprego e seus produtos derivados têm um peso considerável na pauta de exportação do Paraná.

CARREGANDO :)

Receba as principais notícias do Paraná pelo WhatsApp

“O pinus não degrada mais o solo do que qualquer outro cultivo”, afirma Erich Schaitza, engenheiro florestal, pesquisador e chefe geral da Embrapa Florestas. “Toda a cultura que se planta, vai retirar nutrientes do solo para crescer, se desenvolver e produzir. Esses nutrientes terão que ser repostos, mas isso acontece com soja, milho, trigo, feijão e também com espécies florestais, como eucalipto, bracatinga, pinus e outras”, explica Schaitza.

Publicidade

A espécie chegou ao Brasil como uma alternativa mais viável economicamente em relação às nativas, especialmente pela falta do pinheiro do Paraná, a Araucária, submetida à exploração intensiva e abusiva.

O Paraná concentra a maior área plantada com florestas de pinus no Brasil. De acordo com dados da Associação Paranaense de Empresas de Base Florestal (Apre), o estado tem 700 mil hectares cultivados, 44% da área de todo o país. Além disso, a produtividade no Paraná está 10% acima da média nacional.

Essas florestas fornecem matéria-prima para as indústrias da madeira e papel e celulose, entre outras. “O Paraná também produz multiprodutos florestais, não madeiráveis, como a resina para a indústria em geral”, diz o presidente da Apre, Zaid Ahmad Nasser.

Empregos e destaque na pauta de exportação

“A cada 100 empregos no setor florestal gerados no Brasil, 16 estão no estado do Paraná”, destaca Nasser. “É preciso falar, também, sobre a participação na exportação. O pinus tem a característica de dar origem a diversos produtos de bens e consumo, produtos finais de exportação, como os painéis, por exemplo”, enfatiza o líder do setor.

De acordo com dados da Apre, em 2020 o Paraná exportou 35% dos painéis que saíram do país com destino aos EUA, México e alguns países da América Latina, como Peru e Colômbia. Além disso, em portas, produto de alto valor agregado, o estado respondeu por 27% das exportações. Em molduras, o Paraná exportou 73% do total e 13% em móveis. Em compensados, foi líder, com 66% das exportações e responde por 37% da exportação de madeira serrada, destinada à construção civil e é o segundo maior exportador de papel.

Publicidade

Espécie rústica e adaptada à região Sul

Uma das maiores fabricantes do Brasil de painéis MDP, MDF e HDF, a Berneck, com sede em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, desde o final da década de 1970, cultiva florestas de pinus. Anualmente são plantadas mais de 7 milhões de árvores no Paraná e Santa Catarina. A empresa mantém 82 mil hectares cultivados com a espécie para industrialização, dos quais 35 mil estão em território paranaense. Somadas as áreas destinadas à reserva natural e preservação chega a 170 mil hectares.

“É uma espécie que se adapta bem ao sul do país. É rústica e tolerante a condições de solos menos férteis, sendo produtivo mesmo em áreas declivosas”, explica Juliana Ferreira, supervisora de Sustentabilidade e Certificação Ambiental da Berneck.

A indústria utiliza o pinus de forma integral. A casca vai para a caldeira, para geração de energia elétrica e térmica. Os toretes (madeira de menor diâmetro) são picados e utilizados na produção de painéis de madeira, enquanto as toras (madeira de maior diâmetro) são serradas e beneficiadas em diversos tamanhos e dimensões para atender a construção civil.

Segundo a supervisora, em virtude da rusticidade do pinus e do tipo de manejo florestal conduzido pelas áreas florestais da Berneck, não existe degradação do solo se comparada a outras culturas agrícolas.

Outra indústria que processa o pinus é a Ibema, fabricante de papelcartão com fábrica no município de Turvo, sul do Paraná. O cultivo da espécie é feito pela Bemais, empresa do Grupo Ibemapar, holding que concentra investimentos no setor de fabricação de papel, energia, terras e florestas.

Publicidade

O plantio comercial começou na década de 1960, com incentivos fiscais do governo motivados pela preocupação com o uso de madeira nativa. As florestas são localizadas próximas à indústria, em um raio máximo de 100 km. A Ibemapar mantém 2.500 hectares cultivados com pinus. Em média, a produtividade é de 40 m3/hectare/ano.

A partir do corte do pinus, a madeira é descascada e picada. As pequenas lascas passam por um processo de industrialização para obtenção do papel. As partes com diâmetros superiores são destinadas às indústrias de laminação para confecção de chapas de compensado ou madeira serrada, usada na construção civil.

“A madeira de cor clara, branca a amarelada, é bem aceita no mercado. As fibras longas são apropriadas para a fabricação de papel de alta resistência para embalagens”, explica Filemom Mokochinski, coordenador de Agronegócios da Ibemapar.

“Não observamos desgaste de solo em áreas de pinus. Algumas áreas, anteriormente ocupadas com pinus, passaram a ser usadas em plantios de agricultura convencional, com produção compatível com as médias na região”, conta o coordenador. Segundo ele, com análise de solo, adubação, preparo, correção, técnicas adequadas e com ajuda climática, as áreas rendem boa produção.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
Publicidade