Ampliar o monitoramento da saúde da população mais vulnerável para evitar casos mais graves de Covid-19 é o objetivo atual do Instituto Estáter, braço social da consultoria de mesmo nome, com sede em São Paulo. A principal ferramenta para isso é o oxímetro de pulso, que mede o nível de oxigenação do sangue. A intenção da associação é firmar parcerias no Paraná e outros estados para fazer esse monitoramento, que tem se mostrado eficaz em iniciativas no Sudeste e no Nordeste.
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“É uma coisa simples que salva vidas, que tem como objetivo encaminhar as pessoas para o hospital na hora certa”, diz o sócio-fundador da Estáter, Pércio Freire Rodrigues de Souza. O projeto foi construído após análise de dados de vítimas da Covid-19 em outros países e a partir de debates com médicos de várias especialidades. A avaliação é de que muitos pacientes são hospitalizados já em situação crítica de falta de ar, e as chances de recuperação são menores. Na Itália, Suécia e Estados Unidos, muitos pacientes nem chegaram a ser internados, diz ele.
Aí entra o oxímetro: nas iniciativas apoiadas pelo Instituto Estáter, equipes treinadas medem o nível de oxigênio da população. “Se o paciente chega ao hospital com saturação de oxigênio muito baixa, fica duas ou três semanas internado, muito mal. Se a perda de saturação for baixa, se recuperam mais rápido”, relata Souza, que é engenheiro civil formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). O caso tem sido tratado pelos médicos como “hipóxia silenciosa”, porque muitas vezes o paciente não percebe a falta de ar.
Souza lamenta a dificuldade para sensibilizar autoridades a mudar os protocolos de atendimento. “Desde abril estou pregando no deserto para convencer autoridades a mudar o protocolo de atendimento. Como não consegui repercussão nas autoridades, começamos a fazer a iniciativa direto nas comunidades no Rio e em São Paulo. Organizamos grupos e fizemos algumas reuniões com líderes de comunidades nas favelas”, relatou. Ele defende a ação da sociedade civil organizada para minimizar os efeitos da pandemia de Covid-19.
“A piora é muito rápida”
O trabalho em campo tem mostrado a importância dos oxímetros, sobretudo no grupo de risco para o coronavírus. O SAS Brasil, outra associação social sem fins lucrativos que atua na área de saúde, entretenimento e sustentabilidade desde 2013, com apoio de vários patrocinadores, reorganizou suas atividades para prevenção e monitoramento de pacientes da Covid-19. Segundo a coordenadora de saúde da entidade, Adriana Mallet, já foram atendidas 4 mil pessoas de comunidades carentes de São Paulo e Rio de Janeiro, das quais 40 foram encaminhadas ao hospital. “Mas não houve nenhum óbito, porque estamos encaminhando no momento certo”, afirmou.
Segundo Adriana, quem trabalha no “chão da fábrica” monitorando casos de Covid-19 vê a efetividade do uso do oxímetro. As equipes médicas acompanham a população em geral; se alguém foi infectado pelo coronavírus e está dentro do grupo de risco, recebe um aparelho para acompanhar em tempo real sua evolução. “Do quarto ao décimo dia do início dos sintomas, é preciso muita atenção. A piora é muito rápida. Não é acompanhando uma vez ao dia que resolve”, explicou.
Mesmo pessoas mais jovens podem evoluir rapidamente para um quadro grave de Covid-19, reforçou a médica. “Tivemos um caso de uma mulher de 35 anos, com lúpus, que já tomava cloroquina como base do tratamento, mas que não foi fator protetor. De manhã ela estava com saturação normal, 96%, mas à tarde reclamou de cansaço. Fomos ver estava com saturação de 92%. Até a ambulância do Samu chegar, caiu a 86%, quando o normal é de 95% a 100%”, relatou Adriana.
Dependendo da idade e da condição do paciente, o nível de saturação ideal pode variar, e por isso é recomendável uma orientação médica. O SAS Brasil trabalha com uma rede de mil voluntários, dos quais 200 médicos, que fazem teleatendimento, com um médico em cada ponta: junto com o paciente na comunidade e outro especialista em um consultório, serviço que continua a ser feito além da prevenção e tratamento da Covid-19. A entidade é reconhecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) nas regiões onde atua, para que as receitas médicas e encaminhamentos tenham validade.
Nordeste
No fim de abril, o Comitê Científico do Nordeste, comandado pelo neurocientista Miguel Nicolelis e pelo cientista Sergio Rezende, ex-ministro da Ciência e Tecnologia (2005-2010), passou a recomendar o uso de oxímetros pelas equipes de Saúde da Família e agentes de saúde em campo para “detecção precoce de comprometimento pulmonar dos pacientes”.
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