Um estudo realizado pelo Instituto Trata Brasil avaliou o potencial de benefícios sociais e econômicos que podem ser alcançados com o saneamento básico. No levantamento, intitulado “Benefícios econômicos da expansão do saneamento no Paraná”, o instituto identificou um total de mais de R$ 82,8 bilhões em ganhos entre os anos de 2005 e 2022 no estado.
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Segundo o estudo, cerca de R$ 70 bilhões do total representam os chamados benefícios diretos, como o aumento de renda gerada pelo investimento em abastecimento de água tratada, coleta e tratamento de esgoto. Os impostos recolhidos sobre o consumo e a produção entram neste somatório, detalha o instituto. Os quase R$ 13 bilhões restantes são contabilizados como redução de perdas associadas às externalidades, como as áreas da saúde, produtividade e valorização ambiental.
No período, o ITB calcula em R$ 45,5 bilhões o montante investido na área do saneamento básico no estado do Paraná. A conta final, portanto, tem saldo positivo em mais de R$ 37 bilhões, o que para o instituto é um indicativo de que vale a pena investir neste componente básico da vida das pessoas.
Ganhos podem dobrar até 2040, ano em que é prevista a universalização do saneamento básico no Brasil
Em entrevista à Gazeta do Povo, Luana Pretto, presidente-executiva do Instituto Trata Brasil, detalhou que o estudo estima ainda os ganhos futuros até 2040, ano limite previsto na legislação para que estes serviços estejam universalizados em todo o Brasil. Nas contas do ITB, explicou, estes ganhos podem chegar a outros R$ 82,5 bilhões.
De acordo com informações do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS) referentes a 2022, 96,1% dos paranaenses são atendidos com abastecimento de água e 76,3% recebem atendimento de coleta de esgoto – de todo o esgoto coletado, 75,9% passam por tratamento.
Os índices são melhores do que a média nacional, confirmou Pretto, o que pode representar uma menor necessidade de investimentos futuros no setor, com melhor saldo líquido dos benefícios atrelados ao saneamento básico aos habitantes do estado.
“Os custos sociais no período devem somar R$ 34,9 bilhões, o que deixa um saldo de R$ 47,5 bilhões, o que é bastante positivo para a região. Isso vai influenciar diversas áreas, inclusive uma crescente de geração de emprego e renda durante a fase de expansão das redes e a estabilização num patamar acima de 60 mil postos de trabalho na região. Essa relação indica que para cada R$ 1 investido em saneamento, o estado do Paraná deve ter ganhos sociais de R$ 3,16”, estimou.
Investimentos no saneamento básico podem beneficar área da saúde e melhores salários
O estudo detalha cerca de R$ 1,2 bilhão a serem economizados na área da saúde entre os anos de 2023 e 2040 no Paraná. O benefício é resultado direto da melhora na condição de vida das pessoas, principalmente aquelas que ainda não são atendidas pelas redes de água e esgoto.
A previsão otimista se explica nas contas do levantamento do ITB. De acordo com o estudo, quem morava em domicílio sem acesso à água ou ao serviço de coleta de esgoto tinha 2,9% e 18,1% a menos de escolaridade do que uma pessoa que residia em moradias com acesso aos respectivos serviços de saneamento.
Quem não contava com acesso ao abastecimento de água tinha 9,1 anos de escolaridade média, frente aos 9,4 de quem possuía o serviço em sua residência no estado. Quando se é levado em conta o serviço de coleta de esgoto, a diferença é ainda maior. A escolaridade média dos que tinham acesso ao serviço era de 9,7, menor do que os 7,9 dos que não contavam com a coleta do esgoto.
A falta de banheiro de uso exclusivo em casa traz outro forte impacto para aqueles que chegam ao fim do Ensino Médio. Dados do Enem revelam que os jovens que moravam em residências sem saneamento básico tiveram desempenho 6,4% pior que aqueles que moravam em residências com banheiro. Essa diferença era ainda maior para a nota da prova de Redação: 9,8% menor.
“Sem contato direto com valas de esgoto a céu aberto e fontes de água com potencial contaminação, como poços irregulares, essa população fica menos doente. Isso é qualidade de vida que se reflete nas crianças, que vão ter uma escolaridade média maior. Podendo frequentar a escola por mais tempo, o aprendizado é melhor, e isso pode resultar em uma nota maior no Enem e um ganho direto de renda por conseguir um trabalho melhor”, detalhou Pretto.
Setores imobiliário e do turismo são influenciados pelo saneamento básico
Outras análises feitas pelo ITB levam em conta os ganhos econômicos oriundos do investimento no saneamento básico e seu impacto na valorização imobiliária no Paraná. A valorização do solo urbano atendido por uma infraestrutura adequada de saneamento pode representar ganhos de mais de R$ 2,2 bilhões entre 2023 e 2040.
No setor do turismo, outro ponto analisado pelo levantamento do Instituto Trata Brasil, a valorização ambiental associada à despoluição de córregos e rios e à oferta universal de água tratada pode gerar ganhos de mais de R$ 4,5 bilhões no mesmo período.
"No Brasil há mais pessoas sem água do que sem internet", lamenta presidente do ITB
A presidente-executiva do ITB lamentou o fato de ainda existir o que ela chamou de velha ideia, por parte de prefeitos e governadores, de que investimentos em saneamento básico “não dão voto porque são obras que ficam enterradas”. Para Luana Pretto, o setor precisa ser visto como um ativo político, e a mudança tem que partir da população.
“Os dados públicos nos mostram que há mais pessoas sem acesso à água do que aquelas sem acesso à internet. A população tem essa demanda pela conexão, mas parece não ter a mesma preocupação com o saneamento básico. Mais de 92 milhões de pessoas estão fora da rede de coleta de esgoto, e isso é um problema sério, que se for corrigido vai trazer muitos benefícios a médio e longo prazo”, completou.
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