Conab diz que reestruturação vai aumentar capacidade de armazéns para receber grãos, além de retomar estoques reguladores.| Foto: Divulgação/Conab
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Com a promessa de auxiliar no aumento da capacidade de armazenamento de grãos e de reestruturar estoques reguladores, a Itaipu Binacional vai bancar a modernização de estruturas públicas no Paraná e no Mato Grosso do Sul, dois dos mais importantes estados na produção do agro brasileiro e localizados em área onde a binacional tem atuação.

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Apesar de os valores ainda não terem sido anunciados pela hidrelétrica, uma carta de interesse foi assinada entre a usina, o Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, a Companhia Brasileira de Abastecimento (Conab) e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento neste mês de fevereiro.

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“O plano está em desenvolvimento e o valor total que será investido ainda está em análise e deve ser divulgado em breve, bem como as demais informações de como a parceria acontecerá”, esclareceu a Itaipu.

O objetivo, segundo o ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira, é reduzir gargalos de armazenamento e reestruturar a política de estoques reguladores. “As Unidades Armazenadoras da Conab estão distribuídas em 24 Estados e no Distrito Federal. A capacidade estática total da empresa é de pouco mais de 1,6 milhões de toneladas, o que representa cerca de 1% do total do país. Essa capacidade está distribuída em 64 Unidades Armazenadoras com 126 armazéns. Da capacidade de armazenagem total da empresa, 61% é na modalidade granel e 39% na modalidade convencional”, descreveu a Conab sobre seus armazéns.

O governo federal culpa a gestão anterior ao considerar que, mesmo representando um pequeno volume de estocagem, esses armazéns foram desmontados durante o governo de Jair Bolsonaro (PL), o que teria provocado “aumento desenfreado da inflação dos alimentos”.

Os quatro estoques anunciados para Paraná e Mato Grosso do Sul somam capacidade estática inferior a 200 mil toneladas de estocagem. Mesmo com as melhorias e ampliações pontuais, o setor produtivo brasileiro alerta que a medida é irrisória diante do déficit de armazéns em todo o país.

O déficit de armazéns varia de 100 milhões a 120 milhões de toneladas/safra, segundo a Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).

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Na safra passada, o Brasil colheu quase 323 milhões de toneladas somando todos os grãos. Há dez anos eram 185 milhões de toneladas. “O aporte da produção de grãos não foi acompanhado pelo aumento da capacidade estática dos armazéns públicos e privados. Esse é um grande gargalo logístico que pode limitar nossas exportações”, alertou Tiago Pereira, da CNA.

Considerando estoques públicos e privados para armazenamento de grãos, o Brasil conta com 11.179 unidades armazenadoras com capacidade estática para 191.334.681 toneladas. Neste ano, o déficit de armazéns deve passar dos 100 milhões de toneladas de grãos, considerando uma projeção de safra de pouco menos de 300 milhões de toneladas, diante das perdas provocadas pelo calor extremo e estiagem.

Onde estão os armazéns públicos para grãos que receberão melhorias

O Paraná conta com 1.561 unidades armazenadoras com capacidade para 30.873.893 toneladas, considerando espaços públicos e privados, segundo a Conab. Ano passado, a safra no estado superou os 46,8 milhões de toneladas e, no atual ciclo, com a previsão de quebra, a produção pode chegar a 36 milhões de toneladas, considerando 22,1 milhões de toneladas na safra de verão e o restante na safra de inverno que começa a ser plantada.

No estado estão três dos quatro armazéns públicos para receber grãos que vão receber melhorias custeadas pela Itaipu. Os investimentos estão previstos para as unidades de Ponta Grossa (PR), Cambé (PR), Rolândia (PR) e Maracaju (MS). De acordo com o diretor-presidente da Conab, José Edegar Pretto, esses locais foram escolhidos como prioridade para armazenamento e estoques reguladores.

“Os investimentos que serão feitos na Conab terão duas questões centrais: a primeira é garantir que produtores e cooperativas possam estocar para vender quando o preço estiver melhor. A segunda é garantir a segurança alimentar, fornecendo comida para quem vive nas cidades”, detalhou o diretor de coordenação da Itaipu, Carlos Carboni.

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Durante a 36ª edição do Show Rural, realizada de 5 a 9 de fevereiro em Cascavel (PR), o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar confirmou que é preciso destacar as dificuldades de armazenamento que avançam no Brasil safra após safra.

“Isso prejudica o produtor que tem que vender seu produto na baixa. A Conab está agora reformando centrais de armazenamento e assim pode melhorar a capacidade de negociação do produtor”, disse ele, durante a solenidade de assinatura da carta de intenções com a Itaipu.

Na safra 2022/2023, produtores, cerealistas e cooperativas do Brasil inteiro sofreram com estoques superlotados diante da capacidade limitada de estocagem, conciliada aos baixos preços que desestimularam as vendas.

“No Paraná, onde as cooperativas recebem cerca de 64% da produção estadual de grãos, nossa defasagem de armazenagem é muito elevada. Ano passado tivemos estoques improvisados, o que deve se repetir neste ano, mas não com mesma intensidade. Fomos obrigados a operar na reta final do ano passado em seis diferentes portos para escoar os grãos, porque iríamos colher a nova safra e não teríamos onde guardar. Esse é um problema que precisa ser resolvido com linhas de crédito que possam atender também aos pequenos produtores”, alertou o presidente da Organização das Cooperativas do Estado do Paraná (Sistema Ocepar), José Roberto Ricken.

Segundo Ricken, as linhas do Plano Safra acabam por contemplar silos com capacidade de 6 mil toneladas, o que não é a realidade de sete em cada dez propriedades paranaenses que são de pequenos módulos da agricultura familiar. “Então essas pessoas acabam tendo nas cooperativas seus locais de estocagem”, apontou.

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Governo quer retomar estoques reguladores

O diretor-presidente da Conab afirmou que o governo vai voltar a estruturar estoques reguladores. Na prática, é a compra de cereais como milho e trigo para manter estoques e oferecer ao mercado quando há altas expressivas no preço dos cereais ou escassez dos produtos no mercado.

O ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, negou que a medida tenha um papel de regulação de mercado, e sim de auxiliar produtores com compra a valores mais justos ou auxiliar o mercado, no caso de elevações substanciais nos preços. “O governo não vai interferir no mercado, é uma segurança para ele. Os estoques são essenciais”, afirmou.

O diretor-presidente da Conab considerou que no governo passado a estocagem foi reduzida em mais de 400 mil toneladas em capacidade estática. “Estamos recuperando com urgência os estoques públicos, foi uma determinação do presidente Lula. Não manter estoques reguladores nos levou para uma inflação imensa dos alimentos, o dobro da média da inflação. Ter estoques também é segurança alimentar”, considerou Pretto.

É preciso olhar para o futuro da produção, diz Ortigara

Para o presidente do Conselho dos Secretários de Agricultura no país e secretário de Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara, a capacidade limitada para armazenamento dos grãos tem sido pauta recorrente do setor produtivo e de autoridades do setor a cada lançamento de Plano Safra.

“Para chegarmos às 400 milhões de toneladas de grãos [de produção nacional] é fácil, mas precisamos de local adequado e seguro para guardar a produção. No campo a gente evoluiu muito e manteremos, mas precisamos de infraestrutura para acompanhar e produzir com excelência, inclusive na transformação da produção de grãos. Até 2030 chegaremos a 36 milhões de toneladas de proteínas no Brasil: isso é agregar valor, mas precisamos de planos safras cada vez maiores para sustentar esse avanço”, alertou.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]