A preocupação com o crescimento ordenado é uma constante em Curitiba e suas raízes remontam ao século passado. De Moreira Garcez (1920-1928 e 1938-1940) a Ney Braga (1954-1958), muitos prefeitos desenharam o escopo da cidade em que caminhamos hoje. Talvez a primeira iniciativa mais intensa, no entanto, tenha se dado em meados dos anos 1960, com a chegada ao poder de Ivo Arzua Pereira.
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Arzua foi eleito em 1962, aos 37 anos, na última eleição direta antes do golpe militar de 1964. Com 51 mil dos mais de 100 mil votos, bateu seus rivais sob a bênção de líderes políticos em alta naquela época, sobretudo a do então governador Ney Braga. Engenheiro por formação, Arzua seguiu os passos do mentor político e apostou na imagem de técnico e “não político” para conquistar o eleitor, ao contrário de Carlos Alberto Moro (PTB), seu principal adversário neste pleito, que tinha tradição nas disputas eleitorais.
E Arzua fez o que se esperava de um técnico. O prefeito promoveu mudanças na capital que se estenderam da forma de gestão ao planejamento. Ao assumir, conseguiu chegar a um acordo com empresários e associações para uma revisão no valor venal dos imóveis de maneira a aumentar a arrecadação de impostos para o município. Segundo relatos da época, os valores estavam defasados há anos. A prefeitura, que até então patinava em pagar seus funcionários, conseguiu contratar mais e passou sem percalços por grandes paralisações que naquela época tomavam o país.
A Curitiba de Arzua tinha pouco mais de um quinto do tamanho da atual (cerca de 300 mil a 350 mil habitantes). Assim, causa até certo espanto que, naquele momento, o prefeito tenha optado por tantas obras que facilitariam a mobilidade urbana nas décadas seguintes. Arzua alargou avenidas como a Marechal Deodoro, o trecho central da Marechal Floriano, parte da Rua XV (que ainda não era calçada) e abriu a Cruz Machado.
Muitas dessas mudanças eram parte de seu planejamento urbano. Ao contrário de planos anteriores, aquele incluía debate com a população, que pôde apontar seus desejos e necessidades.
Para implementar as mudanças, Arzua percebeu que deveria fortalecer seu conjunto técnico. Foi então que criou o Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc). “O nosso planejamento urbano teve três características. A primeira foi a democrática. Afinal, o plano foi escrito a partir das aspirações do povo e por uma empresa escolhida com concorrência pública. Foi ela quem elaborou o Plano Preliminar de Urbanismo. Para torná-lo realidade, criamos o Mês do Urbanismo e fizemos o seminário Curitiba do Amanhã, onde ouvimos várias organizações comunitárias, públicas e privadas. A segunda característica é que o plano foi pensado de forma integrada, por não prever só a questão viária e do transporte, mas atenção a saúde, habitação e outros temas, com a criação das companhias Urbs e Cohab Curitiba. Terceira característica: foi um plano vivo, porque o Ippuc foi criado para acompanhar a realização dele e modernizá-lo de acordo com a evolução social, política e econômica”, relembrou o próprio Arzua, em entrevista à Gazeta do Povo em 2011 – ele morreria um pouco depois, em 2012.
Mas a atuação do prefeito não se restringiu à máquina pública e ao urbanismo. Ele também criou o embrião da rede municipal de ensino, com os chamados grupos escolares Papa João XXIII e o Isolda Schmidt. Nestes espaços, era a prefeitura quem definia os parâmetros de funcionamento, não mais o estado. Arzua também foi quem levou os postos de saúde para os bairros, descentralizando um dos serviços mais essenciais.
A gestão técnica e o alinhamento com governo estadual e federal garantiram a recondução de Arzua ao cargo em 1966 (naquele momento, as eleições não eram diretas). O político não terminou, no entanto, seu mandato. Em 1967 aceitou convite do governo militar para comandar o Ministério da Agricultura, onde permaneceu pelos dois anos seguintes.
Em 1985, na redemocratização, Arzua tentaria voltar ao Executivo municipal, desta vez como vice de Paulo Pimentel. A chapa não engrenou. Passou longe em uma das eleições mais acirradas da história da cidade. Em 1985, a capital consagrou o PMDB de Roberto Requião, que bateu o PDT de Jaime Lerner, discípulo acidental de Arzua, por apenas 19 mil votos (de 500 mil).
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