É para ostentar o maior jardim de esculturas do Brasil que a Prefeitura de Curitiba está prestes a gastar quase R$ 6 milhões. A despesa sairá do orçamento da Secretaria Municipal do Meio Ambiente e foi contratada via processo de inexigibilidade que prevê, ao todo, a entrega de 12 peças. A mais cara de todas, indicada como 'Índio Guairacá II', custará R$ 750 mil aos cofres públicos. No outro extremo da lista, a estátua 'Homem Pinheiro' é a mais barata; sairá por R$ 290 mil.
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As obras - reproduções do acervo de João Turin - foram encomendadas para a criação do Memorial Paranista. O contrato foi publicado em Diário Oficial no dia 2 de julho de 2019.
A empresa fornecedora é a SSTP Investimentos Ltda, de propriedade de Samuel Ferrari Lago, que detém os direitos sobre o acervo do artista paranaense. O empenho já está pronto para pagamento, mas, de acordo com o Portal da Transparência da Administração municipal, ainda não foi liquidado.
Além das esculturas 'Índio Guairacá II' e 'Homem Pinheiro', as demais obras que integram a Inexigibilidade são: Marumbi (R$ 710 mil), Pedagogia (R$ 700 mil), Índio Guairacá I (R$ 540 mil), Caridade (R$ 425 mil), Onça Brincando com Filhote (R$ 425 mil), Onças Brincando (R$ 425 mil), Onça Espreita II (R$ 425 mil), Fundação de Curitiba (R$ 310 mil) e Onça Descansando (R$ 425 mil). Todas as peças serão feitas basicamente de bronze; a maior delas será a 'Marumbi', com 3 metros de altura, quase 3 metros de largura, 1 metro de profundidade e aproximadamente 700 kg. A menor, 'Onça Espreita I', terá 66 centímetros de altura, 1,6 metro de largura, 47 centímetros de profundidade e pesará 300 kg.
A obra 'Pedagogia' é a única que já existe. A escultura será apenas restaurada, mas o valor contratado, ainda assim, é um dos mais elevados da inexigibilidade.
Entre outras coisas, o contrato de prestação do serviço prevê que as peças não podem ser compradas separadamente. O documento também condiciona o pagamento à verificação e aceitação das esculturas pela Fundação Cultural de Curitiba. A partir daí, o prazo para a liquidação da despesa é de 30 dias corridos.
Procurada, a Prefeitura de Curitiba se manifestou por meio da seguinte nota:
"As obras – de inestimável valor cultural – farão parte do Jardim das Esculturas, um espaço público contíguo ao futuro Memorial Paranista a ser implementado no Parque São Lourenço. Trata-se de um projeto de valorização do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural do Paraná e do Brasil, tendo como destaque um dos principais artistas de nossa História – conforme avaliação de Adalice Araújo, a maior expressão do Movimento Modernista Brasileiro de 1922 no Paraná. Suas obras ficarão expostas à visitação pública, no Jardim e no Museu Memorial Paranista, visando o reforço da educação para a arte em Curitiba.
O valor despendido com as peças representa 1,2% do orçamento do órgão responsável pela aquisição. O espaço receberá ainda outras 58 peças, cedidas em regime de comodato pelo governo do Estado, numa parceria única para criar na capital paranaense um jardim similar aos que se acham espalhados por países com forte tradição cultural, como Alemanha, Canadá e Estados Unidos.
O projeto reforça, ainda, uma característica importante de Curitiba: a de valorizar os parques, praças e memoriais voltados tanto ao convívio da população e visitação dos turistas quanto à disseminação da cultura de povos e personagens que fazem parte da História de Curitiba. As peças a serem adquiridas passaram por rigoroso processo de avaliação e perícia especializada.
João Turin foi responsável por inúmeras obras que se tornaram símbolos do Movimento Paranista, braço do Movimento Modernista Brasileiro. Foi o único paranaense premiado na Escola de Belas Artes da França e da Bélgica e professor-criador da Escola de Música e Belas Artes do Paraná (em 1948). Notabilizou-se por defender que suas obras deveriam ser 'tocadas e sentidas' pela população – vindo daí o grande número de esculturas do artista expostas em espaços abertos de diversas cidades".
Natural de Morretes, no litoral paranaense, João Turin viveu entre os anos de 1878 e 1948. A Gazeta do Povo também entrou em contato com a empresa fornecedora das estátuas e aguarda retorno.
O projeto
A criação do Memorial Paranista foi anunciada em janeiro de 2018, no início da gestão do prefeito Rafael Greca (PMN). O novo espaço começou a ser planejado em dezembro do ano passado, a partir da assinatura do decreto municipal 2218/2018. O projeto (veja abaixo), assinado pelo arquiteto Guilherme Kloch, do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba (Ippuc), foi apresentado por Greca em 28 de junho de 2019.
Depois de pronta, a nova atração da cidade contará também com 325 bancos de praça desenhados por João Turin e feitos de concreto. Pela proposta, essas peças contarão com ícones de pinhões, grimpas e ramas de pinheiros. A ideia é que, com a intervenção, no parque, o Centro de Criatividade seja revitalizado.
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