Professor João Augusto Reque| Foto: Arquivo da família
Ouça este conteúdo

A educação era um amor inerente à vida do professor João Augusto Reque, de 49 anos. O primor que ele dedicava à preparação de cada exercício, aulas e cursos para se aperfeiçoar na profissão perdurou até depois de seu falecimento, devido a um câncer linfático, no dia 14 de fevereiro deste ano.

CARREGANDO :)

Receba as principais notícias do PR em seu celular

No dia 21 de setembro aconteceu a defesa do mestrado de João Augusto em História, pela UFPR. Como forma de homenagear e honrar o trabalho do marido, que já havia passado pela fase de qualificação, a esposa e também professora Lilian Ianke Leite apresentou a dissertação à banca, que aprovou o trabalho, e a um grupo de emocionados espectadores virtuais.

Publicidade

“Achei importante concluir isso e divulgar porque temos um filho de 12 anos e quero que ele tenha reforçado o trabalho do pai no magistério como professor”, conta Lilian, que é doutora pela UFPR em História da Educação e com quem João compartilhava muito do processo de desenvolvimento do mestrado. Mesmo nas pesadas sessões de tratamento contra a doença, ele levava livros e cadernos para anotar, aproveitando todo o tempo que podia para se dedicar aos estudos.

Completou o magistério há 26 anos e somou mais de 20 anos em salas de aula da rede pública de ensino, pois durante um período trabalhou na Secretaria de Cultura do Paraná. João Augusto Reque literalmente parou seu caminho para seguir o rumo da educação. Estava indo para a universidade onde cursava Ciências Contábeis, carreira seguida pelo pai, e desceu do ônibus ao perceber que queria mesmo ser professor. No ensino médio técnico, que cursou no antigo CEFET, teve uma disciplina de História da Arte que iniciou a paixão pela área.

Gostava de ensinar sobre a história do Paraná

Enxergava a história ambiental do Paraná como base de toda a história do estado, e por isso se dedicava a ensinar aos alunos essa relação e a importância de entender e defender o meio ambiente, os rios e as florestas. Era um dos poucos professores que incluíam a história paranaense no currículo e fazia isso de maneira interativa, atraindo a atenção das crianças e adolescentes. Como o ensino desse recorte histórico e geográfico não era tão comum e não estava no conteúdo geral dos livros didáticos, tinha a preocupação de produzir material que pudesse ser utilizado por outros professores, caso quisessem. Deixou um legado nesse sentido.

Com frequência era citado como professor preferido de vários alunos, provavelmente por conseguir transmitir conhecimento de forma palpável à realidade dos estudantes, construindo paralelos interessantes e juntando cultura à entrega de conteúdo. Tocava violão e utilizava a música para estabelecer relações históricas. Cantava “Planeta água” para falar da preservação das fontes hídricas, “Sobradinho” para contar a história do fim das Sete Quedas do Iguaçu para a construção da usina de Itaipu e mostrava a produção musical da época para falar da ditadura militar no Brasil.

“Ele dizia que não era prazeroso trabalhar apenas conteúdo, gostava de enriquecer as aulas com essas metodologias diferentes”, lembra Lilian. Identificou, fez um mapeamento da situação dos rios na região de Curitiba e levou os estudantes para ver de perto essa realidade. Pouco antes da pandemia e das aulas virtuais, na escola em Campo Largo onde dava aula, contou a história da igreja e da imigração no local, também movimentando as turmas para ver de perto os pontos-chave da cidade em que momentos históricos aconteceram. “Ele era muito dedicado, super comprometido e nunca reclamava do trabalho. Defendia muito o ensino público”, completa Lilian.

Publicidade

A família tinha como hobby de fim de semana ir a sebos, trocar e comprar livros. O professor tinha o maior prazer em emprestar livros da vasta biblioteca aos amigos. Com sua ótima memória, uma única pista sobre uma publicação era suficiente para João localizar um livro. Nunca ficava sem uma leitura para comentar, e chegava a ler dois ou três livros ao mesmo tempo. Também gostava de nadar, de reunir os amigos e tocar no violão as músicas de sua juventude.