Dar uma breve saída para comprar pão e demorar horas para voltar para casa era algo que acontecia com frequência com o médico ortopedista Jorge Elmor Junior, morador de Irati (PR) durante a maior parte da vida. Isso porque, por onde quer que passasse, encontrava conhecidos e engatava papos até esquecer que o café estava para passar em casa. Apesar de não ser nativo, ele adotou o município como morada e criou família ali, se tornando parte importante da realidade local. Jorge faleceu no dia 13 de dezembro, aos 74 anos, devido a complicações de um câncer no esôfago.
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Natural de Ribeirão Preto (SP), aos cinco anos assustava os amiguinhos ao operar os gatos da vizinhança. A medicina foi uma vocação que apareceu na infância e só se fortaleceu com o passar do tempo. Fascinado pela profissão e apaixonado pela rotina dos hospitais, em 1966 se mudou para Curitiba para estudar na PUC-PR. Concluído o curso, foi residente de ortopedia no Hospital César Pernetta e o primeiro residente da especialidade na Clínica de Fraturas XV, atual Hospital XV.
No início dos anos 1970, recebeu convites para atuar em algumas cidades do interior do estado, pois não havia muitos especialistas em ortopedia fora da capital. Depois de conhecer alguns desses municípios com a esposa, Elisa, optou, em 1975, por firmar moradia em Irati, encantado com a região.
Jorge fundou o primeiro hospital particular da região, o Centro Médico Hospitalar Irati, foi médico perito do INSS, de 1975 a 2009, e presidente do Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Saúde de Irati e Região, de 1997 a 2001. Conhecido da comunidade, sabia que muitos pacientes não tinham condições de pagar por procedimentos, por isso era comum a atuação pro bono. Pela ausência de cobrança, recebia presentes inusitados de agradecimento, como sacos de milho e outros alimentos. Galos e cabritos vivos, dados com a intenção de virarem jantar na casa do médico, cativavam seus três filhos e se tornavam bichos de estimação.
Alguns pacientes, sabendo de seu gosto especial por bolos de fubá, estavam sempre com uma fornada quentinha para retribuir o atendimento. “Foi uma comunidade que abraçou muito ele e a nossa família. Meu pai gostava desse estilo de vida no interior, de papear sobre a vida e contar histórias”, lembra a filha Silvia Helena Elmor. O pai era daqueles que podiam sair de manhã sem compromissos marcados e retornar apenas à noite, depois de passar o dia na companhia de amigos em diferentes locais. Para uma boa prosa não havia pressa, e ele aproveitava que os ponteiros do relógio se moviam mais devagar no interior.
Sua participação ativa no município contribuiu para ações de melhoria na qualidade de vida da população, como a adição de flúor no fornecimento de água, para diminuir os casos de cáries e outros problemas de saúde bucal. A plantação de pinheiros na entrada de Irati e a construção de praças com o Rotary Club, do qual ele fazia parte, também foram ações significativas. Além disso, Jorge foi diretor do lar de idosos do município.
Quando lhe solicitavam ajuda, família, conhecidos ou quem quer que fosse, suas palavras de reação eram sempre “eu resolvo”. Com esse intuito, movia mundos e fundos para auxiliar quem precisava. “Ele tinha uma personalidade forte, era muito obstinado”, comenta Silvia. A gargalhada marcante, sonora e prazerosa, o precedia. No tempo livre, gostava de ler sobre medicina e outros assuntos, assistir filmes de ação e, por algum tempo, cultivou orquídeas. Jorge Elmor Junior deixa esposa, três filhos e dois netos.
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