Leozita era daquelas professoras que deram aula para metade da cidade. Lecionou artes, música e língua portuguesa a um sem número de alunos londrinenses. Para além das lousas e dos bancos da escola, lutou por melhorias na carreira dos educadores em uma época em que se organizar para ir para a rua pedir direitos era considerado uma ameaça à ordem. Leozita Baggio Vieira morreu aos 79 anos, em Londrina (PR), por problemas renais.
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A infância da menina que amava tocar piano não foi composta só pela leveza das notas musicais. Aos dez anos de idade, viu a serralheria da qual o pai era dono em Votuporanga (SP) ser consumida pelo fogo. Foi esse italiano desconfiado e anarquista quem ensinou a ela a importância de agir coletivamente para o bem da sociedade. Em busca de vida nova, a família se muda para Londrina, onde Leozita conclui os estudos básicos e, ainda uma adolescente musicista, começa a dar aulas particulares de piano.
Estudou Educação Musical, Letras Anglo-Portuguesa, Educação Artística, Pedagogia, Administração Escolar, Supervisão Escolar, Metodologia do Ensino Superior e, com isso, ampliou a atuação em escolas e passou a entender melhor o funcionamento e organização do trabalho dos professores. Professora desde 1977, era concursada em nível estadual, dava aula em instituições particulares e em Centros Estaduais de Educação Básica para Jovens e Adultos, os CEEBJA. Fazia tudo isso enquanto criava os cinco filhos. Apesar de o marido preferir que ela ficasse em casa, seu salário muitas vezes superou o dele e garantiu sustento pleno para a família.
Foi pioneira na defesa da hora-atividade no Paraná
Foi atuante na APP - Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Paraná desde os anos 1970, época em que a organização ainda não era sindicato, e sim uma associação. Fez parte de duas gestões e chegou a se candidatar à presidência. Sua luta era por melhores condições de vida aos professores. Em 1978, participou de uma das primeiras greves de Londrina, brigou pelo registro de professor licenciado, pelo pagamento regular de salários, por hora-atividade paga e pela criação de um plano de cargos e salários para a categoria, entre outras reivindicações.
Sueli Aparecida Lopes está desenvolvendo uma dissertação de mestrado em Sociologia na Universidade Estadual de Londrina (UEL), foi aluna de Leozita e escreveu sobre ela para o trabalho. A pesquisadora conta que Leozita “acreditava muito no processo democrático e no sindicato como um movimento social” e que era uma militante de ativismo social mais ligado ao associativismo. “Ela sempre atuou nos bastidores. Era muito boa em negociar, pois era ponderada, argumentativa e calma”, complementa a colega.
Muito ligada à arte e exímia pintora de telas, organizava exposições e outros eventos culturais. Especialmente após a aposentadoria, se dedicou a realizar ações beneficentes. Fazia parte de diversas entidades ligadas ao empreendedorismo e ao voluntariado, como a Casa do Empreendedor, Elos Clube de Londrina, BPWLONDRINA - Associação de Mulheres de Negócios Profissionais e COMPAZ - Conselho Municipal de Cultura De Paz.
Além disso, mobilizava as mulheres do empresariado em campanhas com temas sociais, como “Dê brinquedo, não dê armas” e o “Abraço no Lago”, contra a violência. Organizava também o Jantar Rosa, com o objetivo de angariar fundos para comunidades carentes. “Ela era uma líder nata, estava sempre organizando algo. E sempre na frente da câmera com um microfone na mão falando sobre essas ações”, relembra Rosemary Dias Costa, diretora dos aposentados da APP-Sindicato.
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