Seis cidades do Paraná entre 50 estão com as melhores condições para empreendedor em todo o Brasil.| Foto: Daniel Castellano/SMCS
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A Escola Nacional de Administração Pública (Enap) realiza, desde 2014, um estudo que busca identificar quais as cidades brasileiras mais atrativas aos empreendedores. Para tanto, a entidade leva em conta uma série de fatores, como ambiente regulatório, infraestrutura, mercado, acesso a capital, inovação, capital humano e cultura empreendedora. Enquanto São Paulo lidera a lista nacional geral (8,67 de 10 pontos possíveis), a Região Sul do país é destaque no levantamento, com as cidades catarinenses Florianópolis (8,41) e Joinville (7,99) completando o pódio.

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No Paraná, seis cidades figuram entre as 50 mais empreendedoras do Brasil no ranking do Enep: Curitiba (7° lugar), Maringá (20°), Londrina (23°), São José dos Pinhais (26°), Cascavel (30°) e Ponta Grossa (50°). A capital paranaense também ganha destaque quando a pesquisa analisa o acesso a capital para negócios, e aparece em terceiro lugar no quesito, atrás de São Paulo e Osasco (SP).

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“As evidências apontam que a facilidade em obter recursos financeiros é um dos principais motivos para empreendedores se arriscarem em novas oportunidades. Ele também protege o negócio de choques de mercados e dos efeitos de riscos e incertezas”, explica o diretor de Altos Estudos (DAE) da Enap, Alexandre Gomide.

O perfil empreendedor do Paraná identificado no levantamento se verifica também na prática no Estado. Não são incomuns os empreendimentos paranaenses que começaram pequenos e, com o tempo, se tornaram líderes em suas áreas no Brasil em diversas áreas, do setor alimentício até a indústria têxtil. Terra fértil, organização, incentivo ao empreendedorismo e investimento em inovação são alguns pontos que fazem o Estado ter este perfil, avalia César Rissete, diretor-técnico do Sebrae/PR e especialista em Políticas Públicas para micro e pequenas empresas.

Caldo Bom

Uma das marcas que se tornou reconhecida fora do Paraná é a Stival Alimentos Indústria e Comércio Ltda. A empresa, de nome comercial Caldo Bom, foi fundada em 1971, no bairro de Santa Felicidade, em Curitiba, por uma família de origem italiana. Ainda em um espaço pequeno e com poucos produtos, a família iniciou a produção de alimentos.

Com o passar dos anos veio o crescimento da indústria. Dessa forma, a matriz da Caldo Bom foi para Campo Largo, Região Metropolitana de Curitiba. O CEO da Caldo Bom, Alexandre Stival afirma que o fato de a empresa permanecer no Paraná é de suma importância. “Estamos em um corredor agrícola, perto de grandes potenciais agrícolas. Grandes regiões produtoras de feijão estão aqui. Um dos maiores produtores de feijão do Brasil é o Paraná, com destaque para Ponta Grossa e Prudentópolis”, diz Stival.

Além do solo fértil, o CEO evidencia que também foi interessante permanecer com a indústria no Estado para o processo de qualidade. “Quando a marca é forte no Paraná é porque é boa. No Paraná tem marcas antigas que são reconhecidas pelo padrão de qualidade, uma exigência do povo”. Atualmente, a marca tem mais de 300 produtos, presente fortemente na região sul e sudeste e, recentemente, começou a investir em fast food.

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Grupo Positivo

Outro empreendimento que começou pequeno e alcançou o reconhecimento nacional foi o Grupo Positivo. A empresa iniciou como um cursinho preparatório, em 1982, com oito professores que tinham o intuito de fazer uma formação mais próxima do aluno e com material impresso colorido, uma novidade para a época.

Ao longo dos anos, surgiu a editora e a gráfica. Houve também uma expansão na área de ensino, com atuação no Ensino Médio, Anos Iniciais e Ensino Infantil. “Fomos investindo na parte editorial e na parte gráfica. Com a expansão da metodologia, os materiais começaram a ter sucesso e muitas escolas queriam ter o nosso livro”, conta Lucas Guimarães, presidente da Positivo Educacional.

Segundo Guimarães, na mesma época em que começou o investimento no setor de ensino superior – que foi vendido, em 2019 -, o grupo de empreendedores deu início ao processo de produção de computadores no Brasil, em 1989. Com isso, surgiu a Positivo Informática, que, em 2017, passou a ser chamada de Positivo Tecnologia. A empresa que tem em seu porfolio computadores, celulares, tablets e servidores já chegou a expandir a operação em outros países, como Argentina, Ruanda, Quênia, China e Taiwan.

Atualmente, o Grupo Positivo está presente no Brasil inteiro, principalmente, com a editora – com livros e apostilas para as escolas – e com a Positivo Tecnologia. As escolas estão concentradas no Paraná e Santa Catarina.  Para o presidente do Grupo, a educação paranaense é um dos motivos para que haja essa característica empreendedora. "A educação de qualidade ajuda a ter característica empreendedora. O povo é desbravador, com muitos imigrantes, uma veia cultural de quem veio para trabalhar no Paraná".

Oportunidade, investimento e educação fazem a diferença  

O Paraná, via de regra, tem bons índices de crescimento e abertura de empresas, segundo César Rissete, diretor-técnico do Sebrae/PR. “No Paraná, essas cidades empreendedoras estão distribuídas no Estado, não é concentrado, temos polos em várias cidades, o que mostra que as oportunidades estão distribuídas”.

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Mas há possíveis motivos do Estado se destacar no empreendedorismo. “Temos um processo que vem de incentivo a empresas, especialmente a pequenas empresas. Políticas estaduais e municipais ajudaram a reduzir a burocracia. Uma empresa pode ser aberta em menos de 15 horas. Antes, era aberto em 4 ou 5 mil horas”, explica o especialista em Políticas Públicas para micro e pequenas empresas.

A tecnologia e o acesso a informação aos futuros empreendedores auxiliam as empresas a entenderem os negócios e a organização de uma marca. A formação qualificada também é forte no Estado. “Em vários pontos no Estado, há instituições locais com formação qualificada. Tem um processo de formação qualificada de mão de obra muito presente no Paraná”, ressalta Rissete.

“No Paraná tem muitas instituições de apoio. Grupos empresariais fortes. As cooperativas do Paraná são diferenciadas a de outros estados. Nos últimos anos, tivemos os ecossistemas de inovação no Paraná também”, complementa o especialista.

Segundo especialista, o paranaense é exigente

O consumidor do Paraná é conhecido como um dos mais exigentes do Brasil, segundo Rissete. Ele conta que muitas empresas vêm lançar seus produtos em Curitiba (PR) antes de lançarem para o país inteiro. Para ele, isso torna as empresas mais competitivas para se manterem nos primeiros lugares do mercado.

“O consumidor mais exigente vê o que está acontecendo e exige um serviço de qualidade, o que faz com que as empresas possam ser puxadas para serem melhores”, afirma.

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Essa competitividade também é uma forte marca do agronegócio paranaense. A proximidade com grandes centros, como São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, favorecem esse mercado.  César Rissete, diretor-técnico do Sebrae/PR, explica que a proximidade com grandes centros e a conexão com a sociedade ajudam o agronegócio a deslanchar no Estado. “Os produtores do Paraná tem investido em uma experiência diferente e produtos diferenciados. Por isso, os produtos paranaenses têm ganhado o mundo”.