Passado um ano da primeira tentativa de privatização, o Parque Estadual do Guartelá passará por uma nova licitação para que seja concedido à iniciativa privada. O edital com as prerrogativas para atrair empresas interessadas sofreu mudanças desde então - na data marcada para abertura dos envelopes, 18 de janeiro de 2022, não houve recebimento de propostas.
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A aposta para atrair o investidor, agora, é uma redução no aporte de investimentos e ampliação da oferta de serviços, além de diminuição na taxa de outorga paga ao poder público. Em vez dos mínimos 7% lançados anteriormente, a outorga agora será de pelo menos 2% sobre a receita bruta operacional e deverá ser paga mensalmente ao governo.
Essa taxa, aliás, será o critério utilizado para escolha do vencedor. Ela constitui o repasse das concessionárias ao poder concedente pelo direito de explorar a área. Nesta licitação, quem oferecer maior percentual, leva a concessão.
A abertura dos envelopes está marcada para o dia 28 de fevereiro.
Mudanças para atrair investidores
Unidade de conservação localizada nos Campos Gerais do Paraná, o Parque Estadual do Guartelá abriga o maior cânion do Brasil e um dos maiores do mundo em extensão. Mas nem essa característica foi suficiente para compensar os entraves que resultaram no fracasso da primeira licitação. Entre eles, a superoferta de unidades de conservação para concessão em todo o Brasil. “São poucos os grupos que participam e fazem parte desses processos pela especialidade que se faz necessária”, explica Rafael Andreguetto, diretor do Patrimônio Natural do Instituto Água e Terra (IAT), vinculado à Secretaria de Desenvolvimento Sustentável do Paraná e gestor das unidades de conservação estaduais.
Após a primeira tentativa de licitação para que o Guartelá fosse concedido à iniciativa privada, o IAT abriu consulta pública aos possíveis proponentes para entender o que os desmotivou a participar. E, além da concorrência com outras unidades, constatou mais empecilhos: “Os investidores apontaram que o valor dos investimentos era alto, com pouco retorno econômico, além da questão de infraestrutura local e regional”, cita.
A partir daí, a estratégia foi alterar esses itens no edital, adequando o valor à demanda atual do parque, estimada em 20 a 25 mil visitantes por ano – e que deve ter crescimento gradual. Com isso, o valor estimado de investimentos a serem feitos durante o prazo de concessão, de 30 anos, será de aproximadamente R$ 4,8 milhões, contra os R$ 11,7 milhões lançados um ano atrás. “Ajustes pontuais em algumas obrigações, principalmente de obras e serviços necessários, impactaram neste valor”, justifica Andreguetto.
Outra novidade será a possibilidade de explorar mais serviços. Entre eles, disponibilização de área de estacionamento para motorhomes, o que possibilitará aumento da receita. “E o plano de manejo, em fase de revisão, permitirá novos atrativos e áreas de visitação no parque, consequentemente abrindo espaço para trabalhar o entorno”, afirma.
Portanto, além dos itens obrigatórios previstos no edital, como oferta de transporte interno, implantação de bilheteria, centro de visitantes, serviços de alimentação, loja de conveniência, monitoramento das trilhas e das estruturas, assim como segurança patrimonial, quem ganhar a licitação poderá ainda ofertar atividades como esportes de aventura, por exemplo. “Existe possibilidade de explorar o rafting, tirolesa, arvorismo, rapel. Ficará a cargo do proponente a inclusão”, antecipa.
Município também espera se beneficiar
Cidade-base doParque Estadual do Guartelá, Tibagi também espera colher os frutos da concessão. É lá que se concentram os hotéis e restaurantes que recebem os turistas em visita ao parque. “Acreditamos que, com uma melhor infraestrutura, a empresa vencedora da concorrência consiga trazer o turista não só até o parque, mas também até Tibagi, que fica a 20 quilômetros”, espera o prefeito Artur Butina.
O secretário de Turismo do município, Maurício Martins Pereira, acredita que a cidade tem infraestrutura necessária para recepcionar os turistas, mesmo com o aumento da demanda. Segundo ele, Tibagi conta hoje com 400 leitos de hospedagem e investe em capacitação profissional para o turismo. “Tibagi está se preparando para esse aumento gradativo, mas isso a longo prazo, porque a roda do turismo necessita de uma cadeia que funciona em conjunto. A gente acredita que com o fluxo contínuo de pessoas, o mercado do turismo vai ser aquecido. Inclusive já temos novas pousadas, novos empreendimentos, que estão sendo abertos”, afirma.
A expectativa é que o visitante fomente o turismo visitando outros atrativos, como as famosas cachoeiras do entorno, após o Guartelá ser concedido à iniciativa privada.
Perfil do visitante
Embora haja expectativa de um aumento expressivo no número de visitantes – Rafael Andreguetto espera alcançar os 40 mil/ano, como já houve no passado -, vale lembrar que o perfil do turista do Guartelá é diferente do de Vila Velha. Por isso, comparar dados de ambos não é o melhor critério para avaliar o sucesso de cada caso.
O primeiro, por estar dentro de um cânion e ter áreas mais íngremes, exige mais capacidade física do visitante para percorrer as trilhas e acaba por atrair pessoas mais aventureiras. Já o segundo, chama quem gosta de natureza, mas ainda tem um perfil mais urbano.
“Não acredito que há tendência de mudança no perfil do visitante (do Guartelá) porque ele busca essa contemplação e integração maior com a natureza. Mas claro que tudo o que o parque oferece será ofertado com mais qualidade e a acessibilidade será maior, principalmente com o transporte interno, que vai permitir que crianças ou pessoas com mais idade, além daquelas com menos capacidade física, cheguem aos atrativos, como o mirante”, explica.
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