Praia lotada, música ao vivo nos bares, famílias e amigos na mesa farta do restaurante. Essas atividades típicas de um verão no litoral não devem voltar à nossa rotina tão cedo. Faltando cerca de dois meses para o início oficial da temporada, comerciantes e empresários litorâneos se preparam para tentar garantir uma retomada tranquila da economia, mesmo que parcial, com medidas de segurança para turistas e moradores. A expectativa é que durante o período que se aproxima seja possível recuperar uma parte do prejuízo deixado nos últimos sete meses pela pandemia. No caso das pousadas e restaurantes, proprietários amargaram um longo período de quartos vagos e mesas vazias. Todos são unânimes em afirmar que o impacto foi grande nos negócios e muitos garantem que será preciso mais dois ou três anos para que seus estabelecimentos saiam do vermelho.
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Tentando ajudar esse ramo tão afetado pela Covid-19, a Agência de Desenvolvimento do Turismo Sustentável do Litoral do Paraná (Adetur) criou um protocolo de biossegurança para os diversos segmentos e distribuiu uma cartilha com recomendações para que os empresários possam aplicar as medidas de segurança e higiene em seus estabelecimentos. “A Adetur Litoral, Sebrae-PR e Paraná Turismo estão desenvolvendo um programa de capacitações gratuitas no litoral. Os treinamentos são abertos, realizados virtualmente e tiveram início no mês de setembro e devem se estender até o final de dezembro para preparar os profissionais dos diversos setores do turismo – gastronomia, hospedagem, etc – para que eles possam trabalhar nesse momento de pandemia. Os cursos vão deste hospitalidade até como humanizar o atendimento em tempos de coronavírus e gestão ambiental com protocolos de biossegurança”, diz Patrícia Assis, executiva da entidade.
Todo esse material foi reunido de forma simples e objetiva para facilitar o entendimento de empresários, colaboradores e dos próprios turistas. “A obrigação de segui-los não é apenas do empreendimento como também dos visitantes. O turista precisa ter essa consciência de que os estabelecimentos e o município possuem regras e essas devem ser seguidas rigorosamente para a proteção e segurança de todos. Dessa maneira conseguiremos fazer o fomento da atividade, uma reabertura segura com consciência, segurança e com muita responsabilidade. Os protocolos de segurança são para proteção de todos”, reforça.
Segundo ela, os empresários do litoral estão conscientes da necessidade de seguirem todas essas medidas, pois a mídia negativa para quem não seguir as regras pode ser muito grande e destrutiva. “Esperamos o fortalecimento da atividade turística no litoral do Paraná. Temos boas expectativas. Tenho certeza que o litoral todo vai conseguir aplicar no seu dia-a-dia essas ações no atendimento ao cliente e na prestação de serviços com qualidade, na comercialização do seu produto. Esperamos que os empresários utilizem essas informações e façam o desenvolvimento da atividade com responsabilidade e segurança nesse momento de pandemia no litoral do Paraná”, finaliza.
Matinhos precisa de temporada positiva para reaquecer a economia
Adriano Menine Ribeiro, presidente da Associação Comercial e Empresarial de Matinhos, lembra que as empresas do município ficaram impossibilitadas de abrir de maneira total por 18 dias. Após esse período foi iniciada uma janela de diálogo com o setor para que ocorresse uma abertura gradativa com limitação de horário. “A redução de receita das empresas, em alguns segmentos, foi total. A queda de faturamento foi de 50% a 70% e algumas ainda continuam da mesma forma. Alguns segmentos se reinventaram, mas nem todos lograram êxito com essas alterações e outros permanecem sem poder trabalhar”, diz.
Segundo Ribeiro, a expectativa é para retomada durante o fim do ano. “Precisamos de uma temporada positiva para recuperar a economia local. Obviamente esse período não nos fará reparar os prejuízos de uma forma total e sim em partes. Infelizmente para recuperar 100% dos prejuízos ocasionados por esses fechamentos recorrentes nós precisaríamos aí de muito tempo. Não é só uma temporada, um ano que fará a diferença para o comerciante”, diz.
O executivo reclama ainda da maneira que o poder público dividiu os serviços, classificando as atividades como essenciais e não essenciais, o que, segundo ele, foi uma atitude equivocada. “Incomoda a forma como o poder público vem tratando a diferenciação dos segmentos, o que é uma lástima. Não existe atividade não essencial para o proprietário da empresa. Toda atividade é essencial independente do tamanho que ela tenha, pois é dela que o proprietário tira o seu sustento e as famílias dos colaboradores que nela trabalharam”, desabafa.
Ilha do Mel reabre de olho na temporada
A Ilha do Mel, um dos principais cartões postais do litoral paranaenses foi, talvez, o local que mais sentiu o impacto da pandemia na região. Logo no início das notícias sobre a doença, ainda no mês de março, o acesso foi totalmente fechado para visitantes e desde então pousadas e restaurantes ficaram sem os turistas, sua principal fonte de renda. A reabertura aconteceu no último dia 20 de setembro e serviu como um “teste” de como deve ser a temporada no local. Mesmo com as restrições e redução da capacidade para a recepção do público, os empresários ficaram animados com a lotação, porém, também acreditam que será preciso muito tempo para recuperar o prejuízo causado pelos meses de fechamento isolamento.
Gilberto Keserle, proprietário da Pousada Orquídeas, diz que a retomada tem sido gradual. “Propusemos uma série de medidas para quando a ilha fosse liberada os protocolos de segurança já estivessem definidos. Encaminhamos isso para as autoridades, para os prefeitos de Paranaguá e de Pontal do Sul, para o governo do estado. Então quando a ilha foi liberada, ela ocorreu de forma gradual para que não houvesse de repente um volume muito grande de pessoas aqui, em um mesmo momento, e isso viesse a impactar e ter uma repercussão negativa com a pandemia e isso viesse a prejudicar o restante da temporada”, diz.
De acordo com ele, os empresário que abriram tiveram um retorno positivo; se os casos da doença não aumentarem no Paraná e o ritmo for mantido, a expectativa é que a situação dos empresários locais melhore de forma substancial. Ele pede que as autoridades sejam mais rigorosas com a fiscalização de quem chega à ilha para que não se perca um trabalho de preparação realizado ao longo dos últimos meses. “A reabertura em setembro foi um período teste e deu pra fazer uma série de verificações. Existem ainda pontos a serem melhorados, principalmente no que diz respeito à fiscalização das pessoas que acessam a Ilha. Dentro do protocolo de visitação ficaram estabelecidas as barreiras sanitárias para que as pessoas passem ao menos por uma medição de temperatura para que possam chegar aqui de uma maneira mais tranquila. Pedimos, inclusive ao poder público, que intensifique essa fiscalização para que não tenhamos pessoas entrando aqui sem que tenham passado por esses cuidados todos na saída do continente”.
Turismo gastronômico já ressurge em Morretes
Em Morretes, outro polo turístico do litoral paranaense, a dependência do turismo chega a 50%. Reconhecido pela gastronomia local e o famoso barreado, os restaurantes tiveram que se adaptar num primeiro momento a paralisação das atividades. Posteriormente, os estabelecimentos começaram a reabrir, porém, com a capacidade de frequentadores limitada pela metade. O Restaurante Madalozo, aberto desde 1967, enfrentou o período mais drástico de toda a sua história e teve de se reinventar para não fechar as portas de forma definitiva, depois de cinco meses de paralisação obrigatória.
Mesmo com as atividades retomadas após esse período, as barreiras sanitárias impostas pelo município para controle da doença inviabilizaram a reabertura, uma vez que os turistas eram impedidos de entrar na cidade. “Como o turista que vem saborear o barreado o faz no final de semana, ficou totalmente inviável abrir o restaurante. A situação foi amenizada com o cadastramento prévio de turistas adotado por três semanas. Posteriormente a abertura foi autorizada”, lembra Maurício Laffite, que administra o local com sua família.De acordo com ele, a situação dos empresários foi amenizada com as medidas adotadas pelo governo federal, como a suspensão do contrato dos funcionários. “Se não fosse isso, realmente, a gente não poderia continuar”. Com um mês de retomada, Laffite afirma que o período deu um fôlego para que o restaurante se prepare para o aumento de turistas na temporada. “Podemos dizer que foi acima da expectativa”, comemora.
Plano de retomada: preferência por viagens de até 200 km no próprio estado
O governo do estado e entidades do setor prepararam um plano de retomada do turismo regional em todo o Paraná. A principal meta é possibilitar a recuperação a partir do turismo regional, com viagens até de 200 quilômetros dentro do próprio estado, principalmente nos segmentos ecoturismo, aventura e rural. Elas consistem, respectivamente, na costura de parcerias com entidades de classe e instâncias de governança para capacitação e qualificação dos serviços, como hospedagem, alimentação e agenciamento e na retomada dos negócios.
Segundo Isabella Tioqueta, diretora técnica do Paraná Turismo, esse projeto envolve todo o estado, mas desde o início da elaboração, ainda em abril, foi dada uma atenção especial ao litoral, já pensando na temporada de verão. “Já imaginávamos que essa retomada seria ainda dentro da pandemia e seria necessária toda uma preparação, envolvendo todas as instituições do estado. Para esse ano, focando na parte empresarial da Operação Verão, foi desenvolvido um projeto de capacitação ampliado com vários módulos para que os empresários locais e os ambulantes possam estar preparados para o atendimento ao turista quando chegarmos ao final do ano. Todos esses trabalhos estão sendo realizados com o suporte das autoridades da saúde para que tenhamos o aval e tudo aconteça da forma correta e dentro das prioridades do momento. A expectativa dos empresários é positiva e que esse seja um pontapé inicial para esse retorno”, diz.
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