Toda vez que os sinos tocam na Igreja São Vicente de Paulo, no bairro São Francisco em Curitiba, é o padre Lourenço Biernaski que está falando. O comparativo é feito pelos religiosos da Congregação da Missão Província do Sul, da qual ele fez parte durante quase 70 anos, porque o padre era um contador de histórias e de fatos, e suas palavras tinham tanto valor que nunca faltavam ouvidos ávidos por absorvê-las. Ele faleceu no dia 6 de outubro, aos 92 anos, devido a uma pneumonia.
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O sino da nota Mi, em especial, carrega outra semelhança com o sacerdote católico: é o primeiro que começa a soar e o último que se cala. Padre Lourenço também chegava sempre antes de todos nos compromissos e partia por último. Sua foto e nome, junto com os de São Vicente de Paulo e Santa Luísa de Marillac, estão gravados nos sinos como forma de homenagem, realizada em 2019. Professor, missionário e coordenador das missões populares nas paróquias vicentinas nos anos 70, pároco, palestrante em cursilhos, responsável pela casa diaconal, por várias vezes superior da Congregação, ou seja, responsável pela casa e pelos padres que ali residem. Sua atuação na igreja foi tão ampla quanto sua energia de viver, até o último momento.
Filho de pais poloneses, nasceu na colônia Dom Pedro II, em Campo Largo, e nunca enfraqueceu os laços com a família, grande incentivadora da vida religiosa dele e de outros membros. Antes dele, todos os padres da Província eram formados na Europa e se mudavam para o Brasil. Ele foi o primeiro padre brasileiro a ser ordenado, após realizar todos os estudos em Paris, na França. Desde então, dedicou praticamente todo o seu tempo ao trabalho missionário e a preservar a memória da Província e das imigrações polonesa e alemã no Brasil.
Padre Biernaski era "biblioteca-ambulante"
Com memória potente mesmo na idade avançada, era chamado de biblioteca ambulante. Não fez nenhum curso de bibliotecário, mas, pela organização esmerada, ganhava elogios de quem recebia para pesquisas em seus arquivos. Quando se falava de imigração ou da história da Congregação, era autoridade e guardião. Era consultado frequentemente por pesquisadores e jornalistas e, além de contextualizar e relatar fatos de cabeça, conseguia localizar nos arquivos, em poucos minutos qualquer foto, documento ou livro.
Se comportava como uma mistura de historiador e de jornalista, relatava todos os acontecimentos da Província ao mesmo tempo em que produzia registros importantes para a posteridade. Apenas durante a pandemia, produziu quatro livros. Aproveitou o tempo de isolamento para trabalhar ainda mais na organização de seus materiais. Era extremamente ativo, celebrava, todos os dias, duas missas pela manhã e uma à tarde. Ainda dirigia e se preocupava com os mínimos detalhes do bem estar dos colegas de casa paroquial como se fosse ele o padre mais novo com o dever zelar pelo conforto dos mais idosos.
Quem conviveu com ele por décadas, como o atual provincial da Congregação, padre Odair Miguel Gonçalves dos Santos, lembra que, com o passar dos anos, o padre enérgico foi se tornando mais dócil, mas sem deixar de exigir excelência na atuação de todos os religiosos e sem perder o respeito que conquistou. Isso era imutável. “Nós consultávamos ele sempre em caso de dúvida, ele era muito disponível para todos, sempre. Fosse sobre questões práticas ou aconselhamento, ele tinha uma palavra atenciosa”, relata o padre Odair. Esse respeito não se restringia apenas aos religiosos, mas a toda a comunidade leiga e se estendia a autoridades públicas. Por óbvio, seu nível de cultura também era conhecido. Era fluente em sete idiomas, todos os dias reservava tempo para ler um trecho da Bíblia em cada uma das línguas.
Se preocupava com a recuperação da parte artística bastante relacionada à Igreja Católica, cuidando com carinho do museu da Congregação. Prova dessa intenção foi a restauração da igreja inteira a partir de uma mobilização encabeçada por ele e a própria instalação dos novos sinos, após um incêndio na torre da igreja.
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