Margarita Wasserman decantou a escrita dentro de si antes de expressá-la para o mundo. Viveu bastante, observou, leu de tudo, ouviu e contou histórias em diferentes linguagens para depois, finalmente, pousar a caneta sobre o papel, na casa dos 60 anos. Escrevia sobre aquilo que seus olhos viam e ativava alguma engrenagem, a da reflexão ou a da lembrança do passado. O amigo de infância Dalton Trevisan deu o aval e ela não parou mais de publicar. Até sua morte - aos 94 anos, no dia 19 de maio, por problemas cardíacos - viu nascerem mais de 15 livros de sua autoria.
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Entre poesia e prosa, escrevia sobre a intimidade de Curitiba e os contornos da rotina na região central, onde morou a vida toda. As brincadeiras de pular corda e caracol em uma João Negrão totalmente sem movimento de carros é uma lembrança presente nos textos e nas constantes demonstrações de saudade da infância. Contava que cansou de atravessar a Praça Tiradentes sem tirar os olhos do jornal, de tão vazio que o local era.
Seu olhar e experiências eram transparentes nos relatos. Não se limitavam a ponderações de uma senhorinha a passeio pela Rua XV. Com sutileza e bom humor, os textos carregam pensamentos de quem sabia o significado das injustiças, batalhou por direitos mínimos e, no colo do pai, ouviu sobre mais-valia. A esfera social, mesmo sem querer, estava incrustada nas linhas que compunha.
Refletia sobre o Brasil, pois, como ela mesma diz em uma de suas crônicas: “Não nasci aqui, mas sou brasileira ferrenha”. De uma família de judeus russos cuja história tem coincidências dignas da ficção latino-americana, Margarita nasceu no Uruguai e mudou-se aos dois anos para Curitiba. Filha de comerciantes, viveu intensamente uma época do Centro da qual poucos ainda têm recordação. Da experiência no comércio levou o gosto pelas boutiques, amava demonstrar afeto com presentinhos e presentões.
Estudou no Instituto de Educação do Paraná e na juventude andava com colegas de seus irmãos que mais tarde carimbariam os nomes na literatura paranaense, como Jamil Snege, Valêncio Xavier e o próprio Dalton Trevisan. Ela planejava cursar Odontologia, mas aos 17 anos conheceu o futuro marido e antes dos 20 anos estava casada. Antes de se encontrar na literatura, viveu como dona de casa e por um período como esteticista.
Com a coragem que nunca lhe faltou, bateu de frente com agentes da ditadura militar ao passar semanas de presídio em presídio procurando o genro, preso político. Margarita estava em São Paulo ajudando a filha, a jornalista Noemi Osna, que tinha um filho pequeno e se protegia por também combater o regime militar. Depois de três meses desaparecido, a sogra finalmente conseguiu falar com o genro por causa de uma torta. Ela fez o quitute, foi até o Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), onde ele estava, e argumentou que era aniversário dela – uma verdade, era 2 de maio – e que precisava entregar a torta.
Depois da libertação, o exílio. Margarita fazia questão de visitar a filha nos países em que ela morou até que a anistia chegasse. Também utilizava as cartas como mecanismo de comunicação com ela e com Marli Osna, filha que também passou um período no exterior. As cartas, muito frequentes e ricas em detalhes se tornaram laboratório para o que mais tarde viriam a ser os textos publicados.
Além de frutíferos criativamente, os anos em que passou escrevendo também foram cheios de compromissos sociais. Fazia parte de um sem fim de clubes, organizações e associações intelectuais. Apaixonada por uma boa conversa, puxava os conhecidos na rua para um abraço apertado e um dedo de prosa. Praticava o inglês para não deixá-lo enferrujar, falava espanhol fluente, estudou japonês, italiano e francês.
Às vezes, a timidez atacava e ela restringia os escritos à gaveta. Trabalho para a digitadora oficial, a filha Marli, tirá-los de lá, dar forma para além da letra cursiva e incentivar que fossem mostrados ao mundo. Sair do armário como escritora na maturidade foi uma graça que ela deu a si e a todos os seus leitores. Margarita deixa duas filhas, três netos, quatro bisnetos e um trineto.
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