A Grande Reserva Mata Atlântica, região entre a Serra do Mar e o litoral de São Paulo, Paraná e Santa Catarina, possui um vasto cardápio gastronômico, opções de ecoturismo e negócios sustentáveis de empreendedores que aliam a preservação da natureza com a venda de produtos de alta qualidade.
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A receita dos pequenos empresários passa pelo uso responsável dos recursos naturais com a conservação do maior remanescente contínuo do bioma no mundo, distribuído por 60 municípios nos três estados. No litoral paranaense, a cidade de Morretes tem peixe fresco no prato acompanhado de uma boa cerveja artesanal gelada para refrescar o forte calor e sobremesa feita com ingredientes diretos da Grande Reserva da Mata Atlântica.
Há 10 anos, a nanocervejaria Porto de Cima produz chopes e cervejas de forma artesanal, sem adição de conservantes químicos, com a captação de água das nascentes da floresta, próxima ao quintal de 40 hectares cercada pela Mata Atlântica. Além disso, a empresa usa ingredientes de espécies nativas e divulga a fauna e a flora da região nos rótulos das cervejas artesanais.
“A Porto de Cima cresceu, não em tamanho, mas em qualidade e diversidade, pois nascemos para ser uma cervejaria pequena. Hoje, nosso cervejeiro tem quase 30 rótulos que combina os ingredientes oficiais da cerveja com os sabores da floresta, como frutas da Mata Atlântica, cultivadas no quintal, como ingredientes de produtos locais”, conta a proprietária da cervejaria, Mirian Lovera Silva.
A maioria das bebidas leva o nome de pássaros da região com características paralelas ao tipo da cerveja, como a saborosa “Pica Pau Amber”, de cor vermelha cobre, no estilo American Amber Ale, corpo médio e com sabor de caramelo e pão torrado, realçado pelo amargor do lúpulo. Já a “Bem-Te-Vi Honey Blonde Ale” combina o malte claro brasileiro com o clássico lúpulo americano Amarillo e casca de limão rosa. Também se destaca a “Araponga Aaron's Oktoberfest”, uma clássica Märzen de coloração vermelho-âmbar com presença do malte marcante, inspirada no canto da araponga.
“A cerveja traz ingredientes da floresta. Temos bebidas com palmeira juçara, uma delas defumada com madeira de araçá e cerejas da Mata Atlântica que não possuem nem nomes, além do maracujá, gengibre, mel e cana de açúcar dos produtores da região”, comenta Mirian.
A parceria para venda comercial nas cidades paranaenses de Guaratuba, Antonina e Curitiba foi interrompida pela pandemia de Covid-19 e a cerveja Porto de Cima passou a receber turistas na pequena fábrica e no quintal para degustação e venda das cervejas. “Em Morretes, também temos vários restaurantes, um deles inclusive com torneiras de chope. Em Guaraqueçaba, temos uma cerveja feita para homenagear a cidade, que só é vendida lá”, acrescenta.
A cervejaria é um dos projetos selecionados pela Fundação Grupo Boticário (FGB) para desenvolvimento socioeconômico com a valorização da natureza, da cultura e da história regional. Em parceria com outras entidades públicas e privadas, a FGB desenvolve programas de apoio a empreendedores que atuam na Grande Reserva Mata Atlântica com processos de capacitação, cocriação de soluções, aceleração de negócios, inovação e incentivo financeiro. Também possui um fundo filantrópico para apoiar o desenvolvimento de negócios de impacto socioambiental positivo na Grande Reserva.
Clube de assinatura entrega peixe fresco da Mata Atlântica em Curitiba
A empresa Olha o Peixe! surgiu por causa das dificuldades dos pescadores do litoral paranaense na comercialização do pescado artesanal com preços justos e no escoamento da produção durante todo o ano, não apenas na alta temporada no verão. Além disso, o pescado local de qualidade não chegava até os consumidores em Curitiba.
Em 2018, segundo Felippe Veneziani Abbatepaulo, coordenador do setor de experiência do cliente e logística, a empresa de impacto social surgiu para promover a pesca artesanal e levar o pescado de qualidade até a mesa das pessoas interessadas no produto, ligando as duas pontas da cadeia. Para isso, os preços de compra foram definidos com os trabalhadores, o que beneficiou cerca de 10 comunidades de pesca artesanal, a maioria em Pontal do Paraná.
“O consumidor que nós atendemos está ligado à causa e também está procurando qualidade no produto. Não tem nenhum tipo de conservante e, por mais seja um produto congelado, a forma como a empresa trabalha preserva o sabor. Isso acontece pois na mesma tarde que chega do mar, os peixes são filetados, embalados e levados ao freezer”, conta Abbatepaulo. A iniciativa conquistou, em 2020, o primeiro lugar no Programa Natureza Empreendedora da Fundação Boticário.
Para a entrega do produto fresco, além das vendas avulsas semanais realizadas pela internet, a empresa lançou o Clube de Assinatura de Pescado, com planos mensais de R$ 60, R$ 100 e R$ 140, com as modalidades Prática, Personalizada e Desbravadora dentro de cada pacote. “Na Prática e na Desbravadora, a Olha o Peixe! escolhe quais os pescados serão enviados para os clientes, sendo que o novo assinante responde quais os tipos de preparo e pescados mais gosta. Na personalizada, a pessoa pode escolher uma das opções de combos disponibilizados durante a semana ou se prefere escolher outros pescados disponíveis com quantidades a critério do cliente”, explica.
As opções são atualizadas semanalmente com os pescados da safra e combos disponíveis. Após os pedidos dos assinantes, a entrega é feita em Curitiba por um carro refrigerado que faz o transporte dos peixes, saindo da sede da empresa em Pontal do Paraná.
Banamel: a receita secreta das comunidades de Morretes
A estação agroflorestal Marumby, em Morretes, é responsável pela produção do banamel, uma receita guardada pelas famílias que extraem de maneira artesanal o melado da banana orgânica.
Na agrofloresta - localizada em um sítio com um antigo casarão da família descendente de italianos, construído em 1914 - Luiz Paulo Gnatta Salmon trabalha na plantação e colheita de diversas culturas orgânicas para consumo próprio da família, com uso de técnicas para preservação do meio ambiente e conservação da Mata Atlântica. “O principal excedente que temos é a banana, transformada no banamel e no banamousse”, conta o consultor de sistemas agroflorestais.
Em 2011, ele se mudou de Matinhos (PR) para a estação agroflorestal com objetivo de recuperar a área onde tataravôs e bisavôs trabalhavam com a produção de cachaça. Salmon passou a ter contato com os produtores locais de banana e recebeu a receita secreta das mãos do pesquisador conhecido na região como professor Joel Alves.
“Pela banana ser um fruto doce, o professor Joel começou a questionar porque a comunidade precisava comprar o açúcar da cana e começou a desenvolver uma bananada. Depois, descobriu como filtrar a concentração de açúcar da banana para a transformação do melado”, relata Salmon. Ele ressalta que a estação agroflorestal é um dos pontos que produz o banamel, que levou cerca de 15 anos para ser desenvolvido.
São usados apenas frutos de produção orgânica, que ajuda no aumento da biodiversidade e fertilidade do solo, da agricultura familiar e de regiões com alta produção. A produção ainda usa o resíduo do processo em linhas de geleia, vinagre, ração animal, produtos de limpeza e artesanato, gerando zero resíduo e renda para as famílias locais. A estação agroflorestal é aberta para visitação. O banamel também é vendido no comércio local em Morretes.
*Repórter viajou a convite da Fundação Boticário.
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