Uma nova portaria, a de número 886, publicada pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) nesta semana, revisou o calendário para o plantio da soja no Paraná. Os resultados, no entanto, ainda são "extremamente ruins" para o setor produtivo, avalia o presidente da Federação das Agricultura do Estado do Paraná (Faep/Senar), Ágide Meneguette.
Receba as principais notícias do Paraná pelo WhatsApp
A polêmica sobre a plantação da soja no estado, que é o segundo maior produtor do grão no país, iniciou em julho, quando o Mapa publicou uma portaria apenas dois meses antes do início do plantio, encurtando a janela de semeadura para todo o Paraná de 140 para apenas 100 dias. Isso inviabilizaria cerca de 650 mil hectares destinados à oleaginosa na região sudoeste do estado, o que representaria um recuo de produção de 2,7 milhões de toneladas, o equivalente a perdas superiores a R$ 6 bilhões.
A partir da portaria federal, setor produtivo e entes governamentais encaminharam uma série de pareceres técnicos ao Mapa pedindo o retorno do calendário antigo, que estava em vigência há mais de uma década. A justificativa do Mapa para uma janela menor de semeadura correspondia, segundo o órgão, à necessidade de controle dos casos crescentes da ferrugem asiática, doença que pode erradicar lavouras.
O Paraná, no entanto, faz o enfrentamento à doença há pelo menos 10 anos com a adoção do período chamado de vazio sanitário – que vai de meados de junho ao início de setembro – quando ficam proibidos os cultivos comerciais e voluntários do grão, eliminando possíveis hospedeiros do fungo.
Diante da polêmica, há cerca de duas semanas, nas vésperas do início da semeadura da soja no Paraná, o Mapa disse que poderia rever o calendário, o que fez nesta semana. Porém, a nova publicação, além de não retomar os 140 dias para plantio, manteve perto de 100 dias para algumas regiões do estado e, onde houve ampliação de datas, foi esticada para apenas 120 dias.
Diante da nova publicação, a Faep está elaborando uma nota técnica na qual reforça ser contrária à decisão. “Essa decisão não atende as nossas expectativas e necessidades. Por que mudar um calendário que vinha sendo adotado há mais de uma década e que estava dando certo? Em algumas regiões do estado se mantiveram os 100 dias de cultivo como previa a portaria anterior”, destacou Meneguette.
Outra crítica feita no primeiro encurtamento da janela de cultivo - e que se mantém agora - é que as mudanças afetam o planejamento financeiro das propriedades. “Quem vai plantar compra antecipadamente as sementes, os insumos, arrenda as terras. Não se poderia tomar uma decisão dessas às vésperas do plantio. Se fosse para fazer uma alteração como essa, que se fizesse de forma gradativa”, alertou na ocasião o secretário da Agricultura do Paraná, Norberto Ortigara.
Seab e Adapar enxergam vitória na alteração de portaria sobre plantio da soja
Nesta sexta-feira (15), ao comentar a alteração do calendário, Ortigara considerou que houve um reconhecimento do Mapa que justificasse a ampliação do período de cultivo. Ele lembrou que, antes, a portaria trazia 19 de dezembro como data-limite para o cultivo. “Agora, a semeadura pode ser de 11 de setembro a 18 de janeiro (de acordo com a região), temos um certo apaziguamento para a semeadura. Isso traz uma tranquilidade maior e a decisão federal é fruto de um esforço coletivo no estado do Paraná”, avaliou.
O presidente da Agência de Defesa Sanitária do Paraná (Adapar), Otamir Cesar Martins, destacou que houve um trabalho efetivo que fez pressão ao Ministério com estudos que comprovaram a efetividade da extensão ao prazo no estado. “Nós do estado temos condições de manter a data do plantio (antiga), somos pioneiros no vazio sanitário para controlar a ferrugem. A Adapar auxiliou para construir, com o estado e a iniciativa privada, uma proposta que permitirá ao produtor tranquilidade para a semeadura e a colheita”, considerou.
Martins disse que a mudança contribui para que o Paraná se mantenha como o segundo maior produtor do grão no país. “A soja é o primeiro grande ativo do Paraná”, destacou.
Novo calendário para plantio por regiões do estado
Agora, o calendário estipula prazos de plantio por regiões do estado. Na chamada região 1, que compreende municípios da Região Metropolitana de Curitiba, Campos Gerais e parte da região central, o período de cultivo é de 20 de setembro de 2023 a 18 de janeiro de 2024.
Na região 2, onde estão as principais áreas de cultivo em municípios das regiões oeste, noroeste e norte paranaenses, a janela de plantio é de 95 dias e vai de 11 de setembro a 20 de dezembro de 2023. Na região 3, composta basicamente pelos municípios do sudoeste do Paraná, a que seria maior prejudicada com o calendário de 100 dias, o prazo de cultivo foi ampliado e agora vai de 17 de setembro a 15 de janeiro de 2024.
A nova portaria alterou ainda o calendário de plantio para os estados da Bahia, Rio Grande do Sul, Rondônia e Santa Catarina.
Segurança pública: estados firmaram quase R$ 1 bi em contratos sem licitação
Franquia paranaense planeja faturar R$ 777 milhões em 2024
De café a salão de beleza, Curitiba se torna celeiro de franquias no Brasil
Eduardo Requião é alvo de operação por suspeita de fraudes em contratos da Portos do Paraná
Deixe sua opinião