Para minimizar os efeitos da temida escassez dos fertilizantes, provocada pela guerra na Ucrânia, os produtores rurais têm buscado alternativas aos adubos químicos importados. E uma dessas alternativas é a chamada rochagem, a utilização de pó de rochas moídas com o objetivo de recompor os minerais no solo. Os resultados de pesquisas realizadas com a técnica serão apresentados na tarde desta quinta-feira (28) em um simpósio realizado em Palmeira, nos Campos Gerais – o evento pode ser acompanhado de graça pela internet a partir das 14h.
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Na avaliação de Wilson Venâncio, pesquisador da Estação Experimental Agrícola Campos Gerais (EEACG), a técnica tem potencial para mudar muitos conceitos agronômicos. Isso porque, diz o pesquisador, o método tradicional de adubação do solo com fertilizantes solúveis NPK – sigla que denomina os principais nutrientes das formulações: nitrogênio, fósforo e potássio – acaba por criar uma certa “dependência” nos produtores rurais.
“Esses agricultores se acostumaram a ter que aumentar o uso dessas formulações e investir cada vez mais em um curto espaço de tempo da safra. É um produto que esgota o substrato, o solo, e causa vários efeitos deletérios”, apontou Venâncio.
A avaliação é a mesma de Flavio Hayashi, executivo da Solo Novo Fertilizantes, empresa que participou das pesquisas sobre a rochagem. “Esses fertilizantes foram desenvolvidos para locais onde há invernos rigorosos e muita neve, como Rússia, Japão, EUA, Europa. Esses adubos alimentam apenas a planta, já que nesses locais durante os períodos mais severos do inverno não há atividade biológica no solo, não há matéria orgânica. Só servem para alimentar a planta. Já a rochagem alimenta a planta e também recupera o solo, favorecendo a atividade dos microrganismos que dão vida a esse substrato”, explicou.
Pesquisa com rochas ricas em silicato de potássio, na Lapa
O produto testado por Hayashi é uma alternativa ao cloreto de potássio presente nas formulações tradicionais. Trata-se do silicato de potássio que está presente em jazidas paranaenses localizadas na região da Lapa. Uma vez reduzidas a pó, essas rochas são espalhadas no solo e, de acordo com o executivo, têm um efeito mais benéfico para as plantas.
“Na reação química que ocorre para liberar o potássio para as plantas, o resíduo do cloreto é o cloro, que acaba sendo prejudicial. Já no caso do silicato, essa ‘sobra’ é o silício, um pesticida natural muito utilizado no Japão e em outros países desenvolvidos, mas pouco conhecido no Brasil. Além disso, o silício ajuda a retirar metais pesados do solo e atua na parte estrutural da planta”, comentou.
A atuação como defensivo também foi citada pelo pesquisador da EEACG. De acordo com Venâncio, em uma lavoura de soja são necessárias de quatro a cinco aplicações de pesticidas. Nos locais onde os pesquisadores aplicaram a rochagem, o uso desses insumos caiu drasticamente. “Isso nós verificamos na prática, um produtor de soja que durante a safra fez apenas uma única aplicação de defensivos, e de forma até mais preventiva do que para combater alguma praga específica”, revelou.
Os benefícios trazidos pela técnica vão além, aponta Venâncio. O uso da rochagem em plantações de morango, garante o pesquisador, tornaram mais agradável o sabor das frutas. O resultado, explicou, é possível porque com a técnica as plantas passaram a ter uma maior disponibilidade de nutrientes, com uma oferta mais balanceada.
“Essa planta se alimentou de forma mais completa e correta. É como se nós estivéssemos equilibrando a dieta dessas plantas. É quase como que uma reeducação alimentar. Isso deixa a planta muito mais sadia. Quando se aplica muito adubo, há uma espécie de competição entre os nutrientes. Se no solo há muito cálcio e magnésio, por exemplo, essa planta tem uma inibição na absorção de potássio. Sem potássio, ela não consegue ter uma boa atuação na fisiologia que afeta o desenvolvimento”, apontou.
Pesquisador vê pó de rocha como catalisador, mas não substituto dos fertilizantes
“É importante não entrarmos muito na euforia, porque apesar de ser uma área de atuação antiga, de muitos agricultores já usarem há muito tempo, temos pesquisas feitas há mais de 20 anos, mas que ainda carecem de mais aprofundamento”. A avaliação é de Carlos Augusto Posser Silveira, pesquisador de Sistemas de Produção Sustentáveis da Embrapa Clima Temperado de Pelotas (RS).
À reportagem, ele avaliou como positiva a aplicação da rochagem, mas alertou que não é algo, nem mesmo a longo prazo, que possa substituir a aplicação de fertilizantes químicos. A utilização do pó de rochas, explicou Silveira, deve ser vista como um complemento à adubação, seja a feita com produtos químicos, seja a realizada com matéria orgânica.
“Raramente um pó de rocha vai conseguir substituir os fertilizantes. O que esse produto pode fazer, e isso vem sendo demonstrado em estudos da Embrapa com vários parceiros, é aumentar a eficiência desses fertilizantes. Isso é relevante, porque 80% do fósforo e do potássio que são usados no país vêm do exterior. E essas rochas podem aumentar a eficiência desses produtos solúveis. Esse produto deve ser visto como um catalisador, um condicionador que melhora alguma propriedade, química, física ou biológica do solo, e que atua em sinergia com os adubos químicos e as matérias orgânicas do solo”, comentou.
Nem todas as rochas servem para a agricultura
Silveira lembrou que há uma instrução normativa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento que regula o uso dos chamados “remineralizadores” de solo. Atualmente há 3 marcas registradas e habilitadas para uso no Paraná – em todo o país esse número chega a 30 registros. “Nem todas as rochas servem para a agricultura, isso é importante reforçar. Isso limita bastante o leque de opções que podem ser usadas de forma a trazer benefícios. E além de atender a esses critérios, esses produtos precisam ter também garantias de que trarão ganhos agronômicos ao solo”, pontuou.
Para o pesquisador da Estação Experimental Agrícola Campos Gerais (EEACG), o mais importante na técnica da rochagem é “dar um passo de cada vez, sem abrir muito as pernas”. “O aumento de produtividade vai ser uma consequência natural, mas esse não é o nosso objetivo hoje. Não podemos vender uma ilusão ao produtor rural, de que se ele optar por essa tecnologia vai colher 10 sacas a mais. Se ele colher a mesma coisa já pode considerar um lucro, porque esse produtor estará usando um produto que não esteriliza o solo, não elimina os microrganismos, não causa efeitos deletérios no ambiente e que, acima de tudo reconstrói o substrato”, concluiu.
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