O Hospital de Clínicas (HC) de Curitiba teve papel de destaque na pesquisa mundial do remédio Molnupiravir, antiviral desenvolvido pela farmacêutica americana MSD que teve eficácia de 50% na redução de hospitalizações e mortes por Covid-19. Dos 775 pacientes que participaram do estudo na fase clínica em diversos países, 54 eram do hospital da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - a maior quantidade dos cinco centro médicos que participaram da pesquisa no Brasil.
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"A procura dos pacientes de Curitiba para participar da pesquisa foi muito grande. As pessoas queriam receber o tratamento mesmo sabendo que poderiam tomar o placebo e que se tomassem o medicamento não haveria garantia de eficácia", enfatiza a médica Mônica Gomes, professora de Infectologia no curso de Medicina da UFPR que coordenou a pesquisa no HC.
Além da divulgação na imprensa e em suas mídias sociais, o HC contou com a colaboração de um laboratório de exames médicos de Curitiba que distribuiu folders sobre a possibilidade de pacientes serem voluntários no estudo. Antes da fase clínica iniciada em abril, o Hospital de Clínicas já havia participado da fase 2 da pesquisa, quando foram testadas dosagem e segurança do Molnupiravir em outros 13 pacientes no fim de 2020.
Os pacientes foram medicados de 12 em 12 horas por cinco dias - metade com o remédio e metade com placebo. Eles foram acompanhados diariamente pelas equipes do HC. "Vale destacar todo o empenho dos nossos profissionais nas pesquisas desse medicamento. Trabalhamos de dia, de noite, fim de semana, feriado, acompanhando esses pacientes. Eu mesma cheguei a ir na casa de uma paciente em Colombo no dia do Natal", enfatiza Monica.
Por questão de confidencialidade, os resultados obtidos no HC não podem ser divulgados. Os dados globais do estudo, no entanto, apontam que após 29 dias de tratamento nenhum dos pacientes que receberam o Molnupiravir morreu e apenas 7,3% foram hospitalizados. Já entre os pacientes que ingeriram placebo - substância sem efeito - houve oito mortes. O índice de mortes/hospitalizações de quem tomou placebo ficou em em 14,1%.
O teste clínico foi feito com pacientes contaminados que não tomaram a vacina e ainda no início da infecção, com apenas cinco dias de sintomas. O remédio impediu que o coronavírus se movesse de uma célula para outra, mecanismo chamado de catástrofe viral, que torna o vírus inativo.
Molnupiravir pode ser o primeiro remédio autorizado como tratamento precoce
Se for autorizado, o Molnupiravir deve ser o primeiro medicamento de tratamento precoce para infecção de coronavírus. O laboratório MSD tenta aprovação o mais rápido possível nos órgãos sanitários dos Estados Unidos. A Organização Mundial da Saúde (OMS) também está estudando os dados de eficácia do medicamento.
Nesta sexta-feira (15), a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) anunciou que já negocia a transferência de tecnologia com o laboratório americano para produzir o antiviral para o Sistema Único de Saúde (SUS). A Fiocruz inicia na próxima semana o seu próprio estudo clínico para averiguar a eficácia do Molnupiravir para evitar propagação e transmissão da Covid-19. A pesquisa terá seis meses e será em sete centros clínicos: dois da própria Fiocruz, no Rio de Janeiro e Mato Grosso do Sul, além de hospitais do Amazonas, Rio Grande do Sul e São Paulo.
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