Algumas montadoras de veículos entraram em uma suspensão temporária de trabalho em determinadas áreas de produção, o chamado lay-off, nesta semana. A paralisação temporária visa a ajustar a produção à demanda do mercado, que ainda é baixa. Mesmo com o incentivo de compra de veículos 0km, especialistas destacam que o setor automobilístico ainda sofre com as consequências econômicas da pandemia da covid-19 e não será de imediato o impacto do programa do governo, anunciado no mês de junho.
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A Renault é uma das montadoras que anunciou o lay-off. Localizada em São José dos Pinhais (PR), Região Metropolitana de Curitiba, a empresa informou que a aplicação de lay-off será para cerca de 1.000 colaboradores, com duração de dois a três meses.
Em nota, a Renault disse que essa medida já estava prevista anteriormente e foi divulgado em 30 de maio deste ano. As férias coletivas dos colaboradores foram feitas entre 12 e 16 de junho. Já o lay-off começou a partir da última segunda-feira (3) na fábrica de veículos de passeio. A partir de 10 de julho, começa a suspensão temporária nas fábricas de motores e injeção de alumínio.
A montadora informou que toda a produção nacional está concentrada no Paraná, mas que a medida de paralisação foi necessária para ajustar a produção à demanda de mercado. “Durante o período de lay-off a Renault fará o pagamento de uma compensação adicional até o limite de 85% do salário líquido, além de manter todos os benefícios atuais. Os colaboradores participantes do lay-off realizarão um curso de qualificação com o Senai, que dá direito à bolsa qualificação mensal prevista em lei e paga pelo governo”, disse, em nota.
Em São José dos Pinhais (PR), a Volkswagen do Brasil também fará uma parada temporária na produção em suas fábricas de automóveis. “Para equilibrar os estoques à atual demanda de mercado”, informou, em nota. A montadora não disse o quanto da produção nacional está concentrada no Estado, mas afirmou que na fábrica em São José dos Pinhais (PR) é produzido o veículo T-Cross e que está com um turno em lay-off desde o dia 5 de junho. Segundo a Volkswagen, há previsão de duração de paralisação entre 2 e 5 meses.
“Os dias parados serão administrados por meio de todas as ferramentas de flexibilização que estão previstas em acordo coletivo firmado entre os sindicatos e colaboradores da Volkswagen”, afirmou a empresa.
No final de abril deste ano, o representante sindical do Sindicato dos Metalúrgicos da Grande Curitiba (SMC) na fábrica da montadora, Daniel de Camargo, já havia comentado sobre a diminuição na produção da Volkswagen. Ele disse que a produção diária de 500 veículos iria ser reduzida para cerca de 300. A expectativa de produção da unidade para 2023 deve cair de 100 mil para cerca de 85 mil veículos. "Quando houve paradas anteriores era por causa da falta de componentes, mas agora o que está pesando é essa diminuição da procura pelos veículos por causa dos juros elevados e da dificuldade de acesso ao crédito", lamentou Camargo.
A Volvo comunicou à reportagem que a montadora não tem planejamento de lay-off. Contudo, fará uma interrupção pontual, de “acordo com a demanda do mercado”. “Teremos parada de parte da fábrica de 17 a 26/07. A produção de ônibus segue sem interrupções”, informou, também em nota. A parada será na fábrica de Curitiba, onde são produzidos os caminhões da marca.
A fábrica da Audi, que funciona em conjunto com a Volkswagen em São José dos Pinhais (PR), teve um período de paralisação entre 26 junho e 4 de julho. "A produção dos modelos Audi Q3 e Audi Q3 Sportback na fábrica de São José dos Pinhais foi retomada e segue normalmente", informou a Audi. A montadora não informou o motivo.
Outras montadoras localizadas no Paraná, como DAF e CNH Industrial, afirmaram que não pretendem ter paradas na produção. Nissan e Caterpillar não retornaram à Gazeta do Povo.
General Motors em São José dos Campos (SP) também entrou em lay-off
As fábricas da General Motors em São José dos Campos e de Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, também estão em lay-off, que foi acordado com o sindicato dos metalúrgicos de cada unidade, desde segunda-feira (03).
“A medida é necessária para ajustar a produção à atual demanda do mercado, de forma a garantir a sustentabilidade do negócio”, segundo a General Motors. A paralisação terá duração de 5 meses, podendo ser prorrogado por mais 5.
A General Motors não informou em quais áreas será feita essa paralisação e a concentração da produção nacional das fábricas.
Lay-off é necessário para ajustar produção e evitar demissões em massa
Segundo Adriana Ripka, doutora em Tecnologia e Sociedade e professora da Universidade Positivo, o lay-off é uma estratégia utilizada pelas empresas para evitar demissões em massa. “À medida em que vai diminuindo a demanda de alguns produtos, o mercado também consegue diminuir a produção. Em compensação, a parte de veículos acaba sendo muito mecanizada e para reduzir a parte de produção não é algo imediato”, diz.
Dessa forma, as montadoras produzem uma quantidade de veículos. Mas conforme a demanda cai, os estoques ficam altos. “Se tem muito produto para ofertar e não tem muita demanda, tem um momento que precisa parar a produção. O lay-off é uma medida em que as fábricas paralisam a produção por um período e os funcionários não são demitidos”, explica Ripka.
“Até porque, quando a empresa faz uma demissão, quando precisa retomar tem problemas para reintegrar os funcionários, principalmente os qualificados”, complementa a pesquisadora.
Ela afirma que muitas montadoras já estavam pensando em fazer essa paralisação. Porém, esperaram o anúncio do programa de incentivo do governo. “Mas esse tipo de plano não tem uma mudança imediata na demanda”, fala a economista.
Apesar do programa de incentivo do governo, o impacto demora para chegar. “Há uma grande oferta e uma demanda com expectativa, mas que não consegue suprir de imediato a venda desses veículos. A previsão de 2 ou 3 meses de lay-off é um período para alinhar a quantidade produzida com a demanda”, frisa.
“Medidas do governo não dão conta da retomada da produção”, diz economista
O programa de subsídio a montadoras lançado no começo do mês de junho pelo governo reservou R$ 1,8 bilhão para incentivar a compra de carros 0 km.
Embora haja expectativa do setor, o doutor em economia aplicada e professor da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) Rodolfo Coelho Prates afirma que, na prática, essas medidas ainda não surtem efeito. Um dos motivos é o custo das montadoras.
Muitas peças são importadas, fazendo com que o custo da produção seja elevado, influenciando no bolso do consumidor. “Os automóveis no Brasil, em comparação com o mercado internacional, são caros", explica. "Parte dos veículos não é fabricada aqui, mas é importada, e eles são só montados no Brasil”, frisa o especialista.
Outro ponto é a taxa de juros. O desconto concedido pelo governo não gera diminuição na taxa, mas somente no valor do automóvel. Nesse sentido, muitos consumidores não têm condições de pagar à vista um veículo, precisando recorrer ao empréstimo. Dessa forma, o desconto não terá tanto impacto para pessoas que não conseguem pagar à vista o carro.
“Não cabe no bolso, o juros tem um impacto grande. Quando projetamos para um pagamento em 5 anos com uma taxa de juros alta, superior a 2% ao mês, isso faz com que a pessoa pague ao longo desse tempo dois carros”, disse o economista.
“Esse desconto de R$ 5 mil ou R$ 10 mil praticamente se torna inviável quando fazemos essa projeção a longo prazo. Quem pode se beneficiar são pessoas que têm condição de pagar à vista. Mas pessoas que têm que pagar a prazo vão ter mais dificuldades”, acrescenta.
Setor automobilístico ainda sofre as consequências de crise econômica e da pandemia
De acordo com o doutor em economia aplicada Rodolfo Coelho Prates, o setor de automóveis vem sofrendo com uma crise há 10 anos. Ele exemplificou que, em 2013, a média mensal de vendas de automóveis era de 310 mil. Porém, em 2023, a média tem sido de 160 mil vendas por mês.
“O mercado de automóveis nesses 10 anos encolheu muito e são os efeitos da crise. Desde a crise que começou no Brasil em 2014. Depois, quando o mercado estava começando a se recuperar, em 2019, logo veio a pandemia e derrubou completamente, por conta do bloqueio das atividades econômicas”, explicou.
Ele complementa que a crise dos semicondutores afetou globalmente também a cadeia produtiva. Com isso, hoje, as empresas automobilísticas estão enfrentando dificuldades. “A demanda está baixa por conta dessas questões de macroeconomia, baixo nível de venda e alto nível de desemprego”.
Além disso, o preço médio do carro teve um crescimento de 80% a 90% em 5 anos, destaca o professor de economia. “Saiu de um preço médio de R$ 70 mil e está quase batendo R$130 mil. Nesse aspecto, há uma população sem renda suficiente e um preço elevado.”
Com pouca demanda no mercado, as montadoras precisam de uma paralisação temporária, segundo o especialista. “Neste contexto, as montadoras estão tendo uma medida de paralisação da oferta para conseguirem se recompor”, conclui.
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