Ligia Maura Costa traz bastidores inéditos da Lava Jato em livro lançado no último dia 4 de dezembro.| Foto: Lumen Juris/Divulgação
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Lançado no início do mês, o livro "Lava Jato – história dos bastidores da maior investigação anticorrupção", da editora Lumen Juris, traz entrevistas com investigadores, magistrados, advogados e membros da sociedade civil que atuaram ou acompanharam de perto a operação. A autora, Ligia Maura Costa, explica que a obra não tem lado político e repassa ao leitor a responsabilidade de construir as próprias conclusões. Com entrevistas orais, a escritora repassa para as páginas a visão de cada personagem e a própria vivência dentro da Lava Jato.

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Quase 10 anos após o início das investigações, que começaram em março de 2014, quando quatro organizações criminosas que teriam a participação de agentes públicos, empresários e doleiros passaram a ser investigadas perante a Justiça Federal em Curitiba, Ligia destaca a relevância e atualidade da ação, que teve alcance internacional. "Foi a maior investigação a nível mundial e as pessoas não podem esquecer disso. Se foi sucesso ou se foi fracasso, eu não posso influenciar", diz a autora.

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"A corrupção tira dos pobres a esperança de uma vida melhor. Se o Brasil não se cansou da corrupção, deveria se cansar".

Lígia Maura Costa, autora do livro "Lava Jato – história dos bastidores da maior investigação anticorrupção"

A legislação brasileira de combate à corrupção, na visão da autora, é um empecilho por ser recente, e continua impactando, mesmo em operações com maiores desdobramentos. "É uma lei recente, mas em todo o mundo o combate à corrupção passa por altos e baixos. Eu diria que estamos em um momento de baixa, mas o Brasil é um país de corrupção sistêmica e isso impede investimento exterior", analisa Ligia.

"Quem condenou, virou réu; quem era réu, foi eleito"

Para Ligia, a Lava Jato não perde credibilidade com os recentes desdobramentos na Justiça Eleitoral envolvendo o ex-procurador do Ministério Público Federal (MPF) e ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo); e o ex-juiz e senador Sergio Moro (União Brasil).

"Eles viraram políticos como tantos outros. O Flávio Dino está fazendo o caminho inverso e, se um pode, acredito que os outros também. O que foi feito por eles na operação ficará registrado. Temos que perguntar para o atual ministro da Justiça, que está às vésperas de virar ministro da Suprema Corte. Não quero julgar, mas quando você luta contra a corrupção, ela vai bater de volta e te contra-atacar", avalia.

A autora da mais recente obra sobre a Lava Jato conta que, nos anos que passou na França e na Suíça, período que ela denomina como "anos de ouro da Lava Jato", a incredulidade era maior a respeito da participação de um governo de esquerda nos esquemas de corrupção, em especial, da suposta participação do atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

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"A França admirava a biografia do Lula. Esse lado socialista que eles têm falava mais alto e eles me perguntavam como poderia um partido de esquerda estar envolvido. O fato do Lula ter ascendido e de repente estar no meio desse furacão trouxe muitas perguntas aos franceses".

Lava Jato analisada a partir de um ponto de equilíbrio

Com relatos e entrevistas do ex-presidente Michel Temer (MDB); do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, do advogado Antonio Carlos de Almeida Castro, o Kakay; além de Moro e Dallagnol, o livro permite, segundo a autora, uma visão política e ideológica ampla. Essa condição, para Ligia, permitirá ao leitor analisar a Lava Jato de um ponto de vista mais "equilibrado".

"Político que fala de corrupção não está falando pelo partido. Corrupção é um mal que atinge a todos. O próprio Temer falou comigo como representante da sociedade civil. Ele foi vice-presidente e presidente enquanto a operação era realizada e nunca evitou de falar sobre o caso".

Ligia destaca que tentou entrevistar a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) e José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça e advogado-geral da União nos tempos da petista. Os contatos, entretanto, não foram adiante. "Eu tentei. o Cardozo disse que iria falar e depois acabou dizendo que era melhor não. A Dilma eu não consegui. Não posso obrigar ninguém a falar. A maioria não gosta de falar sobre corrupção e, se isso continuar, não vamos sair do subdesenvolvimento nunca", disse ela.

Os advogados Alberto Zacharias Toron, Pierpaolo Bottini, Moraes Pitombo e Modesto Carvalhosa, além de outros atores da operação, como o desembargador do TRF-4 João Pedro Gebran Neto e o procurador Orlando Martello, se manifestam no livro sobre a Lava Jato.

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Ligia Maura Costa é advogada, jurista, professora e escritora, especializada em direito internacional, combate à corrupção e governança.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]