Apesar de ser peça-chave em momentos marcantes da história do Brasil, como a Constituinte e a formação do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), e de considerar uma consagração ter sido coordenador político da campanha vitoriosa de reeleição de Fernando Henrique Cardoso como presidente em 1998, quando relembrava de épocas queridas, o que vinha à lembrança de Euclides Scalco em primeiro lugar eram os tempos mais simples de campanha pelo interior do Paraná, nos anos 1960. O político gaúcho que escolheu o Paraná como morada política e pessoal morreu na terça-feira (16), aos 88 anos, vítima da Covid-19.
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Sair de jipe pela cidade para conversar diretamente com os eleitores, o diálogo em busca de apoio, o exercício do discurso, tudo isso fez parte do início da vida política de Scalco no sudoeste paranaense e eram lembranças permeadas de paixão. Formado em Farmácia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), o que o trouxe ao Paraná foi o convite para atuar como farmacêutico em Francisco Beltrão, no final da década de 1950. Pouco depois da chegada, o chamado da política se tornou irresistível. Logo foi eleito vereador e, em 1962, prefeito da cidade.
A articulação política sempre foi um de seus aspectos favoritos na vida pública, e tinha talento evidente para tal atividade. A discrição não lhe permitia revelar muitos detalhes sobre os bastidores dos incontáveis episódios históricos dos quais fez parte, mas revelava gostar mais das negociações e do diálogo do que da tribuna. “Ele naturalmente exercia liderança e ponderação, era respeitado não só pelos liderados como pelos líderes. Sempre que havia questões mais espinhosas e quando era preciso transmitir credibilidade, ele era chamado”, comenta o afilhado e autor do livro “Euclides Scalco, o homem, seu tempo e sua história”, Marcos Antonio Bastiani.
A especialidade na área de saúde se uniu à atuação pública. Foi parceiro do movimento sanitário e, como deputado federal constituinte eleito, ajudou a aprovar propostas que culminaram na criação do Sistema Único de Saúde (SUS), que havia sido, de certa forma, embrionado no Paraná na primeira metade dos anos 1980, quando foi chefe da Casa Civil do governo José Richa. Durante o período de elaboração da nova constituição, como reflexo de seu pensamento e atuação anterior, lutou pela aprovação de pautas que representassem benefícios sociais e democráticos. Foi autor da proposta de jornada de trabalho de 44 horas semanais, que acabou aprovada. Apoiou a nacionalização do subsolo brasileiro, a limitação do direito de propriedade privada e a proteção de empresas nacionais, por exemplo.
Você podia concordar ou discordar dele, mas era impossível que alguém dissesse algo que negasse sua honestidade
Oriovisto Guimarães (Podemos), senador do Paraná, sobre Euclides Scalco
Convidado duas vezes para ser ministro, aceitou ser ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República no segundo mandato de FHC, em 1998, deixando o cargo de diretor-geral da hidrelétrica Itaipu Binacional que assumira em 1995. Nas redes sociais, o ex-presidente lamentou a morte do político que ele fazia questão de ter por perto em posições estratégicas ou como consultor. Lamentou perder um amigo e um líder.
Após o processo constituinte, foi um dos principais organizadores da criação do PSDB, junto com FHC, Mário Covas e Pimenta da Veiga, entre outros nomes inscritos na história política brasileira. Já pelo novo partido foi candidato a vice-governador do Paraná em 1990 na chapa com José Richa, eleição vencida por Roberto Requião (PMDB). A parceria com Fernando Henrique se estendeu por diferentes ocasiões. Por algum tempo, coordenou a campanha à presidência em 1994, retornando para o mesmo cargo em 1998, desta vez de maneira integral. No primeiro mandato, coordenou grupos estratégicos no governo.
Entre os políticos paranaenses – os que o conheceram e os que apenas conheceram seus feitos – é quase uma unanimidade que o estado e o país perdem uma figura insubstituível. O senador Oriovisto Guimarães (Podemos), é um dos que lamentam o falecimento de um colega honesto e competente: “Ele tinha um pensamento político e comportamento que sempre admirei muito. Você podia concordar ou discordar dele, mas era impossível que alguém dissesse algo que negasse sua honestidade”.
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