Para os povos indígenas, não há separação entre céu e terra, um é a continuação do outro. A organização das constelações está diretamente ligada ao dia a dia deles. Esse universo cultural foi amplamente desbravado pelo cientista e professor aposentado de Física da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Germano Bruno Afonso, no trabalho que desenvolveu durante grande parte da vida, aliando o conhecimento tradicional indígena à astronomia como ciência acadêmica. Ele foi essencial na divulgação dessa sabedoria ancestral. Germano morreu no dia 26 de agosto, aos 71 anos, vítima de Covid-19.
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Além de realizar frequentes expedições, ele morou durante quatro anos na Amazônia, pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), onde conversou com integrantes de etnias indígenas, em especial os pajés, que culturalmente são as pessoas que detém o conhecimento mais completo sobre essa parte da história de cada povo, e conseguiu captar “segredos do céu”. A habilidade de estudioso permitia, a partir disso, chegar a conclusões importantes na área de arqueoastronomia, a astronomia praticada por civilizações antigas. Por falar tupi-guarani, tinha mais facilidade em se comunicar de igual para igual e, assim, criar e manter relações com os povos.
Junto a eles, Germano e outros pesquisadores analisaram pelo país os registros deixados por nossos ancestrais – pictogramas, marcações em pedra de onde o sol nascia e se punha em cada dia do ano, por exemplo – que mostram que a astronomia é fundamental para o entendimento dos ciclos do planeta e, assim, dos ciclos da vida, da agricultura e muito mais.
Professor Germano buscava tornar a ciência mais acessível
Mais do que alcançar títulos de mestre em Ciências Geodésicas pela UFPR, de doutor e pós-doutor em Astronomia na França, Germano trabalhava para que a ciência chegasse ao maior número de pessoas possível. “Ele era um sonhador, uma pessoa que estava em outro nível, todo dia tentando bolar alguma coisa nova”, conta o também professor aposentado da UFPR, Carlos Nadal, estudioso da Geodésia e Astronomia como Germano, parceiro em diversos momentos da carreira acadêmica e coautor de trabalhos científicos com ele. Carlos conta que um dos ápices da trajetória de Germano foi a criação de observatórios solares indígenas em aldeias, o que unia grande conhecimento e inovação, ancestralidade e tecnologia. Viajou pelo país por quase uma década fazendo divulgação científica do projeto. Também foi importante na estruturação do Parque das Ciências Newton-Freire Maia no Paraná e no Museu da Amazônia.
Durante os anos 1990, Nadal e Germano foram colegas em outra iniciativa marcante no Paraná, percorrendo cidades para capacitar no ensino de ciências e astronomia os dois mil professores de primeira a quarta série que o estado tinha na época. “Ele era muito doce e paciente com todos, nunca erguia a voz para ninguém. Lia muito, gostava de interpretar, mesmo quando tinha um ponto de vista oposto, ele respeitava e ouvia. Não tinha medo de expor as ideias dele”, relembra Carlos. Em 1991, Germano foi reconhecido por sua produção científica com o Prêmio Paranaense de Ciência e Tecnologia e em 2000 recebeu o Prêmio Jabuti pelo livro "O Céu dos Índios Tembé", na categoria Melhor Livro Didático.
Se pudesse, passaria todas as horas do dia falando sobre seus objetos de estudo, que eram também uma paixão. Extremamente ativo, era quase impossível que se desligasse dos estudos, mesmo já aposentado das salas de aula. Um dia antes de precisar ser internado, participava de uma live internacional. Nas horas vagas, praticava o pingue- pongue – esporte no qual foi campeão em diversos torneios de professores – e aproveitava a companhia dos três netos. Além deles, Germano deixa esposa e três filhos.
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