Casos e óbitos por SRAG aumentaram, em parte, por causa dos processos adotados para identificação da Covid-19.| Foto: Pixabay
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O Boletim Epidemiológico da Gripe, divulgado no dia 20 de maio pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) mostra que 843 paranaenses morreram neste ano de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG) não identificada. O número é 7,14 vezes maior que o registrado no boletim de 21 de maio do ano passado, quando foram computados 118 mortes. O número de casos também é expressivamente maior, 3.062 casos neste ano, ante 632 registros no ano passado.

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É registrado como SRAG todo o caso de paciente que chega a um serviço de saúde com sintoma de doença respiratória, com febre, falta de ar, tosse e baixa oxigenação do sangue. Esse paciente é testado para 20 agentes causadores, como vírus e bactérias (influenza A e B, vírus sincicial respiratório, adenovírus, hantavírus, pneumococos, leptospirose entre outros). A partir deste ano, é testado, também para coronavírus. Se o teste der negativo para todos os agentes, é registrado como SRAG não identificada.

A porcentagem de casos não identificados sempre foi maior do que a das mortes com causa específica. No ano passado, as causas não identificadas representavam 67% das mortes por SRAG; neste ano, são 81% - em um cenário com crescimento no número de casos e de óbitos. As secretarias de Saúde do Estado e de Curitiba atribuem a uma maior sensibilidade do sistema de saúde para notificações de SRAG por causa da pandemia de coronavírus. Infectologistas ouvidos pela Gazeta do Povo reforçam essa possibilidade, mas indicam que parte destes casos e mortes pode ser por Covid-19 que acabou não sendo detectada.

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“A verificação do painel viral exige que todos os quadros de síndromes respiratórias sejam avaliados até que sejam testados e diagnosticados pelo coronavírus. Com isso, naturalmente houve aumento no número de SRAGS registrados”, explica, em nota, a Sesa, lembrando que os internamentos por SRAG são obrigatoriamente testados para coronavírus.

No boletim sobre o a Covid-19 da última sexta-feira (22), a Secretaria Municipal de Saúde de Curitiba apresentou a relação dos casos de SRAG com os de coronavírus na capital. Segundo a infectologista da prefeitura Marion Burger, o sistema de saúde da cidade vem registrando, em média, 30 casos de SRAG por dia em Curitiba. “Todos estes são testados para coronavírus, estamos tendo resultado positivo para uma média de 15% apenas”, diz. O município também informa que investigou, com a realização de testes pós-morte, 240 óbitos e apenas um teve resultado positivo para Covid-19.

“O aumento dos casos de SRAG não identificada se deve à maior sensibilidade para notificação. Para que se possa testar o paciente para Covid-19 estão se notificando mais situações de síndrome respiratória. Além disso, até o ano passado, o critério febre era um dos que caracterizava SRAG. Agora, como nem todo caso de Covid-19 faz febre, esse critério foi excluído, aumentando o leque de quadros que podem ser considerados SRAG”, analisa o ex-presidente da Associação Paranaense de Infectologia Jaime Rocha.

“Mas há sim o risco de alguns desses casos serem Covid não diagnosticada. Não temos um padrão ouro para comparar a eficácia do teste. E o diagnóstico molecular parece ter bastante relação com a qualidade das coletas e com a fase da doença, o que explica, em parte, alguns casos em que a clínica aponta para Covid-19, mesmo com PCR não detectável”, acrescenta, lembrando que o boletim estadual sobre coronavírus já considera casos confirmados apenas com diagnóstico clínico. PCR (Proteina C reativa) é uma proteína cujos níveis no organismo são medidos para indicar a presença de infecções.

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“É que é muito fácil fechar critério para SRAG e, no contexto da pandemia, muitas insuficiências respiratórias que outrora eram encaradas como doenças não infecciosas, hoje, por uma dificuldade diagnóstica imediata e medo, acabam entrando como SRAG. Para ser do tipo 'não especificada' é só não ser encontrado vírus na via aérea e restar dúvidas no diagnóstico preciso do óbito”, comenta o diretor da Associação Paranaense de Infectologia Rafael Mialski. “Uma insuficiência cardíaca, que cursa com falta de ar, hoje é encarada com todas as dúvidas se não foi desencadeada por uma infecção viral das vias aéreas superiores. Antes, esse paciente entrava como um quadro cardiológico simplesmente”, exemplifica.

Mialski também reconhece a possibilidade de os testes não identificarem alguns casos de coronavírus, por serem desconhecidos seus níveis de eficácia e já existirem indicativos de que o resultado depende da qualidade do material coletado e da fase da doença, “mas, via de regra, o paciente fortemente suspeito, por clínica e imagem, tem apresentado resultado positivo”.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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