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Altos índices de homicídios em Almirante Tamandaré são recorrentes, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
Altos índices de homicídios em Almirante Tamandaré são recorrentes, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).| Foto: Arquivo/Gazeta do Povo

A Gazeta do Povo compilou uma ampla base de dados, com base em levantamentos oficiais, para identificar a melhor cidade para morar no Brasil. Um dos efeitos colaterais do ranking foi a identificação dos municípios que ficaram na outra ponta da lista, daqueles nos quais os indicadores mostraram situações longe do ideal. No Paraná, a cidade de Almirante Tamandaré ficou nas últimas posições: 395ª posição geral do estado, entre os 399 municípios, além de ser o município na 36ª e última colocação entre as cidades com mais de 50 mil habitantes.

O município, localizado na Região Metropolitana de Curitiba, obteve 4,6 pontos de 10 possíveis, muito abaixo dos 7,35 pontos de Miraselva – primeira colocada geral entre as cidades do Paraná – e dos 7,18 pontos de Maringá – campeã entre os municípios com mais de 50 mil habitantes.

O levantamento exclusivo feito pela Gazeta do Povo inclui 10 categorias diferentes e utiliza um total de 21 indicadores. Alguns deles, por serem mais relevantes, ganharam peso maior no cálculo da nota final de cada cidade. Foram levados em conta dados oficiais sobre saúde, economia, educação, infraestrutura, entre outros indicadores. E foi a segurança púbica o principal dos fatores a contribuir para a nota baixa de Almirante Tamandaré.

Altas taxas de homicídio são recorrentes em Almirante Tamandaré

A taxa de homicídios da cidade em 2022 foi de 37,7 por 100 mil habitantes, segundo o levantamento da Gazeta do Povo feito com base em dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). A situação não é exatamente uma novidade, uma vez que na edição de 2018 do Atlas da Violência elaborado pelo mesmo Ipea, Almirante Tamandaré figurava entre as 10 cidades mais violentas do Brasil.

Naquele ano, o levantamento apontava para uma taxa de 88,5 homicídios e mortes violentas com causa indeterminada por 100 mil habitantes. Na esteira da divulgação do levantamento, a administração municipal classificou o resultado da pesquisa do Ipea como “irreal”.

À época, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) fez uma ressalva sobre a forma de cálculo do índice por parte do Ipea. “O Atlas, por exemplo, contabiliza como homicídios as mortes no trânsito, o que acaba por distorcer os dados”, afirmou a pasta, em nota.

Prefeito de Almirante Tamandaré apontou ações para reduzir índices de crimes violentos

Em 2023, a tendência se repetiu, desta vez na 17ª edição do anuário nacional desenvolvido pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. O município caiu significativamente na lista dos mais violentos e, com uma taxa de 44,2 mortes violentas consideradas intencionais, figurou na 44ª posição do ranking nacional.

Em janeiro de 2021, quando começou um novo mandato após ter sido reeleito pelo MDB, o prefeito Gerson Colodel afirmou ter reduzido os índices de criminalidade no município. Em entrevista para a Gazeta do Povo, o prefeito citou uma série de ações que, segundo ele, colaboraram para que “a violência, assaltos, agressões, roubos, furtos e tudo mais, [caíssem] de 2017 para 2020, em 65%”.

A reportagem fez diversas tentativas de pedidos de entrevistas com representantes da administração municipal sobre o ranking da Gazeta do Povo, mas não obteve resposta. O espaço segue aberto para manifestações.

Dados de mortes violentas do Ipea levam em conta "homicídios ocultos"

Na mais recente edição do Atlas da Violência do Ipea, os pesquisadores explicam que recorrem ao conceito de “homicídios estimados” para apontarem os índices de crimes violentos cometidos nos municípios brasileiros. Este conceito, detalha o atlas, agrupa os homicídios registrados oficialmente como tal no Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, e os homicídios ocultos, cadastrados neste sistema como como mortes violentas com causa indeterminada (MVCIs).

Os pesquisadores contabilizam estes homicídios ocultos, compostos por suicídios ou mortes ocasionadas por acidentes, mas para as quais as autoridades não puderam ou não souberam estabelecer a causa correta, em um sistema informatizado de machine learning.

“Grosso modo, o principal algoritmo utilizado ‘aprende’ as características associadas às vítimas e aos aspectos situacionais relacionados aos homicídios, acidentes e suicídios registrados no SIM (idade da vítima, sexo, raça/cor, estado civil, escolaridade, local do óbito, instrumento da causa básica do óbito, ano, mês e dia do óbito e UF de residência) e classifica as MVCIs de acordo com a semelhança destas aos óbitos conhecidos”, detalha o levantamento.

O que os índices não medem

Embora inclua o maior número de dados possível sobre os municípios brasileiros, o levantamento da Gazeta do Povo não cobre todos os tipos de informações. Por exemplo: não existe uma base única de comparação entre outros tipos de crimes, como furtos e tráfico de drogas. Embora a taxa de homicídios de São Paulo seja extremamente baixa até mesmo quando comparada a cidades americanas (o índice é menor que o de Nova Iorque), a capital paulista está longe de ser uma cidade segura. Também por esse critério, o Rio de Janeiro (que teve 15,7 assassinatos por 100 mil habitantes em 2022) tem um desempenho melhor que Curitiba (com um índice de 19,3 por 100 mil).

Além disso, fatores intangíveis não podem ser medidos. Cuiabá, em oitavo lugar, superou Florianópolis, em nono. Mas é plausível que as belezas naturais e o clima mais moderado da capital catarinense compensem o número menor de leitos hospitalares e de salas de cinema.

Por fim, não existe um levantamento completo dos índices de arborização dos municípios brasileiros. Os dados disponíveis se restringem às grandes cidades, o que impede uma análise aprofundada desse critério.

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