Paris é uma festa, já dizia o célebre escritor norte-americano Ernest Hemingway na obra que celebra suas memórias na capital francesa na década de 1920. Foi nesse mesmo cenário efervescente que desembarcou na cidade um conterrâneo seu, que, no lugar das palavras, usava as imagens como forma de expressão. Fotógrafo, pintor, escultor e cineasta, Emmanuel Radnitzky, mais conhecido como Man Ray, viveu duas décadas em Paris e lá consolidou-se como expoente do movimento surrealista e um dos maiores artistas visuais do século 20.
A história de vida e a obra criada pelo americano nesse período fazem parte de Man Ray em Paris, primeira exposição do artista a desembarcar no Brasil. Após passar por São Paulo e Belo Horizonte no ano passado, a mostra chegou a Curitiba na quinta-feira (12) e está aberta para visitação no Museu Oscar Niemeyer (MON) - R$ 20 (inteira) e R$ 10 (meia-entrada). São 255 obras, entre fotografias, filmes, serigrafias e objetos produzidos entre 1921 e 1940.
A exposição tem curadoria da francesa Emmanuelle de l’Ecotais, especialista no trabalho do artista e responsável pelo inventário de sua obra. De acordo com ela, a mostra apresenta o recorte mais expressivo da vida e da obra de Man Ray, já que organizou de forma inédita grande parte do acervo disponível. “Essa exposição retraça globalmente toda a obra de Man Ray, com exceção das obras realizadas em Hollywood entre 1940 e 1950. Mas todas as características do seu trabalho estão presentes nessa exposição”, disse a curadora em entrevista por email à Gazeta do Povo.
A mostra é dividida em duas partes. A primeira tem como foco a fotografia como instrumento de reprodução da realidade, destacando-se os famosos retratos – seu ateliê era uma referência entre a vanguarda intelectual que circulava pela Paris da década de 20 –, os ensaios para a grife de Paul Poiret e fotos para reportagens. Já a segunda parte tem viés mais artístico, apresentando o trabalho de manipulação da fotografia em laboratório com o intuito de criar superposições, solarizações e as “rayografias” – termo criado pelo artista para classificar a técnica que consiste em colocar objetos diretamente sobre o papel fotográfico.
“A ideia foi descobrir a essência da obra de Man Ray com uma retrospectiva mais completa possível: fotos, objetos, filmes e até algumas pinturas aparecem de uma certa forma nas edições tardias. O percurso é cronológico – temático de maneira a juntar todas as obras do artista: retratos, nus, moda, natureza e paisagem, mas também Dadaísmo, Surrealismo, filmes, objetos”, explica Emanuelle.
Entre as centenas de obras que compõem a mostra Man Ray em Paris, a curadora destaca três delas: “As Lágrimas” (1930), imagem icônica que exibe o primeiro plano de um olho com lágrimas ao redor (que, na verdade, são gotas de vidro); “Preta e Branca” (1926), que retrata a musa do artista, Kiki de Montparnasse, em contraste com uma máscara africana; e “Erótica Velada” (1932), que traz a modelo Meret Oppenhein nua ao lado de uma impressora. As rayografias em geral também são citadas por Emanuelle como essenciais para entender a dimensão da obra do artista.
Além dos trabalhos artísticos, a exposição também exibe imagens da vida parisiense de Man Ray, acompanhado por artistas que foram seus contemporâneos e por Kiki de Montparnasse. Também será possível acompanhar uma programação de filmes assinados pelo artista – como L’Etoile de Mer, que usa na película a mesma técnica da solarização aplicada em algumas de suas fotografias – e intervenções como um laboratório fotográfico, com elucidações sobre as técnicas utilizadas em suas obras.
Mais do que a oportunidade para conhecer a obra de um dos artistas mais importantes da primeira metade do século 20, a exposição também permite entender porque, quase um século depois, seu trabalho segue atual. “Man Ray contribuiu imensamente para elevar a fotografia ao patamar das artes e, a partir de sua liberdade de criação, continua emblemático e moderno”, destaca Emanuelle de l’Ecotais.
Quem foi Man Ray
Emmanuel Radnitzky, mais conhecido pelo pseudônimo Man Ray, foi pintor, fotógrafo, escultor e cineasta, tornando-se um dos mais destacados artistas vanguardistas do século 20. Nasceu na Filadélfia, Estados Unidos, em 1890, e na juventude mudou-se para Nova York, onde iniciou seus estudos na Social Center Academy of Art. Ainda na década de 1910, conheceu o pintor e escultor francês Marcel Duchamp, bem como outros artistas que compunham o movimento dadaísta nova-iorquino.
Em 1921, Man Ray seguiu para Paris, cidade que o acolheu por quase 20 anos, até o cerco nazista, em 1940. O período em que viveu na capital francesa foi de imensa ebulição cultural não só para ele, mas para diversos outros artistas que consolidaram o local como um dos maiores centros culturais do mundo, num contexto em que diversas formas de arte floresciam, sobretudo na década de 1920. Por lá, Man Ray se inseriu no movimento surrealista e conciliou seu trabalho como fotógrafo de renome entre a intelectualidade francesa com seu lado artístico, que manipulava fotos em laboratório para a produção de obras de arte.
Durante a Segunda Guerra Mundial, o artista voltou para os Estados Unidos, onde fotografou celebridades de Hollywood e do mundo da moda. Regressou à Europa com o fim da guerra e, nos anos seguintes, obteve reconhecimento pela excelência de seu trabalho, conquistando prêmios como a Medalha de Ouro da Bienal de Fotografia de Veneza, em 1961, publicando suas fotos e exibindo sua obra ao grande público. Man Ray faleceu em Paris, em novembro de 1976.
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