Não é um mero chavão dizer que a história do Museu Paranaense se confunde com a própria história do Paraná. Primeiro do estado e terceiro do Brasil, o museu foi inaugurado em setembro de 1876, antes de se completarem 23 anos de emancipação política do Paraná. O que começou com um acervo de 600 peças foi sendo enriquecido ao longo dos anos com os mais variados tipos de material: objetos, documentos, artefatos indígenas, rochas, insetos, obras de arte, enfim, um vasto acervo que ajuda a contar a história do estado, das suas origens até os dias atuais.
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Hoje são mais de 400 mil itens no acervo, instalado desde 2003 no Palácio São Francisco, o imponente casarão no Largo da Ordem que já foi sede do governo estadual. Ao completar 143 anos, em 2019, o Museu Paranaense traz ao público uma exposição multidisciplinar inédita, que mergulha na própria história do espaço e propõe uma nova leitura sobre seu acervo. Aberta no último dia 12, Ephemera/Perpétua reúne cerca de 180 peças dos diferentes setores do museu, interligadas por um conceito que une passado e presente.
A exposição compreende, além das áreas de antropologia, arqueologia e história, nas quais o Museu Paranaense é referência, os campos da paleontologia, mineralogia e botânica. Para isso, foram incorporados objetos das coleções do Herbário Municipal de Curitiba, Departamento de Zoologia da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Museu Casa Alfredo Andersen e Museu Oscar Niemeyer. Entre o conjunto exposto nas três salas do andar superior do prédio estão exsicatas (amostras vegetais dissecadas), pinturas, fotografias, vídeos, zoólitos milenares, livros, manuscritos, plumárias, adornos e lanças de diferentes etnias indígenas.
A diretora do museu, Gabriela Bettega, explica que, ao assumir a gestão, no início do ano, teve a ideia de realizar uma exposição de longa duração que representasse a diversidade e a multidisciplinaridade do local. “O Museu Paranaense sempre foi multidisciplinar. Mergulhar no acervo e na história do próprio museu ajudaria a conhecê-lo e entendê-lo melhor”, explica.
Assim, foi definida a curadoria, formada por parte da equipe interna: a arqueóloga Claudia Parellada, a pesquisadora e gestora de conteúdo Giselle de Moraes, a antropóloga Josiéli Spenassatto e o designer Richard Romanini. O texto crítico é do pesquisador Mario Helio Gomes.
Paradoxo que faz sentido
Um dos desafios ao pensar a exposição seria como interligar as diferentes áreas compreendidas pelo acervo. Daí nasceu o conceito que dá título à mostra, Ephemera/Perpétua. “O efêmero e o perpétuo formam um contraponto. Estamos trazendo ao público peças que por décadas, ou até séculos, ficaram separadas, e que agora formam um conjunto que pode ser visto sob um olhar mais contemporâneo. Essas duas palavras a princípio formam um paradoxo, aparentemente não dialogam, mas na verdade criam uma forma de propor algo inédito”, explica um dos curadores, Richard Romanini.
Nesse conjunto de efemeridades e perpetuidades aparecem objetos como zoólitos milenares, pequenas esculturas de cera produzidas pelos índios Xetá, máscaras indígenas, fósseis de insetos, documentos fotográficos e vídeos de Vladimir Kozák, naturalista tcheco que viveu em Curitiba entre as décadas de 1920 e 70. Alguns itens da exposição jamais foram expostos ao público. “A seleção das peças se deu de maneira muito natural. À medida que fomos escolhendo, cada item se mostrava de grande importância”, diz Giselle de Moraes.
Além de Vladimir Kozák, a exposição destaca o trabalho de pesquisadores que passaram pelo estado como Frederico Lange de Morretes, Günther Tessmann, Jesus Moure, Per Karl Dusén, Reinhard Maack e Wanda Hanke. Cada item conta com uma explicação técnica e histórica, mas todos são unidos pelo texto crítico de Mario Helio Gomes. “Não deixamos de lado o conteúdo técnico, mas também não queríamos que fosse uma mostra puramente didática. Há um olhar mais poético, que deixa certa liberdade para fruição”, ressalta Richard.
Diálogo com a realidade
Como forma de se afastar um pouco do didatismo e inserir mais poesia, o artista Paulo Vivacqua preparou uma instalação exclusivamente para a exposição. A instalação “(re)inventarium” é formada por espelhos, alto falantes e camadas de vidro, superpostos entre livros, sons, objetos e luz, tudo sustentado por bases de madeira. “A partir do acervo, ele construiu uma obra única, que está em diálogo constante com o museu. É uma forma também de trazer um outro público, que tem interesse na arte contemporânea”, observa Giselle.
Apesar de grande parte do acervo do Museu Paranaense estar relacionado à história do estado, a diretora destaca que muitos dos itens presentes em Ephemera/Perpétua abordam questões atuais. “Ao resgatar a história dos nossos pesquisadores estamos trabalhando algo super atual que é a preocupação com o meio ambiente. É a relação direta entre o efêmero e o perpétuo”, frisa Gabriela.
Nova identidade
A exposição marca o lançamento oficial da nova identidade do Museu Paranaense, que reposiciona a instituição, aproxima o museu do público contemporâneo e olha para o acervo de forma consoante às temáticas atuais. A logomarca forma o acrônimo MUPA, resultado da união das letras iniciais do nome do museu, como um apelido. O desenho parte do conceito-chave da variabilidade de acervos, pesquisas e atividades que o Museu Paranaense sempre promoveu. “É o museu falando a mesma língua do contemporâneo, mas com muito respeito pelo acervo e sua história”, diz a diretora Gabriela Bettega.
Serviço
Exposição Ephemera/Perpétua
De terça a sexta-feira, das 9h às 17h30. Sábado, domingo e feriados, das 10h às 16h.
Local: Museu Paranaense (Rua Kellers, 289 – São Francisco)
Entrada gratuita
“O Museu Paranaense é uma espécie de livro de memórias. Não de façanhas, mas do que restou delas. Vestígios esquecidos que um coletor ou caçador (daquele gênero muito particular que são os pesquisadores) colheu, classificou, deu sentido, pôs em exibição. Todo museu tem um quê de jazigo efêmero e de berço perpétuo.”
Trecho do texto curatorial da exposição Ephemera/Perpétua.
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