Nunca o Paraná esteve tão dependente de poucos parceiros comerciais e poucos produtos em sua pauta de exportações. Dos US$ 16,43 bilhões exportados no ano passado – 0,16% a menos do que em 2019 -, 32,7% tiveram como destino a China, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). E 36,8% estão relacionados ao complexo soja, apontam números do Ministério da Agricultura.
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Há cinco anos, as exportações paranaenses à China correspondiam a 21,6% do total e as do complexo soja, 31,9%.
Evânio Felippe, economista da Federação das Indústrias do Estado do Paraná (Fiep), atribui os números à dinâmica do mercado. “A China e o complexo soja vêm ganhando relevância nas exportações paranaenses e isso se acentuou com a pandemia.”
Ele explica que há uma demanda muito grande no país asiático e os fornecedores paranaenses conseguem atendê-la com grandes quantidades.
Preocupação geopolítica
O professor Rodolfo Prates, do Departamento de Economia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), recorre a um ditado popular para manifestar preocupação com a situação: “nunca é bom colocar todos os ovos na mesma cesta.”
Ele lembra que, apesar de o Brasil ser um importante player no agronegócio internacional, a China tem uma visão geopolítica própria. Segundo o jornal South China Morning Post, de Hong Kong, o país tem planos para diminuir a dependência da soja americana e brasileira e estaria realizando compras do produto em países africanos, como a Tanzânia. Mas, no momento, as quantidades são insuficientes.
Outros dois fatores, segundo o economista da Fiep, que contribuíram para uma maior presença da soja paranaense no mercado chinês foram a desvalorização do real no ano passado e os resquícios da guerra comercial entre China e Estados Unidos, que contribui para que os asiáticos dessem prioridade a outras fontes de fornecimento.
“Os chineses vêm mudando o seu padrão alimentar, consumindo mais carne, o que faz com que cresça a demanda por soja, utilizada na fabricação da ração”, explica Prates.
Desindustrialização reforça problema
Os números da maior presença chinesa e do complexo soja na pauta de exportações revelam outro problema, diz o professor: “o Brasil e o Paraná vêm perdendo capacidade competitiva em segmentos que não estão relacionados ao agronegócio.” E isso vem ocorrendo sistematicamente há mais de 30 anos, desde a abertura comercial.
O problema ocorre mesmo com o real desvalorizado frente ao dólar. Segundo Prates, seria natural que houvesse maior diversificação das exportações com a taxa de câmbio acima dos R$ 4,00. “Mas a indústria está desestruturada e passa por uma fase de desabastecimento de insumos e de matérias-primas”, destaca.
Outro fator que dificulta um incremento nas exportações é a falta de uma cultura exportadora. Sondagem feita pela entidade empresarial e divulgada em dezembro aponta que apenas 32% das empresas pesquisadas pretende exportar em 2021. “Ela demanda competitividade, conhecimento do mercado-alvo e estratégia clara por parte das empresas”, disse Felippe na ocasião.
Prates lembra que muitas empresas até tentam realizar exportações, mas que ao primeiro sinal de problemas no exterior – como demanda fraca ou taxa de câmbio desfavorável -, desistem. “Perde-se muita energia nesse processo.” Ele também destaca que órgãos oficiais, como a Agência de Promoção das Exportações (Apex), poderiam ser mais atuantes.
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