Na lista de investigados pela Operação Peça Chave está Mady Cristine Leschkau de Lemos Marchini, que é servidora aposentada pelo Tribunal de Contas do Paraná e chegou a ser presa pela ação policial. Até recentemente, ela ocupava um cargo de confiança no órgão de controle do dinheiro público, na gestão anterior (biênio de 2017 e 2018), do conselheiro Durval Amaral. Mady é esposa de Aldo Marchini Junior, apontado pela Polícia Civil como um dos verdadeiros donos da JMK Frotas Serviços Ltda.
O contrato que a empresa mantém com o governo do Paraná desde 2015, para consertos e manutenção da frota oficial, entrou na mira da Operação Peça Chave, deflagrada no último dia 28 pela Divisão de Combate à Corrupção, da Polícia Civil. A investigação envolve crimes como fraude à licitação, fraude na execução de contrato, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro e associação criminosa. De acordo com a Polícia Civil, o esquema teria lesado os cofres públicos em mais de R$ 125 milhões.
Naquele dia, foram cumpridos 15 mandados de prisão temporária – todos já foram liberados pela 8ª Vara Criminal de Curitiba, da Justiça Estadual, onde o inquérito policial está abrigado. Entre os presos, além do casal Aldo e Mady, estavam os filhos deles Alessandro Renaux Marchini e Rebeca de Lemos Marchini, além de Andrea Elisa Gauer Marchini, que é esposa de Alessandro.
A Gazeta do Povo entrou em contato na quarta (5) e na quinta-feira (6) com a defesa da família Marchini, feita pelas advogadas Nicole Trauczynski Muffone e Elisa Fernandes Blasi, mas não obteve nenhuma manifestação até agora.
Atuação no TC e remuneração bruta de R$ 37 mil
O TC, que é um órgão auxiliar do Poder Legislativo na fiscalização das contas e contratos públicos, confirmou à Gazeta do Povo que Mady Marchini foi servidora concursada (analista de controle) entre 17 de junho de 1993 a 6 dezembro de 2017, quando solicitou a aposentadoria. Ao longo dos anos, atuou em diferentes locais – área de recursos humanos, gabinetes e inspetorias.
A remuneração bruta de Mady em maio, de acordo com informações do Portal da Transparência do governo do estado, foi R$ 37.782,86. O valor líquido foi de R$ 24.269,19.
Depois de obter a aposentadoria, Mady Marchini assumiu um cargo comissionado (DAS-2), que ocupou entre 6 de dezembro de 2017 e 13 de dezembro de 2018: ela foi indicada pelo então presidente do TC, conselheiro Durval Amaral, para ser diretora da Escola de Gestão Pública (EGP). O objetivo da EGP, de acordo com a descrição no site do TC, é “disseminar conhecimento e capacitar, por meio de cursos a distância e presenciais, servidores do próprio TC e de entidades vinculadas à gestão pública, além da sociedade civil em geral”.
No mesmo período, ao longo do ano de 2018, ela também foi uma das representantes do TC na Rede de Controle da Gestão Pública, atuando na Comissão Permanente de Capacitação. No Paraná, a Rede de Controle foi constituída em 2009 e hoje conta com a adesão de 14 instituições estaduais e federais - o próprio governo do Paraná, o Ministério Público, a Receita Federal, a Controladoria-Geral da União, por exemplo.
Mady Marchini deixou o TC no final de 2018, com a troca de gestão – Durval Amaral encerrou o biênio e, em seu lugar na presidência do órgão, entrou o conselheiro Nestor Baptista (para o biênio de 2019 e 2020).
A JMK foi contratada pelo governo do Paraná, durante a gestão Beto Richa (PSDB), no ano de 2015 [Contrato Público 256/2015], após a realização de um processo de licitação [Pregão Presencial 044/2014].
Por quase R$ 60 milhões pelo período de 12 meses, a empresa foi contratada naquele ano para fazer o gerenciamento, controle e fornecimento de manutenção preventiva e corretiva da frota veicular do Paraná. Aditivos foram depois autorizados pelo governo do Paraná, o que gerou a prorrogação do contrato até julho deste ano.
Questionado pela Gazeta do Povo, o TC informou que Mady Marchini não atuou no âmbito da fiscalização do contrato com a JMK – “as funções a ela atribuídas nunca tiveram relação com os processos [da JMK]”. O TC reforçou ainda que foi o próprio órgão que identificou irregularidades na licitação de 2014, vencida pela JMK, e aplicou multas. Também informou ter encaminhado o assunto para o Ministério Público e para a Polícia Civil, diante dos problemas que encontrou.
Tudo sobre a investigação
No pedido que fez à Justiça Estadual para prender investigados, a Polícia Civil não mencionou a atuação de Mady Marchini no TC. Segundo a apuração, ela estava entre aqueles que ajudariam Aldo Marchini na lavagem de dinheiro do esquema de corrupção montado a partir do contrato entre a JMK e o governo do Paraná.
“Todos os investigados na presente demanda cumprem – ou cumpriram – funções determinantes para que todos os delitos praticados por esta associação criminosa fossem bem-sucedidos. (...). Aldo Marchini é o maior proprietário da JMK, tomando decisões importantes sobre a estrutura da empresa, mantendo contato com o Poder Público e recebendo quantias milionárias da JMK, através de pessoas físicas e jurídicas”, escrevem os investigadores.
Ainda de acordo com a Polícia Civil, enquanto Alessandro era o “braço direito” de Aldo Marchini, Mady, Andrea e Rebeca “contribuem com o setor da associação criminosa dedicada à lavagem de dinheiro, seja recebendo valores diretamente da JMK, por intermédio de Marcos Zanotto – principal executor da lavagem de dinheiro – ou através de empresas ligadas a estas pessoas”.
Na Receita Federal, Marcos Luiz Robert Zanotto aparece como um dos atuais sócios da JMK. Mas, de acordo com a Polícia Civil, Zanotto seria “um mero funcionário”. A Gazeta do Povo não conseguiu fazer contato com a defesa de Zanotto.
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