Uma cidade com população estimada em 22 mil pessoas (sendo 8 mil com menos de 18 anos) e que terá oferta de 11 mil novos empregos. Essa é a situação de Ortigueira, nos Campos Gerais, que já está tendo que lidar com a perspectiva de um inchaço temporário, por causa da expansão da fábrica de papel e celulose da Klabin. Com investimento previsto de R$ 9,5 bilhões, a empresa iniciou a construção no mês passado. Por enquanto, cerca de 350 funcionários trabalham na obra, mas a perspectiva é de que o quadro chegue a 4 mil trabalhadores já no próximo mês. O pico deve ser atingido em setembro do ano que vem.
Esse volume de empregos, ainda que temporários, enche de esperança quem está à procura de uma ocupação. Mas também pode representar problemas de toda a ordem, caso uma multidão decida arriscar a sorte e procurar emprego diretamente na cidade. Para tentar evitar essa busca desordenada, uma estratégia foi traçada. As vagas estão sendo ofertadas nas 216 Agências do Trabalhador espalhadas pelo Paraná. Assim, os candidatos podem se inscrever no local mais perto de onde moram e aguardar o resultado da seleção, sem gastar tempo e dinheiro para ir até Ortigueira em busca de algo incerto.
De acordo com o secretário estadual de Justiça, Família e Trabalho, Ney Leprevost, a contratação via agências fornecerá mais segurança para a Klabin, com o cadastramento e apresentação dos documentos dos interessados. Além disso, ele comenta que será ofertada orientação profissional para os candidatos, com a possibilidade de cursos de formação. Francisco Razzolini, diretor de Tecnologia Industrial, Inovação, Sustentabilidade, Projetos e Negócio de Celulose da Klabin, comenta que há uma preferência, estabelecida em contrato, por empregar mão de obra da região.
O perfil inicial é de construção civil, desde trabalho braçal a serviços mais especializados. Durante os dois anos da obra, a situação empregatícia em Ortigueira será substancialmente alterada. Os dados mais recentes da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que registra as ocupações formais, a cidade contava com 2,8 mil pessoas empregadas em 2017.
As admissões não estão sendo feitas diretamente pela Klabin, mas pelas empresas contratadas pela fábrica. Contudo, Razzolini assegura que uma série de condições foram estabelecidas para garantir uma rede de seguridade e de boas condições para os trabalhadores da obra. Uma delas é a obrigatoriedade de ofertar plano de saúde. Essa é uma medida para não pressionar o sistema público da cidade, que não daria conta de atender o novo fluxo.
Cerca de 1,5 mil cargos efetivos
Vale destacar que também começaram a ser colocadas em prática as estratégias para a seleção dos 1,5 mil empregados que irão atuar na operação – seja dentro da fábrica, seja no manejo florestal. É mão de obra remunerada acima da média para os padrões da região, com benefícios adicionais, e a possibilidade de treinamento para aqueles que não têm todas as qualificações exigidas.
Razzolini explica que vão procurar pessoas com ensino médio, preferencialmente em curso técnico, para contratar bem antes do período previsto para o início das operações da nova parte da fábrica. É que alguns treinamentos e capacitações necessários podem ser de mais de seis meses. Boa parte dos 600 empregos diretos dentro da indústria terá relação direta com processos em grau avançado de automação, que exigem qualificação. A remuneração média deve ser de R$ 2 mil e R$ 4 mil (e o salário começa a ser pago já durante o treinamento).
Além disso, há a perspectiva de contratar cerca de 800 pessoas para a operação florestal. Especialmente para essa área, a empresa desenvolveu a estratégia de criar uma escola técnica. A Klabin cedeu um residencial (espécie de alojamento) e o governo do Paraná está fazendo uma reforma para que se transforme numa instituição de ensino. A ideia é abrir espaço para até 800 alunos para os cursos de técnico em Operações Florestais, em Manutenção de Máquinas Pesadas e em Agronegócio. Também ficará a cargo da empresa equipar a estrutura com o maquinário necessário para a aprendizagem. Há ainda a possibilidade de funcionar em regime de internato. A iniciativa é inspirada em modelos da Finlândia e da Suécia.
Contratação leva em conta lições aprendidas com erros passados
A Klabin está usando toda a experiência adquirida nas megaobras anteriores. A Gazeta do Povo já mostrou, em 2015, que a empresa reconheceu erros e implantou melhorias entre a expansão da planta de Telêmaco Borba, que terminou em 2008, e a nova unidade de Ortigueira, que começou a operar em 2016 e agora está sendo substancialmente ampliada.
Além de preocupações com infraestrutura, a Klabin entendeu os vários impactos da contratação de mão de obra local. Na época da expansão em Telêmaco Borba, a cidade chegou a ser anunciada como a cidade com mais emprego disponível no Brasil, atraindo desempregados do país todo. Sem vínculos locais, muitos acabaram se envolvendo em brigas ou outros tipos de violência.
Já para a construção em Ortigueira, a preferência na contratação foi por trabalhadores da região. Assim, no período de terraplanagem, 85% dos empregados eram paranaenses e o número chegou a 53% durante a construção – sendo metade deles das três cidades de abrangência da fábrica (Imbaú, Ortigueira e Telêmaco Borba). Somente para as funções para as quais não se encontra empregados qualificados regionalmente é que era autorizada a contratação externa. “Revisitamos as questões aprendidas com os projetos anteriores”, complementa Razzolini.
A empresa, por exemplo, monitora uma série de indicadores locais – de doenças sexualmente transmissíveis a casos de exploração infantil – e realiza reuniões periódicas com comitês que traçam estratégias de atuação. Para não pressionar o mercado imobiliário local, por exemplo, aumentando os aluguéis, a Klabin fica responsável pelos alojamentos dos funcionários. O diretor comenta que, para o plano de expansão vigente, não serão construídas novas áreas residenciais. As atuais comportariam cerca de 3,5 mil pessoas, número suficiente se for considerada a intenção de contratar mão de obra local, com residência fixa nas proximidades.
Ainda está em negociação se a Klabin terá de investir em obras de infraestrutura. Para o projeto anterior, por exemplo, foi necessário fazer uma rodovia, tendo em vista que não havia ligação rodoviária capaz de suportar o fluxo gerado pela indústria. Em breve, as novas contrapartidas da empresa devem ser anunciadas.
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