Técnicas como correções nutritivas do solo e coberturas alternativas de inverno são alguns dos segredos de uma cooperativa no interior do Paraná para alcançar índices de produtividade históricos: cerca de 300 sacas de soja por alqueire.
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A Cooperativa Agroindustrial Consolata, popularmente conhecida como Copacol, tem sede em Cafelândia, região oeste paranaense, e comemora o desempenho recorde em uma área experimental. A técnica vem sendo expandida a produtores. Muitos chegaram a resultados considerados surpreendentes e se preparam para repeti-los na próxima safra, que começa a ser semeada no mês de setembro.
O recorde de 300 sacas por alqueire foi registrado pelo Centro de Pesquisa Agrícola (CPA) na safra 2022/23. A cooperativa, com vocação e referência na produção das proteínas, foca nos grãos para manter as integrações de aves, suínos, peixes e leite.
Sem a possibilidade de ampliar áreas de cultivo, o Paraná tem cerca de 6,3 milhões de hectares agricultáveis às safras de verão e não conta com novos espaços que possam ser desbravados para cultivo. A chave tem sido a insistência na pesquisa, melhoramento genético de sementes e de defensivos, além da aplicação de técnicas de cuidado com o solo.
O desempenho alcançado nas áreas experimentais representa quase o dobro da produtividade média que o estado registrou no ciclo 2022/23, de 155 sacas por alqueire, volume que já é considerado um dos melhores em produtividade, no registro histórico.
A área cultivada pelos técnicos da Copacol foi de 84 hectares, quase 35 alqueires, com acompanhamento e registro pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.
Ciclos exemplares de cultivos potencializam produção
Segundo a cooperativa, a área com alto desempenho passou por ciclos exemplares de cultivos, com coberturas de inverno que permitem a renovação do solo. “Os experimentos conduzidos de maneira contínua demonstram eficácia da aveia preta, que apresenta vantagens como baixo custo de produção, resistência à seca e redução da infestação de invasoras, principalmente as de folhas largas, diminuindo o custo do controle em safras futuras. Em áreas de pesquisa, a produção de soja chegou a aumentar 20% onde havia aveia preta plantada”, avalia a cooperativa.
O engenheiro agrônomo João Maurício Roy, pesquisador do CPA da Copacol, considerou que o principal fator de alta produtividade foram, de fato, as boas práticas adotadas ao solo. “O manejo adequado durante cada ciclo garante melhor rendimento na safra futura. É o que constatamos em mais um recorde em nossa área experimental", ressalta ao destacar o bom desempenho fortemente ligado ao tripé químico, físico e biológico.
“Quando realizamos um cuidado adequado do solo, controles de pragas e ervas-daninhas e temos um clima favorável – com elevada radiação solar e chuvas constantes – alcançamos um bom desempenho produtivo: fator registrado nessa área recordista e também em outras propriedades em nossa área de atuação”, completa.
O agrônomo afirmou que o desempenho é possível em cultivos comerciais. Além das técnicas de manejo e aplicações adequadas, há ainda a indicação de variedades de sementes adequadas a cada região de cultivo e os insumos fornecidos passam por constantes testes de eficiência.
Entre os exemplos práticos da produção comercial bem sucedida no cultivo na área de abrangência da cooperativa, propriedades localizadas nos municípios de Corbélia, Formosa do Oeste, Nova Aurora e Goioerê tiveram rendimentos considerados exponenciais, próximos ou até superiores a 200 sacas colhidas por alqueire.
Paraná mais que dobra produtividade da soja em três décadas
Com condições climáticas bastante favoráveis, o estado colheu no ciclo 22/23, mais de 22 milhões de toneladas da oleaginosa, safra recorde. O Paraná é o segundo maior produtor do cereal no país, atrás apenas no Mato Grosso que colheu 45,32 milhões de toneladas. O Brasil produziu no ciclo 2022/23, 155,6 milhões de toneladas e se mantém como o maior produtor de soja do mundo.
A produtividade média da soja no Paraná tem aumentado gradativamente ao longo dos últimos anos e mais que dobrou em duas décadas.
Segundo dados do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, no começo dos anos 1990, a produtividade média já havia subido para 2.050 quilos por hectare (4.981 quilos por alqueire/82 sacas).
Em 2021, esse número já havia subido para mais de 3,5 mil quilos por hectare (8,5 toneladas por alqueire) e no último ciclo, considerado de recorde absoluto em produtividade, foram 3.845 quilos por hectare (9305 quilos por alqueire/155 sacas).
“Ao longo dos últimos anos as áreas cultivadas são as mesmas no Paraná, o que vai nos permitir safras cada vez maiores é a utilização das tecnologias corretas, manejo adequado de solo e contar, claro, com o auxílio das condições climáticas. Queremos chegar aos volumes conquistados nas lavouras experimentais do oeste em cultivos comerciais por todo o Paraná”, destacou o secretário de Estado da Agricultura, Norberto Ortigara.
Para o presidente da Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep/Senar), Ágide Meneghette, o aumento gradativo na produtividade mantém destaque ao estado como um dos maiores produtores do grão no país. “É possível e existem produtores, como nos casos de Corbélia, Cafelândia, que chegam a excelentes desempenhos no cultivo. Esse é o reflexo do agro que, no Paraná dá certo, que respeita o meio ambiente e que produz mais, respeitando o solo, sem ampliação de áreas, apenas com o aumento médio da produtividade”, analisa
O produtor é referência para sucesso estadual
O agrônomo Rafael Carmo lembrou que há duas décadas condições como as que vêm sendo aplicadas em áreas comerciais de soja seriam inimagináveis. “A gente vem avançando muito e isso tudo graças à tecnologia, as boas práticas, a rotação adequada de cultura, os cuidados para evitar erosão, degradação e os aconselhamentos que são seguidos pelos produtores. De nada adiantaria avançarmos em todos esses campos se na ponta, o produtor não estivesse receptivo a tudo isso e implantasse nas suas lavouras”, pondera.
Para o presidente da Federação da Agricultura do Estado, Ágide Meneguette, muito desta conscientização vem de trabalhos constantes realizados com os agricultores, como as que são desempenhadas pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Paraná (Senar-PR) que inaugura a partir de agora um novo caminho de expertise: o da assistência técnica e de extensão rural. Segundo o presidente, já existem alguns projetos-piloto com o objetivo é atender diretamente ao produtor.
Soja Baixo Carbono reduz emissão de gases de efeito estufa
Além do aumento na produção da soja, técnicas pesquisadas para o cultivo também avançam para ampliar os ganhos no meio rural. Apesar de ser uma commodity, a expectativa é para que, em poucos anos, a produção do cereal com valor agregado conquiste espaço.
Segundo a Embrapa Soja, com sede no município de Londrina (PR), o Programa Soja Baixo Carbono (SBC) chega com o objetivo de agregar valor à oleaginosa produzida em sistemas que contribuam para reduzir as emissões de gases de efeito estufa, auxiliando no combate ao aquecimento global.
Enquanto a técnica não está no campo, outras formas de cultivo do mesmo grão ganham espaço, apesar de ainda em pequenas áreas, pelo Paraná. No oeste do estado, lavouras orgânicas começaram a ser semeadas no fim da década passada. O foco nelas é fazer o manejo e controle de pragas com o uso da homeopatia. O cultivo está focado prioritariamente para atender públicos específicos e comumente não são utilizadas para produção de ração animal.
“Cresce a cada dia o consumo de produtos orgânicos na sociedade. Atualmente, são produzidos desde tomates à carne orgânica. A soja é um desses produtos que vem conquistando consumidores europeus e, mais recentemente, brasileiros”, destaca a Embrapa. Cultivada livre de produtos químicos como herbicidas, fungicidas e inseticidas, a soja orgânica também é um bom investimento para pequenos produtores, reconheceu a empresa pública.
“Além disso, de modo geral, o custo de produção é menor do que no sistema convencional. Para a agricultura familiar, o cultivo de soja para consumo humano torna-se mais uma alternativa de renda”, completa.
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