Segundo maior segmento da indústria paranaense em número de empregos formais, com mais de 55 mil postos de trabalho, a confecção de artigos do vestuário pode ser o primeiro setor a responder positivamente na aguardada retomada do crescimento econômico – com novas contratações, em especial de mulheres. A expectativa é de empresários e entidades do setor, que projetam para o maior polo de confecções do Estado, o de Maringá e Cianorte, crescimento de 1% para este ano.
Essa projeção pode parecer moderada, porém, após anos de uma forte crise iniciada em meados de 2014, ninguém no ramo da confecção espera que todos os problemas sejam solucionados em 2019. Assim, considerando a relevância do polo de Maringá e Cianorte e seu potencial para gerar empregos, experts do setor apontam que este tímido crescimento seria motivo para comemorar.
“Existe otimismo, porque esse é um segmento que tem um peso muito grande na economia”, comenta Letícia Birolli Ferreira, coordenadora do Conselho Setorial da Indústria do Vestuário da Fiep. “Então, se fechar o ano com 1%, será algo a ser comemorado porque, no ano seguinte, vamos pensar em 2% de crescimento”, acrescenta.
Para que esse cenário de otimismo moderado se confirme, o presidente Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá (Sindvest), Carlos Alexandre W. Ferraz, avalia como fundamental a aprovação da reforma da Previdência, entre outras medidas capazes de elevar a confiança do empresariado. “Acredito que, com as reformas sendo aprovadas, é provável que tenhamos um retorno de investimentos em diversos setores, o que deverá gerar empregos, alimentar as vendas no varejo e, assim, gerar demanda para as indústrias”, explica.
Em maio, estudo mensal da Fiep revelou queda no índice de confiança do industrial paranaense pelo terceiro mês seguido. A redução para 59,2 pontos – frente aos 60,2 de abril – teve como principal motivo justamente a preocupação apontada por Ferraz: a percepção do empresário de que o novo governo não avançou tão rapidamente quando se esperava na pauta econômica.
Região tem 13,2% dos empregos formais do setor no Paraná
Maringá, Cianorte e região formam um arranjo produtivo local (APL) no segmento de confecção. Juntas, as duas cidades empregam 7.282 trabalhadores com carteira assinada, o que corresponde a 13,2% dos empregos formais do setor no Paraná. O levantamento da Fiep aponta que essa mão de obra está alocada em 604 indústrias (14,6% do total), à frente de Apucarana (533 indústrias), Curitiba (369) e Londrina (202) (veja mais no gráfico).
Para o vice-presidente para assuntos estratégicos do Sindvest, Valdir Antônio Scalon, é esse potencial regional que embasa a expectativa de crescimento também para os próximos anos. Nesse processo, diz o empresário, os municípios do entorno de Maringá e Cianorte, também vocacionados para a indústria do vestuário, darão importante contribuição. “Em quase todas as pequenas cidades da região, a confecção é muito forte”, diz.
Um bom exemplo é Terra Boa. O município, vizinho de Cianorte, tem apenas 17 mil habitantes, mas conta com 33 indústrias de confecção – algumas delas operando como microempreendedores individuais (MEIs). Ao todo, contam com 1.556 trabalhadores com carteira assinada, o que faz dessa pequena cidade a sexta maior empregadora do Paraná nesse ramo industrial.
Acredito que, com as reformas sendo aprovadas, é provável que tenhamos um retorno de investimentos em diversos setores, o que deverá gerar empregos, alimentar as vendas no varejo e, assim, gerar demanda para as indústrias
Carlos Alexandre W. Ferraz, Sindicato da Indústria do Vestuário de Maringá (Sindvest) e dirigente da Fiep
Em municípios com o perfil de Terra Boa, diz Letícia, a dependência do vestuário passa dos 80%. Cenário que deve permanecer para os próximos anos. Segundo ela, o setor continua carecendo de muita mão de obra qualificada por lidar com produtos – como o jeans, por exemplo – que ainda demandam trabalho manual, apesar dos maquinários modernos e de toda a tecnologia empregada.
Queda entre 35% e 40% na crise
“Os anos de 2014 a 2016 foram terríveis para nós, da indústria da confecção, e as empresas que mais sofreram foram as facções das cidades menores”. A frase do presidente do Sinveste, Beto Nabhan, ilustra bem o drama vivido por um setor que só voltou a se recuperar em 2018.
Sindicatos empresariais do polo de confecção do Estado, o Sinveste de Cianorte e o Sindvest de Maringá estimam uma retração de 35% e 40% no faturamento do setor, no período da crise. “As facções foram as mais prejudicadas porque tinham menos gordura para queimar. Aliás, hoje, poucas indústrias têm alguma gordura para queimar. Conseguir crédito é um sufoco, os bancos sumiram”, reclama Nabhan.
Presidente do Sindvest Maringá, Carlos Ferraz enumera alguns fatores que contribuíram para esse cenário de crise no mercado da indústria da moda: câmbio desfavorável em alguns momentos; a alta na importação de têxteis de países asiáticos; e questões climáticas, como invernos brandos. “Em todos os momentos, a questão primordial é a falta de venda no varejo pelo consumo retraído das famílias, por conta da falta de capacidade financeira para refazerem seus guarda-roupas”, explica Ferraz.
Uma indústria feminina
Dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) do Ministério do Trabalho, divulgados em 24 de maio, apontam que o Paraná criou 10,6 mil empregos com carteira assinada em abril, sendo 841 postos de trabalho a mais na indústria da transformação. O melhor resultado para o mês de abril desde 2014 é um bom sinal para a indústria da confecção, que costuma reagir rápido aos primeiros sinais de retomada do crescimento.
“É uma indústria que responde muito rápido à necessidade de produção”, explica Carlos Alexandre W. Ferraz, presidente do Sindvest Maringá. “Hoje, o parque fabril do vestuário está ocioso. Ou seja, se o mercado melhorar, temos a condição imediata de gerar empregos e também de produzir a demanda dos varejistas”, acrescenta o empresário, que também é dirigente da Fiep.
Mantido o saldo positivo de empregos nos próximos meses – fator que é determinante para o aumento do consumo –, as mulheres devem ter a preferência na ocupação dos postos a serem abertos pela indústria da confecção. “Esse é o principal setor para criação de empregos para as mulheres”, afirma o dirigente Valdir Scalon, do Sindvest Maringá.
Presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Cianorte (Sinveste), Beto Nabhan explica que na indústria da confecção a mão de obra feminina costuma ocupar, pelo menos, 80% dos postos de trabalho, como ocorre em sua empresa. Em alguns casos, esse percentual beira os 95%.
Na indústria paranaense, a confecção de artigos do vestuário perde apenas para a fabricação de produtos alimentícios na geração de empregos. Contudo, segundo a coordenadora de Vestuário da Fiep, Letícia Birolli Ferreira, a confecção é líder em empregos formais quando considerada apenas a mão de obra feminina. “Na costura, só há muito pouco tempo a gente viu os homens entrarem para essa função”, diz.
Qualificação
Em 2010, quando a indústria da confecção atravessava um bom momento, o polo de Maringá e Cianorte contava com mais de 1,2 mil indústrias (incluindo cidades menores), produção de 7 milhões de peças/mês e faturamento mensal de R$ 130 milhões. Era uma época de falta de mão de obra, algo que, apesar do aumento do desemprego em tempos de crise, persiste até hoje.
“Isso continua sendo um problema, porque falta principalmente gente capacitada para a costura, função que mais emprega nessa indústria”, explica Letícia Birolli Ferreira, coordenadora do setor do Vestuário da Fiep.
Parte do problema é atribuída à falta de interesse da nova geração no ofício. “Por isso, a gente fala que as costureiras estão entrando em extinção, pois não há mais muitas jovens interessadas”, acrescenta Letícia.
Para o dirigente do Sindvest Maringá Valdir Scalon, que assumirá a presidência da entidade em julho, o grande desafio do setor será a capacitação da mão de obra, quando a retomada do crescimento elevar a demanda por trabalhadores. Para que as indústrias não tenham de desempenhar esse papel, Scalon diz que uma das ações do sindicato será traçar ações para recuperar os processos de capacitação, envolvendo as universidades e faculdades da região, o Sistema Fiep e os governos federal e estadual.
Esperança no novo governo
Publicada anualmente há 23 anos, a Sondagem Industrial da Fiep consultou 620 empresas paranaenses, de todas as regiões do Estado, para apontar as expectativas dos líderes industriais para 2019. Selecionadas aleatoriamente, essas empresas compreendem um universo de 75,5 mil funcionários, o equivalente a 12% do total de empregados na indústria da transformação do Paraná.
Com 90% de confiabilidade e 4% de margem de erro, a pesquisa apontou que 81,17% dos empresários industriais estavam otimistas em relação ao setor para este ano, o melhor índice desde 2013. Aqueles que se disseram pessimistas somaram apenas 0,81%, o menor percentual desde o início da série histórica, em 1996. Os 18,02% restantes são de indefinidos.
É uma indústria que responde muito rápido à necessidade de produção. Hoje, o parque fabril do vestuário está ocioso. Ou seja, se o mercado melhorar, temos a condição imediata de gerar empregos e também de produzir a demanda dos varejistas
Carlos Alexandre W. Ferraz, presidente do Sindvest Maringá e dirigente da Fiep
Apesar de terem se passado poucos meses desde então, esse cenário mudou, e para pior. “No início do ano, havia uma euforia no mercado com relação a possíveis mudanças imediatas, que reverteriam os rumos da economia, como a aprovação das reformas e o ajuste fiscal, o que não se confirmou até o momento”, comenta Evânio Felippe, economista da Fiep.
Segundo a Coordenadora do Conselho Setorial da Indústria do Vestuário da Fiep, Letícia Birolli Ferreira, parte da queda no índice de confiança posse ser atribuída a um eventual corte nos repasses do governo de Jair Bolsonaro (PSL) para o Sistema Fiep, medida defendida no fim de 2018 pelo hoje ministro da Economia, Paulo Guedes. “Os empresários, ao que parece, tinham uma expectativa um pouco maior com o novo governo”, diz.
No entanto, a queda na confiança – na comparação com o momento da pesquisa para a 23ª Sondagem Industrial da Fiep – não pode ser atribuída apenas ao governo. “Tem essa briga política [no Congresso], e a reforma da Previdência que não é aprovada. O frio, que não veio, prejudicando as vendas, é outro fator”, analisa o vice-prefeito de Cianorte e presidente do Sinveste, Beto Nabhan, ao citar dois exemplos.
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