Os estudantes matriculados no primeiro ano do Ensino Médio na rede estadual de educação no Paraná tiveram, nesta semana, o primeiro contato com os chamados Itinerários Formativos – disciplinas técnicas que fazem parte do chamado “Novo Ensino Médio”. O modelo escolhido pela Secretaria Estadual de Educação e Esporte (Seed) para ofertar algumas destas disciplinas é inédito no Brasil: a chamada “parceirização”, feita por meio de um contrato entre a pasta e a Unicesumar, que prevê aulas ministradas pela internet e interação mediada por auxiliares em sala de aula.
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De acordo com a Seed, os cerca de 22 mil estudantes matriculados nos cursos integrados de Administração, Desenvolvimento de Sistemas e Técnico em Agronegócio em todo o estado assistirão às aulas ao vivo, de forma síncrona, em turmas com uma média de 30 alunos cada. À Unicesumar cabe gerir a estrutura de professores, que atuarão em duplas – um para efetivamente ministrar as aulas e outro para ajudar na interação com os estudantes – que terão, segundo o contrato, que atender a até 20 turmas ao mesmo tempo.
À Gazeta do Povo, o diretor de Educação da Seed, Roni Miranda, garantiu que, apesar de as duplas de professores terem, por força de contrato, que atender às demandas de cerca de 600 alunos por aula, a interação entre estudante e professor está garantida. Esta será uma das atribuições dos monitores, que atuarão como auxiliares dos professores mediadores dentro das salas de aula das escolas estaduais.
Miranda explicou à reportagem que esses monitores não precisarão obrigatoriamente de uma formação específica na área de conhecimento tratada durante as aulas. “Não se trata de conhecer o conteúdo, mas de conseguir fazer o vínculo do conhecimento com a aprendizagem. É importante que o processo ensino-aprendizagem aconteça com esse casamento. Não adianta ter lá como monitor um doutor em Desenvolvimento de Sistemas se ele não tem técnica de ensinar. Por isso que nós vinculamos o papel do monitor a técnicos de magistério e formação docente, que são pessoas que desenvolveram essa técnica de como se ensina o outro. Colocar uma pessoa que não tem domínio de turma levaria a aula a virar uma bagunça”, avaliou.
Avaliação dos estudantes será feita pela universidade
De acordo com o diretor, a Seed ficou responsável pela elaboração das ementas dos cursos do novo Ensino Médio – ou seja, define aquilo que na prática os estudantes deverão ter de conteúdo durante o curso. A forma como os conteúdos serão apresentados aos alunos caberá aos professores parceiros, “da mesma forma como acontece em todas as outras disciplinas em todas as escolas estaduais do Paraná”, destacou Miranda.
As avaliações, assim como as aulas, ficarão a cargo da Unicesumar, mas a certificação final do curso será de responsabilidade da Seed. Segundo o diretor, serão feitas avaliações periódicas para medir o aproveitamento dos estudantes e a satisfação geral deles com o novo modelo, de modo similar ao que é feito na aplicação da Prova Paraná.
“A secretaria contará com alguns instrumentos para validar esse aprendizado e essas avaliações Um deles levará em conta a frequência do aluno, se ele está assistindo às aulas, se está frequentando e fazendo o curso. Outro medirá a satisfação do estudante. É muito importante para nós mensurar como o estudante está se sentindo nesse processo, se ele está conseguindo aprender. Vamos também fazer uma aferição qualitativa, vamos aplicar provas aos estudantes, testes como a gente já faz no Prova Paraná”, detalhou.
Sindicato critica modelo e fala em terceirização
O novo modelo, primeiro do país em que um estado contrata uma universidade particular para ministrar aulas para estudantes do ensino médio, foi criticado pela APP-Sindicato, órgão de classe dos professores do Paraná. Segundo a secretária educacional da entidade, Vanda Bandeira Santana, o estado conta com profissionais do quadro próprio do magistério habilitados para ministrar as aulas, o que não justificaria o que ela chama de “terceirização” do ensino por parte do governo do estado.
“Um administrador de empresas, por exemplo, é formado nessa área e pode trabalhar com todas as disciplinas do curso técnico de Administração. Isso é o que sempre foi feito na educação profissional no Paraná. O governo sempre buscou esses profissionais, e depois oferecia a formação contínua e o estímulo para que esses profissionais seguissem se aperfeiçoando constantemente. Esses professores faziam as especializações conforme vinham as demandas da Secretaria de Educação. E nós temos profissionais graduados, habilitados para trabalhar com as disciplinas de Administração, Técnico em Agronegócio e Desenvolvimento de Sistemas. É uma terceirização do trabalho docente, de uma atividade fim da escola, que é o trabalho dos professores”, alertou.
O diretor da Seed rebateu a alegação de Santana. “Não é uma terceirização, porque se fosse nós estaríamos tirando este estudante das escolas da rede estadual e colocando-os dentro das salas da instituição privada. Isso é terceirização. O estudante vai continuar na nossa escola, ele é atendido pelos profissionais de educação do estado, e a gente ‘parceirizou’ a parte dos cursos técnicos, especificamente”, afirmou Roni Miranda.
Para APP, parceria do novo Ensino Médio vai "dividir a educação no Paraná"
Para a secretária educacional da APP, a entrada de uma universidade privada vai “dividir a educação no Paraná”. “Essas disciplinas específicas terão uma coordenação à parte, serão ministradas por professores sem relação com a escola, que não participarão do processo educativo como um todo. Não haverá relação com as disciplinas da BNCC. É como se fossem duas escolas. E o que é pior, são aulas online, ministradas à distância. Temos casos de crianças de 14 anos tendo seis aulas online. Já é inadmissível ser à distância, e é mais inadmissível ainda esse professor atender mais de 500, 600 alunos ao mesmo tempo. É a nossa profissão que fica em risco”, ponderou.
O diretor da Seed explicou que o modelo foi adotado como forma de minimizar o alto número de estudantes que estavam reprovando ou deixando de estudar. Segundo Miranda, pesquisas internas da pasta indicam que 80% dos estudantes da rede estadual teriam mostrado interesse pelos cursos técnicos profissionalizantes, caso houvesse oferta.
“Nós temos mais de 100 mil estudantes da 3ª série do Ensino Médio se formando a cada ano. Nós tínhamos um alto índice de abandono e reprovação, pouco mais de 24% no ensino regular no ano de 2018, nas três séries. Dá quase um a cada quatro estudantes. Nós estávamos perdendo algo em torno de 80 mil e 100 mil estudantes, que ou reprovaram ou deixaram de estudar. É público maior do que muitas cidades do Paraná”, comentou.
Falta de monitores está atrasando início das aulas
A reportagem apurou que algumas das disciplinas dos cursos técnicos integrados em Tijucas do Sul, Mandirituba, Rio Negro, Contenda, Lapa e Araucária ainda não começaram a ser ministradas. O motivo seria a falta de monitores nas salas de aula das escolas estaduais. Os diretores dessas escolas estão sendo orientados a procurarem entre os estudantes recém-formados aqueles que tenham um perfil que possibilite a contratação como monitores por parte de Unicesumar.
A Seed confirmou o déficit de monitores nesta primeira semana de aulas. A assessoria da pasta disse, em nota, que “existe um período de ajuste no começo de qualquer ano letivo, e não só com os monitores que apoiam as aulas dadas em parceria com a Unicesumar’, e que “de qualquer forma, os alunos estão tendo as aulas introdutórias usando os equipamentos que a Seed disponibilizou”.
Sobre o fato de haver a possibilidade de contratação de monitores sem a formação acadêmica necessária, citada por Roni Miranda, a assessoria da Seed informou que “essa é uma solução provisória”, e que a situação será corrigida em março. A Unicesumar não retornou os pedidos de entrevista feitos pela reportagem.
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