O governo do Paraná pretende lançar até o fim de julho um protocolo sanitário para retorno presencial das aulas, mas a reabertura não deve ocorrer antes de setembro, afirmou o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) nesta quinta-feira (9). Integrantes do governo e representantes de professores, alunos e de escolas particulares vão se reunir ao longo da semana que vem para apresentar, de forma setorial, as demandas e possibilidades existentes em torno da pandemia do coronavírus.
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O diretor-geral da Secretaria da Educação e do Esporte (Seed), Gláucio Dias, afirmou em material repassado pela assessoria de imprensa que o objetivo do governo é criar um plano seguro que atenda a todos os envolvidos. Da parte do governo, estão sendo feito levantamentos quanto à necessidade de aquisição de materiais, como dispensers de álcool gel e máscaras, além de substituição de mão de obra que se enquadra dentro do grupo de risco para a Covid-19: pessoas com comorbidades e maiores de 60 anos.
Em entrevista à RPC TV, Ratinho ponderou que o retorno às aulas ainda deve demorar. “Não sou médico, não sou infectologista, mas acho difícil ocorrer antes de setembro”, destacou. O Paraná vive uma aceleração nos casos confirmados de coronavírus: 37.001 pelo boletim desta quinta-feira (9), com 914 óbitos. Há projeções que indicam que o pico no estado será no fim de agosto. As escolas estão fechadas desde 23 de março.
Escolas particulares
Segundo a presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Estado do Paraná (Sinepe-PR), Esther Cristina Pereira, as instituições privadas já estão organizadas, com novos protocolos de atendimento e equipamentos de higienização. “Seguimos os melhores protocolos já implantados em diversos países. Poderíamos retornar antes da rede pública, mas dependemos do decreto do governador”, afirmou.
Os indicadores de outros países são animadores: o retorno às aulas na Europa não provocou picos no registro de casos de coronavírus. Na França, por exemplo, todos os alunos já retornaram à sala de aula. Reportagem publicada na quarta-feira (7) pelo periódico Science, da Associação Americana para o Avanço da Ciência (AAAS) aponta que a “abertura de escolas em todo o mundo sugerem maneiras de manter o coronavírus sob controle, apesar dos surtos”.
O periódico destaca que “com o passar das semanas, pediatras e educadores começaram a expressar preocupação de que o fechamento da escola causasse mais mal do que bem, especialmente porque havia evidências de que as crianças raramente desenvolvem sintomas graves do Covid-19”. O texto destaca que é preciso considerar a circulação do vírus no entorno de cada comunidade – mas nas localidades que mantiveram jardins de infância abertos durante o pico de pandemia para atender trabalhadores de serviços essenciais, os surtos foram raros.
A Associação Americana de Pediatria dos Estados Unidos, país que vivencia um cenário da pandemia de coronavírus semelhante ao do Brasil – com aumento de casos e interiorização pelo território – também defende o retorno das aulas presenciais, mas destaca que isso precisa ser feito com planejamento, controle de fluxo, higienização e sem politização do tema.
Mesmo na Suécia, que não fez lockdown ou fechou escolas, as crianças foram pouco afetadas. A literatura sobre o tema ainda é escassa, destaca a AAAS, mas há um estudo recente que mostra que as crianças têm menos suscetibilidade a contrair o vírus e que, mesmo quando são hospitalizadas, a taxa de mortalidade é bem mais baixa do que para as outras faixas etárias.
Crise financeira
As escolas particulares, principalmente que atendem a educação infantil e o ensino superior, diz Esther, estão passando por grave crise. Ela lamenta que não houve ação governamental para auxiliar o setor educacional, que atua em rede com o serviço público. “Não tivemos na questão financeira auxílio nenhum. Tivemos somente propostas de financiamento com juro absurdamente alto. As escolas não podem pegar dinheiro a esse custo”, afirmou. Por parte do governo estadual, um auxílio específico é descartado, segundo informações de bastidores.
A situação do setor, entretanto, é das mais críticas: um estudo nacional da FGV e do Sebrae, as empresas de pequeno porte que sofreram mais com a pandemia são as do ramo de educação, com queda de 65% no faturamento. No fim de maio, a Câmara Municipal de Curitiba aprovou uma indicação de ato administrativo ao Executivo, para “realizar estudos e, considerando pertinente, fornecer auxílio financeiro ou isenção fiscal, devido à pandemia de Covid-19, aos Centros de Educação Infantil”. Passado um mês disso, o assunto não avançou. A Secretaria Municipal da Educação informou que tal tema seria da alçada da Secretaria Municipal de Finanças que, por sua vez, informou que não recebeu demanda para realizar nenhum estudo.
“Aparentemente, esse é um problema alheio à prefeitura, visto que esses Centros de Educação Infantil são empresas particulares. No entanto, se essas escolas fecharem, muitas das crianças que nelas estudavam migrarão para o Sistema Municipal de Ensino, que não tem capacidade de absorver essa possível demanda futura. É essencial que a prefeitura se antecipe ao problema antes que ele se torne uma realidade”, diz a proposição do projeto, assinado pelo vereador Professor Euler (PSD). Ele deu início a um abaixo-assinado “os centros de educação infantil de Curitiba correm o risco de fechar”, para angariar apoio e tentar sensibilizar os gestores públicos. "Isso é uma bomba-relógio", afirmou.
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