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Paciente com Covid-19 internado em UTI: umParaná não tem mais como ampliar rede.
Paciente com Covid-19 internado em UTI: umParaná não tem mais como ampliar rede.| Foto: Geraldo Bubniak/AEN

O Paraná completa nesta sexta-feira (12) um ano dos primeiros casos de Covid-19 tendo de enfrentar a doença em condições ainda mais severas. Ao ponto de as autoridades de saúde considerarem o cenário atual como o de uma nova pandemia, resultado da agressividade da variante P1 do coronavírus, descoberta em janeiro em Manaus.

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As quantidades de casos e de mortes por Covid-19 só em 2021 são quase metade ao longo de toda a pandemia. Até quinta-feira (11), ou seja, só nos primeiros 60 dias do ano, o estado perdeu 5.131 vidas para a Covid-19. Esse número representa 39,3% do total de 13.053 mortes desde março de 2020. Já as 327.543 infecções de 2021 são 44,2% do total de 740.955 registradas ao longo de toda a crise sanitária.

“A mudança do perfil epidemiológico e a agressividade dessa variante funciona quase como se fosse uma nova doença. A capacidade de transmissão dessa cepa do vírus é muito maior, com as contaminações evoluindo muito mais rapidamente para piora clínica”, compara o médico Vinicius Filipak, gestor da Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). “A gente sabe que cientificamente é a mesma doença, mas agora ela é muito mais grave do que a anterior. Podemos dizer que é uma nova Covid-19”, reforça Filipak.

No dia 12 de março de 2020, a Sesa anunciava as seis primeiras infecções por coronavírus no Paraná: cinco pacientes de Curitiba que haviam retornado da Europa e uma de Cianorte, na Região Noroeste, que havia viajado aos Emirados Árabes. Dos cinco pacientes curitibanos, três se contaminaram na Itália, então epicentro da pandemia, cuja situação assustava o mundo com até 800 mortes por dia. Com uma população seis vezes menor do que a italiana, o Paraná bateu na última terça-feira (9) recorde de 212 mortes por Covid-19 em um único dia.

A atual aceleração descontrolada da transmissão e as infecções ainda mais intensas em 2021 fizeram os hospitais paranaenses colapsarem. Nesta quinta-feira (11), a ocupação de UTIs bateu em 95%, após mais uma corrida nos últimos dias do governo do estado, municípios e rede particular para ativar novos leitos. Porém, o sistema chegou no limite.

Há um mês, o estado tinha 50 pacientes com coronavírus na fila de espera por uma vaga de hospital. Nesta quinta-feira (11), a fila bateu em 1.185 pacientes, boa parte espalhada em corredores de unidades de saúde, hospitais de pequeno porte e prontos-socorros, sendo acomodados em macas, cadeiras e poltronas até a abertura de um leito – caso aconteça.

Outros números reforçam o potencial arrasador da mutação P1 do coronavírus. Segundo levantamento da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), em um pouco mais de um mês a variante se tornou dominante no Paraná e mais oito estados após quebrar o sistema de saúde de Manaus em janeiro, quando faltaram leitos e oxigênio para o tratamento dos pacientes. Até 70% mais transmissível, a nova cepa já representa pelo menos 70,4% de todas as contaminações dos paranaenses.

Ao longo de toda essa semana, o Paraná ocupou disparadamente a liderança no contágio no país, segundo o Farol Covid, plataforma que tabula estatísticas da pandemia em todo o Brasil. Quarta-feira (10), a média móvel de casos no estado foi a mais alta desde o início da pandemia, com 100,53 infectados por 100 mil habitantes no prazo de sete dias. Como comparação, o segundo estado com transmissão mais acelerada, o Rio Grande do Sul, teve quarta-feira média móvel de 70,45 contágios por 100 mil habitantes - quase 30% menor do que o Paraná.

Covid avança para leitos de outras doenças

Se até meados de 2020 fatores como descuido, negacionismo e exposição forçada ao vírus - como no caso dos trabalhadores que não podem ficar em casa e têm de encarar ônibus lotados - levaram a uma onda nunca vista de internações, agora a nova variante do coronavírus levou não só ao colapso da assistência médica da Covid-19 como ameaça seriamente o sistema de saúde como um todo no Paraná.

Pela falta de vagas nas alas específicas para coronavírus, a cada dia mais vítimas da pandemia avançam para leitos de outras enfermidades. Quinta-feira, eram 762 infectados com Covid-19 internados em vagas da rede geral, destinadas para outras doenças.

“Em todas as regiões do estado a gente está tendo que eventualmente usar leitos regulares da rede para internar pacientes com Covid-19, o que chamamos de conversão. A gente procura evitar isso ao máximo porque é uma situação de risco que outras patologias passam a ter a partir dessa conversão”, explica o gestor em Saúde da Secretaria Estadual de Saúde, Vinícius Filipak.

Em Curitiba, a prefeitura foi obrigada a transferir equipamentos e equipes capacitadas em intubamento de pacientes para transformar as Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) em centrais exclusivas para pacientes graves de Covid-19, justamente por não ter mais como ampliar os leitos de UTI.

“Tínhamos no nosso plano de contingência desde o ano passado essa possibilidade de reversão das UPAs. Mas nunca imaginamos que acionaríamos esse último nível de virada do sistema de saúde. Infelizmente tivemos que fazer isso”, lamenta a secretária municipal de Saúde de Curitiba, Márcia Huçulak, em entrevista ao jornal Meio Dia Paraná, da RPC.

“Estamos no alerta máximo da pandemia em Curitiba. Essa terceira onda, após a de julho/agosto e de novembro/dezembro, é muito maior, atingindo mais jovens, população de 30 a 45 anos que não era perfil da doença”, complementa Márcia, que junto com o secretário estadual de Saúde, Beto Preto, anunciou em entrevista coletiva em março de 2020 os primeiros casos de Covid-19 no Paraná.

Sistema de saúde doente

Na ponta do atendimento, o médico Rafael Deucher, presidente da Sociedade de Terapia Intensiva do Paraná (Sotipa), é ainda mais enfático. Ele afirma que neste momento a Covid-19 não mata só quem está contaminado com o vírus.

"O coronavírus está matando também o paciente infartado, o politraumatizado, a pessoa com câncer, o paciente que nesse momento pode não ter como passar por uma cirurgia porque não tem leito para tratar a sua doença. Além da gravidade da infecção em cada pessoa, o coronavírus trouxe também uma doença para o sistema”, alertou Deucher ao participar da sessão da Frente Parlamentar do Coronavírus da Assembleia Legislativa quinta-feira.

O diretor-técnico do Sistema Samu na Região Oeste, o médico Rodrigo Nicácio, dá um exemplo bem claro deste avanço descontrolado da Covid-19 no sistema de saúde geral. Nesta semana, equipes do Samu de Cascavel, a primeira cidade paranaense a colapsar, tiveram de intubar no período de seis horas três pacientes em suas próprias residências por não haver mais nenhum leito para interná-los, nem mesmo no pronto-socorro.

“Isso nunca tinha acontecido no nosso sistema. É totalmente fora da curva. E a gente não pode deixar esse paciente em casa, tem que levar para a UPA, mas não há como fazer esse acolhimento por falta de espaço”, lamenta Nicácio.

Na parte econômica, o presidente da Federação dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde do Paraná (Fehospar), Rangel Silva, faz mais um alerta. Não bastasse o colapso dos leitos, o caixa dos hospitais corre risco de quebrar por causa da inflação no preço dos insumos em um ano de pandemia. Só um medicamento usado em pacientes de UTI que era comprado por R$ 30 no início na crise, agora custa R$ 300, compara.

“Os hospitais já estão absorvendo a alta dos custos de insumos e equipamentos e não vão aguentar. Pode haver colapso financeiro porque a gente não consegue segurar o distribuidor para que não aumente os custos”, alerta o representante dos hospitais.

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