O mercado global de geração de hidrogênio chegou à casa dos US$ 117 bilhões em 2021, segundo dados divulgados pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea). No mesmo ano, a demanda mundial pelo gás ultrapassou as 95 milhões de toneladas, um recorde para o setor. Estudos da Agência Internacional de Energia (IEA) mostram que a adoção desta forma de energia, ainda considerada uma novidade, deve ganhar espaço no cenário mundial de busca pela redução nas emissões de carbono. O Brasil, e em especial o estado do Paraná, tem potencial para se tornar referência neste mercado.
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A avaliação é do professor Helton José Alves, diretor técnico-científico da Associação Brasileira do Hidrogênio. Segundo ele, fora do país a produção de hidrogênio é fortemente baseada em compostos obtidos no refino do petróleo, fonte não renovável e com forte potencial poluente. No Brasil, por outro lado, há uma série de pesquisas sendo feitas no sentido de otimizar essa produção a partir de recursos disponíveis de forma abundante no meio ambiente e nas cidades.
Não à toa, a produção de hidrogênio a partir de fontes renováveis vem sendo tratada como uma das áreas com maior potencial de expansão no mercado de energia. Por enquanto, detalhou a IEA, apenas 1% de todo o hidrogênio produzido no mundo tem essa característica. Mas a perspectiva da agência é que, em 2030, metade do volume de hidrogênio produzido no mundo, estimado em cerca de 200 milhões de toneladas, venha de fontes renováveis.
Segundo Alves, as pesquisas mais avançadas sobre o hidrogênio renovável no Brasil se focam em duas frentes de produção: aquele produzido através da quebra das moléculas da água por meio da eletricidade, e o hidrogênio que é feito a partir do biogás gerado pela decomposição de materiais orgânicos.
“Este primeiro vem muito forte em plantas de pesquisa no Nordeste, mas só é considerado renovável quando a energia elétrica usada no processo vem de fontes renováveis. Se na eletrólise nós usamos energia proveniente de Itaipu, por exemplo, é considerado renovável em toda a cadeia. Mas nossos estudos mostram que no Paraná temos condições de alavancar uma produção bastante significativa a partir do biogás”, disse, em entrevista à Gazeta do Povo.
Oeste do Paraná tem potencial para a geração de hidrogênio renovável
A região oeste do Paraná, reforçou o professor, é onde este potencial pode ser mais bem aproveitado. No Laboratório de Materiais e Energias Renováveis (Labmater) que a Universidade Federal do Paraná (UFPR) mantém em Palotina, Alves vem desenvolvendo um trabalho de produção de hidrogênio a partir da biomassa oriunda de rejeitos orgânicos. Os resultados são promissores.
“Adaptamos uma célula combustível para onde esse hidrogênio vindo do biogás da biomassa é direcionado. Nesta célula, ele se combina com o oxigênio gerando energia elétrica. Nosso modelo é autossustentável, ou seja, toda a energia elétrica usada no laboratório é fornecida por meio dessa célula de hidrogênio. Se nós pensarmos que entre os materiais que podem ser usados para a geração de biogás estão os dejetos da cadeia produtiva de suínos, eu vejo o oeste com um potencial enorme neste setor”, comentou.
Projeto do Paraná foi aprovado pelo governo da Alemanha
Outro material que vem sendo utilizado nas pesquisas de geração de hidrogênio renovável no Paraná são os resíduos restantes do tratamento de esgoto. Dar uma destinação correta a estes subprodutos representa um custo adicional para as empresas do setor. Com a possibilidade de usar o lodo de esgoto como matéria-prima na fabricação de hidrogênio, o que era um passivo ambiental pode se tornar um ativo gerador de receita para essas empresas.
Durante o 1º Fórum de Hidrogênio Renovável (H2) do Paraná, realizado no início de maio em Curitiba, a Companhia Paranaense de Saneamento (Sanepar) participou do painel “Estratégias para Produção de Hidrogênio Renovável e de Baixo Carbono no Paraná”. Representantes da empresa trouxeram detalhes das iniciativas inovadoras em energia renovável que estão em andamento na companhia.
Uma destas estratégias é um estudo sobre a viabilidade de produção de hidrogênio em estações de tratamento de esgoto da Sanepar. Um projeto elaborado pela empresa em parceria com a Câmara de Comércio e Indústria Brasil-Alemanha do Rio de Janeiro (AHK Rio) e o Ministério Federal do Meio Ambiente, Natureza, Segurança Nuclear e Proteção (BMUV) da Alemanha foi selecionado para receber financiamento do governo alemão. O acordo de cooperação deve ser assinado em maio, em Berlim.
Do esgoto para os carros elétricos
Outra iniciativa é o estudo de secagem e transformação térmica de lodo de esgoto. Classificado em primeiro lugar em um edital da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação, o projeto tem como objetivo produzir hidrogênio renovável a partir do biogás gerado pelo lodo de esgoto. O gás, com potencial energético equivalente a três vezes o da gasolina, será convertido para ser utilizado em veículos elétricos.
O projeto, parceria entre a UFPR e a Companhia de Energia Elétrica do Paraná (Copel), prevê a construção de uma inédita unidade de referência com capacidade de produção de 14,5 quilos diários de hidrogênio, suficientes para abastecer três carros elétricos por dia. “Temos 8 milhões de paranaenses atendidos pela companhia, que geram 476 bilhões de litros de esgoto anuais. Se todo esse material fosse usado na produção de hidrogênio renovável, teríamos 52 milhões de metros cúbicos do gás anuais, quantidade que abasteceria, diariamente e por um ano, 2.740 veículos elétricos ”, avaliou o gerente de Pesquisa e Inovação da Sanepar, Gustavo Possetti.
Cadeia produtiva do hidrogênio tem "transversalidade"
Durante o fórum, o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Junior (PSD), sancionou a lei que cria a Política Estadual do Hidrogênio Renovável no estado. Ele também anunciou uma série de medidas para o setor, como a criação de incentivos fiscais para estimular o desenvolvimento do setor no Paraná e uma resolução para reduzir a burocracia no licenciamento ambiental de empreendimentos voltados para a produção de hidrogênio renovável.
No evento, o secretário de Estado de Planejamento, Guto Silva, destacou a importância de o Paraná buscar o protagonismo no cenário mundial de transição da matriz energética dos combustíveis fósseis para outras fontes renováveis. Com a nova legislação, afirmou, o Estado passa a contar com uma estrutura de organização capaz de atrair a atenção deste mercado em expansão.
"Esta é uma cadeia complexa, para isso estamos focando em alguns eixos para desenvolvê-la: o eixo legal, com a construção de um arcabouço para recepcionar esses projetos, e um eixo tributário, um arranjo diferente para desonerar essa cadeia e estimular novos negócios. Outro ponto envolve os licenciamentos, uma facilitação e simplificação na obtenção das licenças de projetos em hidrogênio renovável. Há também a questão de pesquisas, desenvolvimento e certificação de projetos e, naturalmente, linhas de financiamento para subsidiar e estimular as empresas que queiram se instalar, ampliar ou inciar projeto, para que elas tenham ambiente favorável", apontou o secretário.
O professor Helton José Alves participou, como consultor, da elaboração da lei sancionada por Ratinho Junior. Para o pesquisador, é importante que o Estado busque o protagonismo em um setor com potencial para revolucionar a economia brasileira, uma vez que, a cadeia produtiva do gás apresenta condições únicas de transversalidade.
“São muitos os usos para essa molécula. Há a possibilidade de uso como combustível, na mobilidade urbana e no transporte de cargas e pessoas. Pode ser usado na fabricação de bioquerosene de aviação, assim como na geração de metanol, usado na cadeia de produção do biodiesel. Hoje, no Paraná, todo o metanol é importado, e ter uma produção local seria de muito valor. Ele ajuda na chamada ‘dessulfurização’ do diesel, como no caso do S10, que se torna menos poluente”, explicou.
De acordo com Alves, é possível utilizar esse hidrogênio na produção de amônia e fertilizantes, o que reduziria a dependência de fontes externas desses produtos, como a Rússia. "Então veja como é transversal essa cadeia: passa pela agricultura e produção de alimentos, pela mobilidade de cargas e pessoas, pela redução da pegada de carbono. Nós temos potencial para isso tudo, mas é preciso que haja um incentivo para que essas empresas venham para o Paraná”, pontuou.
Parceria público-privada para a produção de hidrogênio renovável
A Engie Brasil, uma empresa catarinense especializada na produção de energia de baixo carbono, assinou em abril um memorando de intenções com a Invest Paraná, agência de captação de negócios do governo estadual, vinculada à Secretaria de Indústria, Comércio e Serviços. Com o acordo, a empresa poderá desenvolver projetos de produção de hidrogênio renovável no Paraná.
Para Eduardo Bekin, diretor-presidente da Invest Paraná, a parceria pode colocar o estado em contato com grandes players mundiais do setor da energia renovável. “Essa é uma parceria estratégica, porque a Engie é líder nesse mercado de energia sustentável, com braços estendidos pelo mundo todo. Esse acordo, portanto, vai permitir que o Paraná busque parceiros internacionais. E no mercado nacional, podemos direcionar, por exemplo, a produção dessa energia renovável para o nosso agronegócio”, avaliou.
“Entendemos que essas parcerias são fundamentais para acelerar a transição energética e queremos ser protagonistas nas soluções para a descarbonização de diferentes setores. A estratégia global da Engie é criar uma posição forte em hidrogênio verde e o Brasil é fundamental para isso, dada a relevância das operações do grupo no país, a matriz elétrica majoritariamente renovável e a abundância de recursos naturais para possibilitar o crescimento do setor elétrico”, avaliou Eduardo Sattami, diretor-presidente e de Relações com Investidores da Engie Brasil.
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