O atendimento das crianças de 0 a 2 anos em berçários e creches terá um protocolo específico para retorno às aulas presenciais no Paraná, quando ocorrerem. O documento está em fase de validação e será um complemento ao protocolo já apresentado pelo Comitê Volta às Aulas com orientações para as demais etapas de ensino. O retorno da aula presencial, ainda sem data no Paraná mas já em curso em alguns estados, é defendido por educadores e tem recebido o aval médico em locais onde a transmissão local de coronavírus está controlada.
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Pelas orientações dos órgãos de saúde, crianças com menos de 2 anos não devem usar máscaras, pois correm risco de asfixia. Por isso as medidas de prevenção envolvem uma atenção ainda maior dos educadores e também dos pais. “Quem vai estar devidamente paramentado para atender a criança é o adulto, com máscara, roupa apropriada. Queremos a segurança da criança e a tranquilidade da família. Vamos trabalhar muito com os pequeninos a questão da higiene das mãos e higiene dos espaços, não tem outro jeito de prevenir que não seja assim”, afirmou a presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Estado do Paraná (Sinepe-PR), Esther Cristina Pereira.
O Sinepe ficou encarregado de apresentar uma proposta de protocolo, feita em parceria com infectologistas e pediatras. O documento está sendo aprimorado a partir de orientações feitas pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa). Segundo Esther Cristina, esta será uma forma de atender as famílias que trabalham e estão passando por dificuldades para cuidar de suas crianças. “Nos preocupa muito a questão de creches clandestinas, funcionando sem aval nenhum. Mas se as mães estão trabalhando fora, é de se perguntar onde tantas crianças estão ficando”, observou.
Em Sinop, no Mato Grosso, as escolas particulares de educação infantil retornaram com o atendimento presencial ainda em maio, seguindo protocolos de prevenção. Priscila Camargo Garcia, especialista em microbiologia e uma das responsáveis pelo planejamento na cidade, conta como é feito o cuidado dos pequenos: “Para a troca de fralda, quem está atendendo higieniza as mãos, troca a fralda, se for necessário, dá um banho. Nesse momento o professor não pode tocar nem o nariz, nem a boca e nem o olho, precisa cuidar com essas três portas de entrada do vírus. Depois da troca, faz a higiene das mãos de novo”. As escolas tiveram que fechar por duas semanas em julho, por causa da lotação de hospitais, mas voltaram ao atendimento, com desempenho aprovado pela prefeitura, segundo Priscila.
Médico defende retorno de escola presencial por cidade
“A primeira lição da pandemia é que claramente o que vale para um local não vale necessariamente para outro. Isso em termos de relaxamento de qualquer isolamento. Ainda mais em um país como o nosso, com suas características continentais”, afirmou o chefe do Departamento de Pediatria da Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo, Marco Aurélio Palazzi Sáfadi. Na terça-feira passada, a Organização das Nações Unidas (ONU) publicou um relatório apontando para a necessidade de retorno presencial de aulas onde a transmissão local de Covid-19 estiver sob controle.
Sáfadi defende que quando a taxa de transmissão de coronavírus estiver abaixo de 1 em determinada localidade é possível pensar no retorno das aulas presenciais. “A abertura das escolas acaba sendo algo positivo, como já foi observado em várias cidades europeias. Em Manaus, que já vai caminhando para quase dois meses de aulas presenciais, eles podem ter alcançado algum nível de imunização que impeça o vírus de circular, infelizmente após muitas mortes e disseminação descontrolada do vírus”, disse, sobre a experiência da capital amazonense com a reabertura das escolas particulares no começo de julho.
O risco da Covid-19 no ambiente escolar é real e não pode ser descartado, alerta o médico pediatra, especialista em infectologia. “Mas não se pode esquecer que o afastamento das crianças tem um ônus muito prejudicial nos aspectos cognitivo, de saúde mental, no aspecto humano, do risco de violência ou abuso no lar, de envolvimento com drogas e até de nunca mais voltar à escola. Precisamos lembrar que o ensino a distância na realidade de um país com tantas carências cria desigualdades. Isso tudo tem que estar na balança”, observou.
“Professor precisa encarar essa tarefa”
As evidências atuais mostram que as crianças pequenas enfrentam melhor o coronavírus, com menos suscetibilidade a desenvolver formas graves de Covid-19 e com papel reduzido na transmissão a outras pessoas, explica o médico. “Ainda precisamos de mais dados para ter mais clareza, mas à luz das evidências atuais, as crianças parecem ser menos relevantes na transmissão. Acho que a preocupação maior da escola vai ser com a interação entre seu staff do que com as crianças propriamente. Mas para isso precisam tomar as medidas preventivas, tal qual outras profissões já tomaram”, afirmou Sáfadi.
Na opinião do médico, mesmo com os riscos existentes, os educadores precisam enfrentar o desafio. “Se houver controle da doença, tem que encarar. Os médicos estão trabalhando, outros profissionais estão trabalhando, e de alguma forma os professores também vão ter que encarar essa tarefa, de maneira segura. É importante, como autoridade sanitária, garantir uma condição segura, tanto para crianças, como staff”, disse o professor da Santa Casa de São Paulo.
Em relação à idade, o protocolo do Comitê Volta às Aulas no Paraná prevê que a educação infantil seja a última a retornar. Sáfadi, entretanto, diz que os dados disponíveis mostram que os adolescentes têm mais chances de transmitir o coronavírus do que crianças pequenas, além de ter mais facilidade para continuar com o ensino remoto. “Talvez a melhor estratégia seja o inverso, começar com os mais novos primeiros. Temos tendência a querer preservar muito a criança, mas precisamos neste momento escolher o caminho menos ruim, que traga menos dano”, completou.
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