Em maio de 2021, o Paraná se tornou um dos estados brasileiros reconhecidos pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) como área livre de febre aftosa sem vacinação. A certificação sanitária gerou expectativas não apenas para a cadeia de gado de corte paranaense, mas para toda a produção de proteína animal do estado, beneficiada por uma espécie de “contágio positivo” provocado pelo selo internacional de boas práticas na gestão da saúde das criações.
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Praticamente um ano após a certificação, as exportações de proteína animal do Paraná, no entanto, registraram tímido crescimento. Segundo números do Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento), na comparação entre os primeiros trimestres de 2021 e 2022, foi registrada alta de 31,5% nos valores recebidos – de US$ 687,9 milhões para 905,2 milhões, e 9,2% de elevação nos quilogramas embarcados – de 463,2 mil toneladas para 505,9 mil toneladas.
“O saldo nesse um ano de reconhecimento ainda não é relevante e significante, motivo de consequências externas que desfavoreceram o crescimento de mercados, como problema econômico da pandemia, baixo poder aquisitivo de compras e por último, a guerra entre Rússia e Ucrânia”, pondera Nicolle Wilsek, técnica do Departamento Técnico e Econômico do Sistema FAEP/SENAR-PR (Federação da Agricultura do Estado do Paraná/Serviço Nacional de Aprendizagem Rural do Paraná).
Se nas exportações os números do Paraná ainda não registraram crescimento significativo, o estado segue consolidado como um dos principais produtores nacionais de proteína animal. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a avicultura paranaense representou no ano passado 33,6% de todo o frango abatido no Brasil, com 6,17 bilhões de cabeças abatidas, alta de 2,8% em comparação ao registrado pelo segmento em 2020.
“O mesmo serviço veterinário que deu essa conquista ao Estado do Paraná, que é muito criterioso e técnico, também atende a avicultura do Paraná, mostrando que nós temos um trabalho bem importante. Houve um trabalho muito forte liderado pelo setor público, mas o setor privado abraçou essa causa e juntos nós comemoramos esse status, nos dando a segurança de que o nosso estado está blindado contra algum risco de enfermidade”, pontuou o presidente do Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar), Irineo da Costa Rodrigues.
A avicultura paranaense ainda conseguiu dois avanços significativos para as exportações do setor: a ampliação da presença no mercado do México e o aumento nos embarques de frango halal (seguindo os preceitos muçulmanos) para o Emirados Árabes Unidos.
Já na suinocultura, o Paraná representou 20,3% de todos os abates nacionais – atrás apenas de Santa Catarina, com 52,97 milhões de cabeças abatidas em 2021. Mas, a bovinocultura paranaense seguiu a tendência de queda nacional devido ao embargo da China ao produto brasileiro, registrando queda de 16% em comparação com 2020, com 1,2 milhão de cabeças abatidas.
“O saldo é absolutamente positivo, ainda que tenha sido um ano de muito desafio para os produtores de proteínas animais, devido às condições climáticas que prejudicaram pastagens. No entanto, as demandas internas e externas ajudaram a manter a comercialização e evitar maiores perdas aos pecuaristas do estado. Continuamos como o principal produtor de proteínas animais do País”, destaca o secretário da Agricultura e Abastecimento do Paraná, Norberto Ortigara.
A manutenção da certificação da OIE para área livre de febre aftosa sem vacinação exige que o Paraná exerça forte controle dos rebanhos estaduais de bois e búfalos. Dentre os dias 1º de maio e 30 de junho, os criadores desses animais precisam fazer a atualização obrigatória do rebanho. O procedimento se dá por meio eletrônico ou de forma presencial em unidades da Agência de Defesa Agropecuária do Paraná (Adapar).
“O principal objetivo dessa atualização, realizada anualmente desde 2019, é garantir a rastreabilidade e a sanidade do rebanho paranaense. Assim, se houver qualquer suspeita de doença, as autoridades sanitárias têm condições de agir de forma rápida e eficaz pois acompanham a movimentação do rebanho”, sublinha Ortigara.
Essa exigência foi criada pela Secretaria da Agricultura desde o fim da vacinação obrigatória para bovinos e bubalinos no Estado. A não atualização pode causar penalidades como a restrição da GTA (Guia de Trânsito Animal), o que gera o impedimento da movimentação desses animais, bem como a aplicação de multas.
“Ter o reconhecimento internacional para estado livre de febre aftosa sem vacinação faz o Paraná mostrar segurança no controle sanitário de produções pecuárias. Não é somente não vacinar para uma doença específica, mas, estar de acordo com inúmeros controles auditáveis que demostram qualidade, rastreabilidade e segurança em todas as criações animais”, destaca Wilsek, da FAEP/SENAR.
Expectativas positivas para 2022
A análise do setor de proteína animal no Paraná é que o estado deve engrenar índices mais positivos até o fim de 2022. O Sindiavipar avalia que a expectativa de uma safra recorde de milho e a inserção de cereais de inverno na alimentação das aves possa diminuir os custos de produção. Além disso, a indústria espera abrir novos mercados ao frango paranaense.
“Nós temos a expectativa que a Guerra na Ucrânia faça com que clientes, sobretudo na Europa, e também em outros países que compram volumes menores, e que não têm conseguido importar frango da Ucrânia, estejam se voltando para importar frango do Brasil”, avalia Rodrigues.
A Secretaria da Agricultura compartilha do otimismo do Sindiavipar, também motivada pela safra de grãos e pela avaliação realizada com empresários e produtores do setor de proteína animal. Já a FAEP avalia com mais cautela o cenário e teme que as incertezas provocadas pela guerra possam levar à redução de plantel em cadeias como a suinocultura e a pecuária de leite.
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