Mesmo já sendo o segundo maior produtor de grãos do Brasil, ficando atrás apenas do Mato Grosso, e com produtividades acima da média nacional em grande parte das lavouras, o Paraná ainda tem espaço para expandir a produção de alimentos.
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As lavouras de verão (soja, milho, feijão, arroz e amendoim) cultivadas no estado ocupam cerca de 6,13 milhões de hectares. No inverno, o aproveitamento da área cai para cerca de 4,35 milhões de hectares, com a segunda safra de milho e os produtos típicos de clima frio, como trigo, cevada, centeio, aveia e triticale.
“Boa parte da diferença, de 1,78 milhão de hectares, está ociosa e pode ser destinada à produção de alimentos”, defende a engenheira agrônoma Ana Paula Kowalski, do departamento técnico e econômico do Sistema Federação da Agricultura do Paraná (Faep). No entanto, não é possível reverter tudo em produção de grãos porque parte dessa área é destinada à produção de forrageiras, para a alimentação animal, e à cobertura do solo, cultivos também necessários.
“Mas há muitas pastagens degradadas no Paraná e essas áreas poderiam ser melhor aproveitadas, até porque o plantio de lavouras de inverno também melhora a fertilidade do solo e pode resultar em mais produtividade na safra seguinte”, reforça.
Os volumes de colheita de cada cultura variam muito, o que torna difícil mensurar, em toneladas, o quanto da produção paranaense de alimentos poderia ser ampliada com o aproveitamento dessas áreas. Por outro lado, há fatores limitantes, que todo agricultor conhece. Um deles é o risco de perdas por condições climáticas. O outro é o custo.
Por isso, segundo a agrônoma da Faep, a ideia não é plantar o milho (cultura típica de verão) em sucessão à soja, mas optar por cereais de inverno. “É arriscado plantar milho na segunda safra, especialmente nas regiões com temperaturas muito baixas e ocorrência de geadas. Historicamente as perdas são grandes, por isso a orientação é pelo cultivo de cereais de inverno", reforça a técnica.
"Em relação ao custo, às vezes a conta não fecha", alerta Ana Paula. "É difícil conseguir ter rentabilidade e, por esse motivo, muitos produtores não arriscam plantar já que acham que não terão retorno", diz. Segundo a agrônoma, a garantia do retorno pode estar em casar o plantio com a venda da safra, por meio de acordos de parceria com cooperativas e indústrias.
Alguns cultivos de inverno são importantes também para melhorar a alimentação animal, o que reverte em produção de carnes. O Paraná já é líder nacional na produção de carne de frango e pescados e segundo colocado na produção de suínos, mas na carne bovina o estado é o décimo colocado e ainda há muito a crescer.
Outra forma de aumentar a produção de alimentos é investir em produtividade. “O Paraná tem lavouras altamente produtivas, com rendimento acima da média nacional, mas há muita discrepância no estado. Há casos em que de uma propriedade para outra a diferença de produtividade varia de 30% a 40%”, observa a agrônoma da Faep.
Para o diretor do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria da Agricultura, Salatiel Turra, o aumento da produção passa mais pelo ganho de produtividade. “Não temos muitas condições de aumentar a área plantada porque estamos no limite, mas com assistência técnica e orientação é possível conseguir mais produtividade e mais lucratividade”, diz.
Sobre a área que fica ociosa no inverno, Turra diz que isso é uma decisão muito particular do agricultor. “Quando o produtor opta por não plantar uma cultura comercializável, fazendo apenas a cobertura do solo, ele também está pensando no que vai produzir na próxima safra porque está investindo na melhoria das condições da terra”, observa. O diretor do Deral se refere aos cultivos de plantas que têm a finalidade de proteger a área contra a erosão e a perda de nutrientes.
Mesmo as lavouras típicas de inverno são suscetíveis às adversidades climáticas e, por isso, é recomendado que o agricultor faça o seguro da safra. O diretor do Deral informa que o Paraná paga 20% da apólice de seguro para aqueles agricultores que plantam de acordo com a orientação da assistência técnica.
Para garantir o apoio no pagamento do seguro e também buscar mais produtividade, o agricultor deve adotar o chamado 'pacote tecnológico'. “Inclui assistência técnica, análise do solo, adubação correta, cultivares adaptadas à região, semente de qualidade, controle de pragas e doenças, entre outros cuidados”, destaca Turra.
Ele esclarece que a assistência técnica é prestada pelo estado, por meio do Instituto de Desenvolvimento Rural do Paraná (IDR-PR), pelas cooperativas e por empresas particulares.
Incentivo aos cereais de inverno é tema de campanha
A escassez de milho na última safra e, consequentemente, a alta dos preços do grão, provocaram a mobilização das entidades do agronegócio paranaense que lançaram este mês uma campanha de incentivo ao plantio de cereais de inverno.
Estão à frente da iniciativa o Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Paraná (Sindiavipar), a Secretaria da Agricultura e do Abastecimento, (Seab), a Organização das Cooperativas do Paraná (Ocepar) e a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep).
A ideia é poder substituir o milho por outros produtos na composição da ração. O milho é o principal componente da ração que alimenta aves e suínos e essas criações são altamente dependentes do grão. Quando há falta ou elevação de preço, os custos de produção das carnes suínas e de frango sobem substancialmente.
Cooperativa estimula plantio de trigo, garantindo a compra
Outra iniciativa para expandir a produção de alimentos, por meio de cultivos de inverno, é da Cooperativa Coopavel, de Cascavel, que lançou este mês o programa ‘Coopavel mais trigo’. O programa visa dobrar a recepção de trigo na região Oeste em seis anos, passando das atuais 3,5 milhões para 7 milhões de sacas.
Segundo Dilvo Grolli, presidente da Coopavel, os cooperados cultivam 400 mil hectares com soja e milho no verão e no inverno são ocupados apenas 250 mil hectares, principalmente com a segunda safra de milho. “Há uma disponibilidade de 150 mil hectares que podem ser utilizadas para o plantio de trigo e outras culturas de inverno”, destaca.
De acordo com Grolli, a indústria moageira da cooperativa necessita de mais 220 mil toneladas de trigo por ano para atender a capacidade de moagem. Em todo o Paraná, a capacidade de moagem de trigo é de 6 milhões de toneladas ao ano, mas está parcialmente ociosa porque a produção interna é bem menor. No ano passado foram produzidas 3 milhões de toneladas e este ano a produção deve chegar a 4 milhões.
A campanha da Coopavel consiste em garantir a compra do trigo de todos os associados que adquirirem os insumos na cooperativa e seguirem as orientações técnicas. O preço de compra já está fixado em R$ 100 a saca de 60 quilos, cerca de 10% acima do preço de mercado. Além disso, a cooperativa paga os juros do financiamento da lavoura.
Para aqueles cooperados que optarem pelo plantio com recurso próprio, há necessidade de contratação de um seguro da safra. No caso da safra financiada, o seguro já é automático.
A Coopavel tem 7 mil produtores associados, dos quais, cerca 1,5 mil já plantam trigo. A ideia é chegar a 2 mil cooperados cultivando o grão de inverno já neste ano.
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