A economia circular está deixando de ser apenas um conceito e virando realidade no Paraná. O termo refere-se a um modelo de desenvolvimento econômico que se baseia no melhor uso de recursos naturais, com menor dependência de matéria-prima virgem, priorizando insumos recicláveis e renováveis.
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Essa forma de produzir vem ao encontro dos compromissos de ESG das empresas. A sigla vem do inglês “Environmental, Social and Governance” (ambiental, social e governança, em português). Refere-se a processos produtivos que não se baseiam apenas no lucro, mas na sustentabilidade em seu significado mais amplo.
As indústrias do setor de papel e embalagens vêm dando exemplo. Uma delas é a paranaense Ibema, que tem fábrica em Turvo (centro-sul do Paraná) e Embu das Artes (região metropolitana de São Paulo).
Lançado em 2019, o Ibema Ritagli é o primeiro papelcartão triplex pós-consumo do mercado brasileiro. O produto tem 50% de fibras recicladas em sua composição, sendo 30% vindas de pós-consumo. É voltado para as indústrias de cosméticos, farmacêutica e alimentícias (neste caso para as embalagens que não têm contato direto com o alimento).
“Temos investido em parcerias com cooperativas e startups para garantir que as embalagens retornem à fábrica após o consumo e possam ser reaproveitadas em nosso processo de produção”, informa Diego Gracia, gerente de Estratégia e Marketing da Ibema.
Segundo ele, a decisão da Ibema vem para contribuir com as indústrias que estão assumindo o compromisso de ter, até 2030, 80% de suas embalagens provenientes de materiais reciclados. “Isso, além do compromisso das empresas, se deve também ao próprio comportamento do consumidor, que está cada vez mais consciente em suas decisões de consumo e vem cobrando essa atitude das marcas”.
Gracia diz que a intenção é ser parte da solução do problema do lixo. “Podemos tratar a fibra já usada e fazer virar um novo papel. Tem fibra que pode ser reciclada até 21 vezes”, observa. Em 2021, a indústria atingiu a marca de 3 mil toneladas de material pós consumo reciclados e a expectativa é fechar 2022 com 4,5 mil toneladas reaproveitadas. Material que estaria indo para o lixo, se não fosse essa iniciativa.
Reciclagem pode representar economia
Além dos ganhos ambientais e do impacto positivo sobre a imagem da marca perante seu público, a reciclagem pode representar também economia para a empresa, com ganhos diretos, ligados à área tributária.
“Empresas que trabalham com resíduos, como aparas de plástico, papel, vidro, ferro ou aço, cobre, alumínio, níquel, chumbo, zinco ou estranho podem se creditar de PIS e COFINS na compra desses resíduos para o seu processo industrial. A economia pode ser de 9% a 9,5%”, explica a advogada tributarista Regiane Esturilio.
Além disso, segundo ela, para empresas que também são contribuintes do IPI (Imposto sobre Produtos Industrializados), a depender do resíduo, também poderá haver um ganho direto com créditos de IPI correspondente à alíquota de saída de seus produtos acabados.
Território 100% circular em embalagens
Outro exemplo é a recente parceria entre a fabricante de papéis Klabin e a cervejaria Heineken. Elas se uniram para colocar em prática um projeto que pretende criar um território 100% circular para embalagens no Paraná. O local escolhido foi o município de Telêmaco Borba, nos Campos Gerais, onde fica a fábrica da indústria de papel.
A intenção é que a cidade transforme, reaproveite e recicle o máximo de embalagens e resíduos sólidos possível, evitando que eles sejam enviados para aterros sanitários. Um levantamento do projeto indica que hoje apenas 11,7% das embalagens de Telêmaco Borba são recuperadas via coleta seletiva ao ano.
A iniciativa foi desenvolvida pelo Hub Incríveis (rede de inovação que tem por objetivo reinventar o uso de embalagens) e pelo ViraSer (iniciativa que envolve a parceria de várias entidades voltadas a apoiar a coleta seletiva do lixo nos municípios).
O trabalho começou em 2021, com patrocínio da Klabin. Em 2022, a Heineken aderiu, com sua expertise na gestão de resíduos de vidro. Juntas, vão prototipar as soluções propostas para testá-las. A expectativa é que outras empresas com expertise na gestão de outros tipos de resíduos, assim como startups e ONGS, participem deste processo de criação conjunta de soluções. A intenção é replicar a iniciativa em outros locais.
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