Seis meses depois de o Paraná voltar a registrar casos de sarampo, 850 pessoas já foram infectadas pela doença que estava erradicada no estado há 20 anos e outras 1.711 notificações seguem em investigação, de acordo com o boletim divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde na quinta-feira (13), dias após o início da campanha nacional de vacinação contra a doença. De um total de 2.992 casos notificados no período, 431 foram descartados.
O avanço dessa e de outras doenças está relacionado a uma cobertura vacinal abaixo de 95%, o mínimo necessário para garantir a imunização coletiva e evitar a transmissão em determinada área mesmo que uma pessoa “traga” vírus e bactérias de uma região onde ele ainda circula. No caso do sarampo, os dados do Sistema de Informação do Programa Nacional de Imunizações mostram que, em 2019 (*), o Paraná vacinou 90,40% das crianças com 15 meses de idade, que devem receber a segunda dose da tríplice viral (contra sarampo, caxumba e rubéola).
O número é maior do que quando a doença voltou a circular no país, em 2018. Naquele ano, a vacinação atingiu 86,17%. Em 2017, um ano depois de o Brasil receber da Organização Mundial da Saúde o certificado de erradicação do sarampo - perdido em setembro de 2019 - a cobertura chegou a 83,55%.
Aumento mais expressivo teve a cobertura vacinal da febre amarela, enfermidade para a qual o estado também está em alerta, devido à morte de 53 macacos pela doença desde julho - o maior número de epizootias no país no período. Em 2017, a cobertura vacinal foi de 69,13%. Um ano mais tarde, quando o vírus já estava circulando no estado e as campanhas tornaram-se mais intensas, subiu para 75,84% e, em 2019, 79%. Ainda assim, as taxas são insuficientes.
“Quando falamos em cobertura vacinal, temos que atingir a meta para todas as vacinas, temos que ter homogeneidade”, diz a chefe da Divisão de Vigilância do Programa de Imunização da Sesa, Vera Rita da Maia. Isso porque, ao mesmo tempo em que há regionais da saúde onde a vacinação supera a meta, como a de Jacarezinho (95,34%) e Paranavaí (97,76%), há aquelas em que a imunização está muito aquém do ideal, como a de Paranaguá (70,52%) e Guarapuava (84,63%).
Conforme a Sesa, o principal desafio para atingir as metas é a falta de adesão da população, provocada principalmente por desconhecimento sobre as doenças e a importância da imunização e pela disseminação de informações incorretas sobre vacinas. “As informações falsas afastam a população, colocam uma barreira para que ele chegue aos postos de saúde”, explica Vera. Uma saída encontrada para isso foi promover, no ano passado, uma capacitação para 1.300 profissionais de saúde para que eles possam combater esse tipo de desinformação durante os atendimentos. “Mas precisa de uma educação da população em geral”, complementa a representante da Sesa.
Por vezes, o desabastecimento da vacina também contribui para a imunização abaixo da meta, principalmente no caso do sarampo, já que a vacina é utilizada em todo mundo. Contudo, conforme a secretaria, esse não foi o caso no último ano. “Mas quando há desabastecimento, sempre orientamos que, a partir do momento em que o ministério o sinaliza e é feito o remanejamento de doses entre os municípios, que se faça o cadastramento da criança numa lista de espera para que ele faça a vacina assim que ela estiver disponível”, diz Vera.
Dia D neste sábado
Até o dia 13 de março, o Ministério da Saúde promove, em todo o país, a campanha de vacinação contra o sarampo. No Paraná, onde o Dia D de mobilização será neste sábado (15), ela vai imunizar pessoas de cinco a 59 anos - ao contrário da nacional, que é voltada para crianças e jovens de até 19 anos.
O público principal da campanha será o da faixa etária de 20 a 29 anos, que tem registrado o maior número de casos no estado. Por isso, nessa faixa, a vacinação será indiscriminada. Quem tiver até 19 ou a partir de 30 só deve ser imunizado se não tiver o registro vacinal ou não tiver recebido todas as vacinas.
Para se vacinar, basta comparecer a uma Unidade Básica de Saúde, de preferência com a carteira de vacinação.
Poliomielite
A pólio, erradicada no país desde 1990, não voltou a preocupar o país como o sarampo, mas foi motivo de alerta em 2018, quando o Ministério da Saúde identificou que cerca de 300 municípios do país - oito do estado - tinha taxas de imunização muito abaixo dos 95% recomendados.
À época, os números do ministério foram contestados por parte desses municípios, inclusive os do Paraná, mas, mesmo com os números atualizados, a cobertura seguiu abaixo do preconizado: 87,95%. O número foi levemente menor do que o do ano anterior, 89,78%, mas voltou a subir em 2019 e ficou mais próximo do ideal: 93%.
(*) Os dados de 2019 ficam em fase de ajuste e podem mudar até o fim de 2020, sendo apresentados oficialmente no início de 2021.
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