Os sistemas de saúde estadual e municipal do Paraná já têm um desafio quase tão difícil quanto a gestão do coronavírus assim que a pandemia terminar: desafogar o enorme volume de cirurgias eletivas – sem urgência – que foram suspensas em todas as especialidades médicas desde 2020, decisão tomada pelo risco de contágio e para assegurar leitos e insumos para o tratamento da Covid-19.
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Se a pandemia terminasse hoje, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) calcula que levaria dois anos para regularizar os procedimentos que não foram feitos no ano passado. E, mesmo com a perspectiva do início da vacinação da Covid-19 na próxima quarta-feira (20), não há nenhuma perspectiva de quando a pandemia vá terminar. Enquanto isso, o volume de cirurgias represadas aumenta diariamente, dando mais força para essa bola de neve.
“É como um congestionamento na estrada. Até que o problema que está causando transtorno seja resolvido, a fila de carros vai aumentar a cada momento e, quando a estrada é liberada, leva um bom tempo para voltar ao fluxo normal”, compara o diretor de Gestão em Saúde da Sesa, o médico Vinícius Filipak.
A primeira suspensão das cirurgias eletivas no Paraná por causa da pandemia durou três meses, de julho a setembro de 2020. Em novembro, a prefeitura de Curitiba optou por cancelar as cirurgias eletivas para garantir leitos e insumos aos pacientes de Covid-19. Decisão que poucos dias depois também foi encampada pela Secretaria Estadual de Saúde. Desde então, apenas cirurgias cardiológicas, oncológicas, neurológicas e de nefrologia, além de emergências de traumas, como acidentes de trânsito, estão autorizadas em todo o Paraná.
A Sesa ainda não tem um número fechado de quantas cirurgias eletivas deixaram de ser feitas no primeiro ano da pandemia. Mas só a queda no volume total de procedimentos diários já dá a dimensão do tamanho do impacto. Em 2019, foram em média 2.054 cirurgias por dia, incluindo todos os procedimentos, de urgência e eletivos. Em 2020, esse volume despencou pela metade, efeito da suspensão na pandemia: apenas 964 cirurgias diárias.
“Esses mil pacientes por dia que não foram atendidos terão que ser operados. Então, se antes fazíamos 2 mil cirurgias por dia, quando a pandemia permitir, teremos que dar um jeito de fazer 3 mil por dia”, afirma Filipak.
Em entrevista à Gazeta do Povo em dezembro, o prefeito de Maringá, Ulisses Maia (PDS), apontou o tamanho do problema para os municípios. Só no hospital municipal de Maringá, 3 mil procedimentos cirúrgicos não foram feitos no primeiro ano da pandemia. “Em 2021, teremos que retomar uma fila enorme de atendimentos que já era grande antes da pandemia e que vai exigir muito investimento”, ressaltou Maia na oportunidade.
Mais difícil do que a Covid-19
Sobre o planejamento para acabar com a fila de cirurgias, Filipak afirma que o desafio é maior do que o gerenciamento de leitos do coronavírus. “A Covid-19 é relativamente mais fácil de administrar. O que dificulta nesse caso é a gravidade, mas é só uma doença. No caso dessas cirurgias represadas, são várias doenças, com vários tipos de cirurgias, leitos e medicamentos, o que exige um planejamento muito mais difícil. Sem contar a demanda alta”, explica o diretor de Gestão em Saúde da Sesa.
Assim como no caso da vacinação da Covid-19, a prioridade na fila das cirurgias quando os procedimentos voltarem serão os pacientes de maior risco. Porém, Filipak faz uma comparação que ilustra bem o reflexo dessa paralisação na sociedade. “Um paciente de catarata, por exemplo, exige uma cirurgia oftalmológica relativamente fácil, em que o paciente vai para casa no mesmo dia. Então ele não vai morrer se não passar pelo procedimento. Só que se ele for um motorista profissional ou qualquer outra profissão que dependa da visão, como vai trabalhar se não fizer a cirurgia?”, compara.
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