Paranaguá, no litoral do Paraná, não só foi o ponto inicial da investigação como era um dos principais braços da quadrilha internacional de tráfico internacional de cocaína que resultou no maior sequestro patrimonial de bens feito pela Polícia Federal (PF), nesta segunda-feira (23).
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Iniciada em setembro de 2017, após três grandes apreensões seguidas no Porto de Paranaguá de cargas de cocaína escondidas em contêineres que embarcariam para Holanda e Espanha, a investigação, em parceria com a Receita Federal (RF), bloqueou até agora R$ 1 bilhão de bens dos investigados – valor que é quase o dobro do recorde anterior de R$ 666 milhões e que ainda pode aumentar.
Como exemplo do poder financeiro da organização, só uma das 37 aeronaves apreendidas pela operação custa US$ 20 milhões (o equivalente a quase R$ 108,4 milhões). Só uma mansão apreendida na Espanha valia 2 milhões de euros, cerca de R$ 12,8 milhões. Em apreensão nesta segunda em uma mansão em Lisboa, Portugal, foram encontrados 11 milhões de euros no porta-malas de uma van – o equivalente a quase R$ 70 milhões. Já em Paranaguá, a PF apreendeu nesta segunda mais 200 kg de cocaína, totalizando 50 toneladas apreendidas desde o início da investigação.
Maior operação da PF no ano, a Enterprise cumpre 215 mandados judiciais expedidos pela 14ª Vara Federal de Curitiba em dez estados: Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Minas Gerais, Rio Grande do Norte, Bahia e Pernambuco. São 66 mandados de prisão e 149 de busca. No Paraná, além de Paranaguá, os mandados são cumpridos em Curitiba, Guaratuba, Matinhos e São José dos Pinhais. Além da PF e RF, a operação conta com apoio da Interpol e da Europol, a agência europeia de investigação criminal. Participaram da ação 670 agentes da PF e 30 da RF.
De acordo com o delegado Sérgio Luís Stinglin de Oliveira, chefe do Grupo de Investigações Sensíveis da PF que coordenou a operação, a organização criminosa era muito bem estruturada, dividida em sete grupos, liderados por um brasileiro que mora na Europa. Em Paranaguá, atuavam dois grupos: um no armazenamento e outro na infiltração das cargas de cocaína nos contêineres.
“Paranaguá é o grande centro da organização no Paraná. O dinheiro movimentado pelo envio de cocaína pelo porto fez pessoas enriquecerem muito rápido. De uma hora para outra, gente que não tinha nada apareceu com quatro, cinco carros importados, construindo mansões à beira-mar no litoral do Paraná”, enfatiza o delegado.
A quadrilha estava dividida em mais cinco grupos com funções específicas no Brasil. Em São Paulo, um grupo era responsável pelo transporte da droga em caminhões. Em São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, outro grupo cuidava do transporte aéreo da cocaína vinda da Bolívia. Já no Rio Grande do Norte agiam dois grupos: um fazia o envio de cocaína para a Europa por barcos pesqueiros e outro pelo enviava droga escondida em cargas de frutas. O esquema ainda tinha um grupo responsáveil por transportar a droga do Mato Grosso e Mato Grosso do Sul para o Paraná e São Paulo.
O alvo da PF desde o início da investigação é não só a apreensão de droga, mas principalmente barrar a lavagem de dinheiro. “A lavagem de dinheiro deles é muito sofisticada. Eles conseguem colocar valores no mercado em empresas grandes, na compra e venda de imóveis e veículos. Eles botam dinheiro inclusive em empresas em recuperação judicial, porque o importante para eles é lavar o dinheiro, não o lucro com essas empresas”, enfatiza o delegado Oliveira.
O coordenador nacional de Repressão a Drogas, Armas e Facções Criminosas da PF, delegado Elvis Secco, ressalta que, mesmo muito expressiva, a apreensão de 50 toneladas de cocaína pouco atrapalhou a expansão do grupo. “Alguém poderia perguntar ‘se a polícia apreendeu 50 toneladas de cocaína, acabou a organização criminosa’. Mas não. Nem riscou a estrutura deles, que continuaram enriquecendo, estendendo seus braços, comprando dezenas de aeronaves com dinheiro em espécie. Por isso tínhamos que atingir a lavagem de dinheiro e os líderes da organização”, reforça o delegado Secco.
Balanço da operação
A Polícia Federal ainda contabiliza os resultados da Operação Enterprise. Nesta quinta, a corporação brasileira, junto com a Europol, vai apresentar um balanço de tudo o que foi apreendido e recuperado judicialmente no Brasil e em outros países. Segundo Secco, parte destes valores apreendidos devem ser investidos no reequipamento da própria PF.
Para atingir economicamente o grupo, a operação cuidou com um trabalho minucioso da Receita Federal, que envolveu técnicos de diversas áreas, como inteligência, repressão ao contrabando e descaminho, fiscalização aduaneira e fiscalização de tributos internos. “As organizações criminosas do tráfico de drogas estão cada vez mais complexas, atuando nos moldes de lavagem de dinheiro da corrupção, criando empresas de fachada, utilizando laranjas e esquemas grandes de lavagem de dinheiro e ocultação”, explica chefe do escritório de Pesquisa e Investigação da 9ª Região da Receita Federal, Edson Shinya Suzuki, que apontou a importância da troca de informações com a PF. "O trabalho conjunto foi a chave desta operação", disse.
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